terça-feira, 26 de junho de 2012

A GESTÃO DE AULA NA EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR

Hugo Norberto Krug

Considerações iniciais a respeito da gestão de aula na Educação Física Escolar
Considerando que este ensaio faz parte do espaço formativo do GEPEF intitulado “Cenas e cenários sobre formação e prática pedagógica de professores de Educação Física”, o mesmo tem como objetivo abordar a gestão de aula na Educação Física Escolar.
Neste direcionamento de temática citamos Arends (2005) que coloca que as pesquisas sobre gestão de aula classificam-se em três orientações:
1) Ênfase no indivíduo – Quando entende que os problemas de gestão de aula relacionam-se a questões psicológicas dos alunos a aos desvios de comportamentos manifestados individualmente. Recomenda intervenções específicas e procedimentos disciplinares;
2) Ecologia na sala de aula e processo de grupo – Quando entende que uma boa gestão de aula tem como principal função planejar e dirigir atividades grupais bem concebidas e que fluam sem problemas, ou seja, a gestão de aula depende da capacidade de planejamento e interação no grupo do docente; e,
3) Ensino eficaz – Quando há uma relação de rendimento do aluno e envolvimento desse nas atividades, portanto enfatiza-se a importância da ocupação e envolvimento do aluno nas atividades propostas.
        Ainda Arends (2005) ao analisar estudos feitos por Julie Stanford concluiu que os bons gestores têm procedimentos que regem as conversas, a participação, o movimento, as mudanças nos trabalhos e o que fazer nos tempos mortos das aulas; dão explicações claras; coibem comportamentos perturbadores rapidamente; acompanham cuidadosamente o progresso dos alunos.
        Mas, para um melhor entendimento desta temática precisamos abordar algumas questões, entre elas as descritas a seguir.

O conceito de gestão de aula
        Para Arends (2005) gestão de aula é conceituada como “os modos pelos quais os professores organizam e estruturam suas salas de aula, com o propósito de maximizar a cooperação e o envolvimento dos alunos e diminuir o comportamento disruptivo” (p.555).
        Já segundo Perrenoud (2000) gestão de aula é a organização e a direção de situações de aprendizagem.

As ações de gestão de aula
        Arends (2005) destaca algumas ações do professor que afetam e estão vinculadas à gestão de aula: 1) Planejar detalhadamente as aulas; 2) Atribuir tempo às atividades de aprendizagem; 3) Fazer considerações acerca da utilização do espaço da aula; 4) Ajudar os alunos a trabalhar em grupo; 5) Atentar-se à motivação dos alunos; e, 6) Proporcionar um discurso aberto e honesto.

Os procedimentos de gestão de aula
        Arends (2005) recomenda atenção a três procedimentos de gestão de aula. Estes são os seguintes:
1) Gestão preventiva – Consiste em planejar regras e procedimentos antecipadamente que serão aplicadas nas aulas. Os procedimentos são as maneiras de conduzir as atividades em aula. As regras são afirmações que definem o que os alunos podem e não podem fazer. Alguns itens da gestão preventiva são:
a) Ensino das regras e procedimentos – É importante que o professor faça os alunos compreenderem o motivo e a fundamentação moral ou prática de cada regra estipulada. Os gestores eficazes utilizam, principalmente, a primeira semana do ano letivo para ensinar as regras e procedimentos;
b) Prevenção de comportamentos desviantes – Deve-se manter o fluxo das atividades e não fragmentar ou repetir muito as instruções, pois se quebra a tranqüilidade e o ritmo da aula;
c) Orquestração das atividades em períodos instáveis – No inicio da aula alguns alunos podem fazer a chamada ou outras tarefas administrativas para liberar o professor, ele pode estabelecer rituais que indicam aos alunos que o trabalho sério começará. São os períodos de transições de atividades que os comportamentos perturbadores ocorrem e um bom planejamento aponta quais serão esses momentos evitando-os antecipadamente. O término da aula também pode gerar perturbações, portanto é recomendável dar alertas indicando que o fim da aula está próximo, deixar tempo suficiente para que os alunos concluam as atividades finais e ensinar a eles que somente podem deixar o ambiente de aula quando o professor disser e não quando bater o sinal; e,
d) Desenvolvimento da responsabilidade dos alunos – Para que a responsabilidade dos alunos se desenvolva o professor dever proporcionar tarefas com objetivos, prazos e procedimentos claros, deve comunicar a tarefa de forma clara, monitorar o trabalho do alunado para ter consciência do seu progresso, deixar os alunos corrigirem as suas próprias tarefas recebendo assim retornos rapidamente, ser claro nas instruções de conteúdos e fornecer retornos aos alunos, pois a base para melhorarem vem desse feedback;
2) Gestão de comportamento inadequado e perturbador – É importante identificar o comportamento e coibi-lo sem interromper a aula fazendo a sobreposição. Os comportamentos disruptivos e indisciplinados que necessitam ser trabalhados nos alunos não devem ser o mote da inetrvenção e muito menos devemos apenas ser controladores do comportamento. As indisciplinas devem ser coibidas sem perturbar o andamento da aula, porém a energia a ser dispendida na dimensão atitudinal será no planejamento e implemento de atividades que possibilitem o desenvolvimento de atitudes positivas. Na lógica da dimensão atitudinal a ação pedagógica visando o desenvolvimento de atitudes deve ser feita de forma planejada e ininterrupta; e,
3) Exibição de confiança e influência – Para isto o professor precisa demonstrar confiança na voz e na postura durante as aulas.

