terça-feira, 26 de junho de 2012

A RESILIÊNCIA DO PROFESSOR... DE EDUCAÇÃO FÍSICA

Hugo Norberto Krug

Considerações iniciais a respeito da resiliência do professor... de Educação Física
Considerando que este ensaio faz parte do espaço formativo do GEPEF intitulado “Cenas e cenários sobre formação e prática pedagógica de professores de Educação Física”, o mesmo tem como objetivo abordar a importância do desenvolvimento da resiliência para a atividade do professor... de Educação Física.
        Neste direcionamento citamos Yunes (apud VARGAS, 2009) que coloca que o estudo do fenômeno da resiliência é relativamente recente. Vem sendo pesquisado há cerca de trinta anos, mas apenas nos últimos cinco anos os encontros internacionais tem trazido este constructo para discussão. A autora citada destaca que a expansão do conceito de resiliência ainda mostra-se reduzida ao contexto acadêmico e científico, sendo que, neste cenário, seu estudo não se apresenta consolidado.
        O seu uso no Brasil ainda se restringe a um grupo bastante limitado de pesquisadores de alguns círculos acadêmicos. Muitos profissionais da área da Psicologia, da Sociologia ou da Educação nunca tiveram contato com a palavra e desconhecem o seu uso formal ou informal, bem como sua aplicação em quaisquer das áreas da ciência (YUNES apud VARGAS, 2009).
        Aplicado às Ciências Humanas, mais especificamente às áreas da Psicologia e/ou Educação, o conceito evoluiu e adquiriu características que parecem permitir avaliar indivíduos de acordo com as suas possibilidades de enfrentamento de adversidades (VARGAS, 2009).
        Entretanto, existem duas gerações de pesquisadores sobre o tema. A primeira teve interesse em descobrir os fatores protetores que estão na base da adaptação positiva em crianças que vivem em condições de adversidade. A segunda expandiu o tema em dois aspectos: a noção de processo, que implica a dinâmica de fatores de risco e de resiliência, permitindo ao indivíduo superar a adversidade, bem como buscar modelos para promover a resiliência de forma efetiva (YUNES apud VARGAS, 2009).
        Mas, para um melhor entendimento desta temática precisamos abordar algumas questões, entre elas as descritas a seguir.

O conceito de resiliência
        De acordo com Junqueira e Deslandes (2003, p.228) resiliência é entendida como uma “reafirmação da capacidade humana de superar adversidades e situações potencialmente dramáticas”. Ou seja, o indivíduo resiliente é aquele capaz de superar frustrações e/ou situações de crise e de adversidades.
        Segundo Souza (2009) a palavra resiliência, do verbo latino resílio (re+salio) “saltar como uma mola, uma bola de borracha, voltar ao ponto de partida”, remete diretamente para a idéia de elasticidade, flexibilidade, característica essa que é fundamental para educadores e educandos e que pode ser desenvolvida.
        Uma definição mais ampla sobre resiliência: a) resiliência não é um processo estanque; b) resiliência não é oposto de fator de risco; c) desenvolver resiliência não é o mesmo que superação de vivências traumáticas; d) resiliência é como um “banco de dados” que protege o indivíduo; e) o conceito de resiliência nos mostra o ser humano como capaz de superar adversidades; e, f) cada um de nós tem uma capacidade psíquica particular para o enfrentamento dos problemas da vida (BRASIL, 2008).
        Já, Grotberg (apud VARGAS, 2009), considerando o contexto escolar, define resiliência como a capacidade humana para enfrentar, vencer e ser fortalecido ou transformado por experiências de adversidade. Assim, segundo Vargas (2009), percebemos que o significado de resiliência e sua definição tem sido objeto de debates durante anos. Todavia, parece haver consenso sobre a possibilidade de adaptação positiva em meios adversos e com riscos significativos.

O conceito de resiliência na educação
        Conforme Souza (2009) resiliência na educação é:

A possibilidade de desenvolver capacidades necessárias para se sobrepor às adversidades cotidianas, superando-as e transformando-as e transformando-se, com diferentes níveis de construção, de uma vida pessoal e profissional significativa, saudável e construtiva (p.4).

        A autora ainda acrescenta que podemos pensá-la como uma noção que pretende consubstanciar conceitualmente uma especificidade estrutural do desenvolvimento humano, que se traduz na capacidade que denotam certas pessoas, grupos ou comunidades para fazer face ou mesmo ultrapassar os efeitos desestruturantes que seriam muito prováveis em conseqüência da exposição a certas experiências.

A importância do desenvolvimento da resiliência para a atividade do professor
        Souza (2009) coloca que todos temos consciência das dificuldades atuais inerentes ao ato educativo, particularmente, quando as áreas de formação são caracterizadas por uma pluridimensionalidade antropológica, cultural, ética e axiológica, que tornam o processo de elaboração de um corpo teórico específico e a sua partilha como uma estratégia simultaneamente complexa e sedutora, mas difícil de lavar a cabo.
        A autora salienta, sem negligenciar a importância do contributo que os referenciais conceituais, metodológicos e estratégicos e os valores que os sustentam poderão fornecer ao professor, importa, sobretudo, que este seja capacitado para reconstruir ao longo de sua trajetória pessoal e profissional uma capacidade potencial para um desempenho adequado e para estar preparado para intervir no sentido da inovação e da transformação, nos seus diversos contextos. Daí a necessidade do professor desenvolver esta capacidade.

Como desenvolver a capacidade de resiliência
        Para Souza (2009) a personalidade do ser humano pode já conter as ferramentas para isso. As pesquisas apontam que a resiliência é o resultado de características particulares associadas ao comportamento sociável, temperamento, caráter e inteligência. Estas pesquisas postulam que todo o ser humano nasce com uma capacidade inata para isso, através da qual pode desenvolver a sua capacidade de adaptação. É esta capacidade que lhe possibilita, mesmo em presença de graves problemas familiares, em nível comunitário, ou outro, ser capaz de superar as desvantagens e transformar uma trajetória de risco em resiliência, apresentando-se como um adulto competente, confiante e atencioso.
        Acrescenta que a resiliência contém, assim, um componente diferencial, que explica a razão porque certos indivíduos, em circunstâncias aparentemente idênticas, lidam com a adversidade de um modo mais adequado do que outros. Será também, suscetível de evolução, podendo por isso ser ativada mediante certas intervenções apropriadas, nomeadamente em contextos educativos.

Considerações finais a respeito da resiliência do professor... de Educação Física
Para finalizar é interessante citar Vargas (2009) que diz que é importante destacar que as adversidades estão inseridas na vida humana e as descobertas sobre a resiliência parecem indicar caminhos para um desenvolvimento mais positivo diante dos enfrentamentos das dificuldades. Salienta que pelo fato de propor um estado de fortalecimento individual, de melhora após o embate, a resiliência pressupõe uma inovação em relação ao desenvolvimento humano. Assim, a resiliência já se apresenta, no contexto escolar, como uma habilidade psicológica muito importante e que merece ser incentivada, sendo um processo de adaptação aplicável ao desenvolvimento em ambientes favoráveis ou adversos.
Ainda Vargas (2009) sugere que o estudo da resiliência no contexto escolar, de forma geral, passe a ser abordado no contexto específico das disciplinas escolares.
        Assim, por todas estas considerações foi que consideramos importante abordar o desenvolvimento da resiliência para a atividade do professor... de Educação Física.

Referências
JUNQUEIRA, M.F.P.S.; DESLANDES, S.F. Resiliência e maus tratos à criança. Cadernos de Saúde Pública, Rio de Janeiro, v.19, n.1, p.227-235, jan./fev., 2003.

SOUZA, C.S. A arte da superação. Jornal Extra Classe, Porto Alegre, a.14, n.133, p.4-6, mar., 2009.

VARGAS, C.P. O desenvolvimento da resiliência pelas atividades da escola. Revista Espaço Acadêmico, n.101, p.109-115, out., 2009. Disponível em http://www.periodicos.uem.br/ojs/index.php/EspacoAcademico/index . Acessado em 15/05/2011.

Um comentário:

  1. Partindo do conceito de resiliência, como foi destacado no texto como uma " reafirmação da capacidade humana de superar adversidades e situações potencialmente dramática", fica uma dúvida, como os acadêmicos em situação de Estágio Supervisionado Curricular, conseguem adquirir essa capacidade de se tornar um indivíduo resiliente, se em sua formação inicia não são oportunizados momentos-espaços para exercer e adquirir essa capacidade de transformação de situações adversas, as quais estão presente na práxis diária?

    Fabiana

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