A gestão de aula em Educação Física
        A gestão de aula em Educação Física é apresentada por Gallahue e Donnelly (2008) como um bom controle da turma em três dimensões. São elas: 1) A organização dos alunos para a aprendizagem (formação de grupos; padronização das técnicas); 2) O uso dos materiais (distribuição e coleta); e, 3) O aproveitamento do tempo (maximizar o tempo de aprendizagem).
        Para Gallahue e Donnelly (2008) a organização é a característica primordial do bom gestor de aula em Educação Física. É preciso organização para o processo de planejamento. E, é preciso organização no decorrer da aula. Protocolos de aula (rotinas e procedimentos) e regras para o bom comportamento. Estes são dois componentes da gestão eficaz de sala de aula.
        Protocolos são procedimentos a serem seguidos em um evento recorrente nas aulas tais como: beber água, usar o banheiro, dispensar as roupas tiradas pelos alunos durante a aula, iniciar e finalizar atividades, formar pequenos ou grandes grupos.
        As regras para o bom comportamento e as sanções devem ser formuladas em conjunto para realçar o sentimento de apropriação e comprometimento. As regras devem ser positivas, simples e concisas e as sanções claras. Ao formular as regras devemos evitar o uso do “não” para reforçar o caráter positivo das regras. As regras e as sanções estipuladas tornam os alunos mais seguros durante as aulas por saber qual é o padrão de comportamento esperado pelo professor e contribuem para a auto-disciplina dos alunos.
        Gariglio (2004) reconhece a maior complexidade e riqueza das aulas de Educação Física acerca da gestão de aula.
        Já para Gallahue e Donnelly (2008) algumas peculiaridades das aulas de Educação Física nos impedem de fixarmos um padrão de gestão de aula: são elas: a) Não lidamos com uma turma o dia todo e sim com várias em uma parcela do dia; b) O ambiente físico das aulas (pátio e quadra) suscita comportamentos diferentes dos vistos em sala de aula; e, c) Cada turma comportar-se-á conforme os padrões estabelecidos pelo professor da sala.
        O autor destaca que o professor de \educação Física, pode precisar modificar seus métodos para adquirir e manter o controle da turma.

Considerações finais a respeito da gestão de aula na Educação Física Escolar
        Para finalizar é interessante citar Perrenoud (2000) que diz que mesmo levando em consideração tudo o que foi mencionado anteriormente, é pertinente destacar que a gestão da aula, ou a organização e direção de situações de aprendizagem, precisa se valer de criatividade ao propor tais situações para que o aprendizado ocorra para todos. Pois para alguns alunos, a explicação e exercícios posteriores não são o suficiente para garantir o aprendizado. Logo, o docente deve adotar modelos centrados no aprendiz. Nesse sentido, a gestão de aula torna-se o desafio do professor dialogar com as necessidades do grupo no qual atua e não simplesmente controlar os comportamentos dos alunos a fim de garantir a transmissão do conteúdo. Alguns aspectos individuais do alunado precisam ser considerados pelos docentes, pois interferem nas situações de aprendizagem e no modo como devemos gerir a sala de aula: humor momentâneo; disponibilidade momentânea; possibilidade de compreensão conforme seus recursos intelectuais; capacidade de concentração; interesse; relação da aula com seus saberes; realidade; e, imaginação. As situações de aprendizagem também precisam ser aplicadas sempre moldando-se à necessidade e à capacidade de cada aluno.
        Assim, por todas estas considerações foi que consideramos importante abordar a gestão de aula na Educação Física Escolar.

Referências
ARENDS, R. Aprender a ensinar. Lisboa: McGraw-Hill, 2005.

GALLAHUE, D.L.; DONNELLY, F.C. Educação Física desenvolvimentista para todas as crianças. 4. ed. São Paulo: Phorte, 2008.

GARIGLIO, J.A. A cultura docente de professores de Educação Física de uma escola profissionalizante: saberes e práticas profissionais em contexto de ações situadas, 2004. Tese (Doutorado) – Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2004.

PERRENOUD, P. Dez novas competências para ensinar: convite à viagem. Porto Alegre: Artmed, 2000.

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