segunda-feira, 30 de abril de 2012

Oficina de Produção de Textos: A AVENTURA DE LER E ESCREVER! - TEXTO Nº 04

EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR E O TEATRO EDUCAÇÃO: POSSIBILIDADES DE UM DIÁLOGO SENSÍVEL PARA A EDUCAÇÃO BÁSICA

Marcele da Silva do Nascimento

O ensaio acadêmico cumpre com os objetivos de difundir o que as pesquisas acadêmicas corroboram para a práxis docente em Educação Física no contexto escolar. O trabalho apresenta os resultados e impressões de um relato de experiência, ou um “caso” que propõe alternativas metodológicas para esta área do conhecimento, no que tange para dialéticas capazes de [re]significar a prática docente no curso de pedagogia do Centro Universitário Franciscano (UNIFRA).
Para Ortega y Gasset (1983) o ensaio acadêmico é um texto literário breve, situado entre o poético e o didático, que expõe ideias, críticas e reflexões morais e filosóficas a respeito de certo tema.
Neste sentido, corrobora com a divulgação do que há de mais atual em alternativas metodológicas para esta área do conhecimento, bem como sua base legal no âmbito: sistemas de ensino convencional.
Consiste, portanto, na defesa ou crítica a um ponto de vista pessoal e subjetivo sobre um tema (humanístico, filosófico, político, social, cultural, moral, comportamental, educacional, etc.), sem que se paute em formalidades como documentos ou provas empíricas ou dedutivas de caráter científico. Embora busca-se um diálogo com teóricos para maior credibilidade das impressões relatadas a experiência busca o aporte teórico capaz de confirmá-la ou refutá-la.
            Com o intuito de conhecer como se constitui o contexto escolar e evidenciar as análises sobre esta realidade, em específico nos planos de Educação Física dos pedagogos, que entre suas incumbências está: aulas de Educação Física para o “currículo” ou anos iniciais do ensino fundamental, conforme Diretrizes Curriculares Nacionais para a educação básica (BRASIL, 2001).
            Portanto, os resultados desta produção escrita buscam também relatar as experiências vivenciadas em uma oficina ministrada por uma Atriz Bacharel em Artes Cênicas, Licencianda em Teatro e acadêmica da Especialização em Educação Física Escolar pela Universidade Federal de Santa Maria em uma pesquisa vinculada ao Centro Universitário Franciscano (UNIFRA), com ênfase na arte teatral, com vistas à alfabetização estética da linguagem: teatro, como recurso didático metodológico na busca de uma sensibilidade corporal, capaz de nortear a Educação Física em uma perspectiva distante da atual: uma mera atividade física com uma bola em uma quadra de esportes.
            Oportunizar o contato e o conhecimento da realidade da linguagem cênica aos professores do ensino fundamental, configura-se numa ação pedagógica com vistas à atuação docente dos pedagogos, nesta fase da escolarização: anos iniciais do ensino fundamental, compreendido entre o 1º ao 5º anos do ensino fundamental, significativas para educandos e educadores. Em outros termos, [re]significar a prática desta área do conhecimento nos cursos de Pedagogia: pilares da educação básica em nível fundamental.
            Atualmente, a educação nacional é um dos temas em constante discussão pela mídia e sociedade brasileira em decorrência dos baixos índices obtidos pelos estudantes da educação básica e superior nas avaliações nacionais como o IDEB (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica), ENEM (Exame Nacional do Ensino Médio) e ENADE (Exame Nacional de Desempenho de Estudante).
   Estes dados estão relacionados com a formação de professores, que como profissionais da educação, em especial os pedagogos, em decorrência da unidocência necessitam de uma formação pautada em princípios indissociáveis da teoria e prática.
Nesta perspectiva, a proposta de aproximar Pedagogia, Teatro e Educação Física, cumpre com os pressupostos de alfabetizar os futuros professores acerca da linguagem cênica para que estes possam cumprir com o que prevê a Lei de Diretrizes e Bases para a Educação Nacional-LDB 9394/96 no que tange para o Teatro como uma área de conhecimento específico no ensino das artes e como um componente curricular obrigatório nos diversos níveis da Educação Básica (BRASIL, 2001). Com interfaces na atuação em Educação física, como preveem os PCNs para a educação básica.
            Deste modo, o objetivo do trabalho caminha para a alfabetização acerca da linguagem cênica para os Pedagogos em formação, visto que uma de suas atribuições é o Ensino das artes: linguagem do Teatro e o ensino da Educação Física como sinalizam os PCNs para a educação básica.
            Com o intuito de alfabetizar e oportunizar um diálogo entre educação e teatro, estruturou-se duas oficinas para os acadêmicos do curso de Pedagogia do Centro Universitário Franciscano (UNIFRA) no Espaço Cultural Victorio Faccin, sede do Teatro Universitário Independente (TUI), em Santa Maria, RS, no mês de abril do ano de 2011, na tentativa de sensibilizar para este novo olhar nesta ciência da ação.
Para Freire (1987) a adesão a esta possibilidade exige esforços e estudos, pois em nada ela valerá se apresentada fora do contexto dos educandos, fato que fez com que nosso estudo partisse do macro atribuições do Pedagogo, para o micro: aulas de Educação Física. Como tentativa de síntese de todo o estudo acerca da alfabetização cênica em uma perspectiva capaz de renovar esta ciência fundamental ao desenvolvimento do ser biopsicossocial.
O trabalho se desenvolveu por meio da utilização das diferentes linguagens, a elaboração, comunicação e expressão das elaborações, bem como o desenvolvimento dos princípios éticos, estéticos, políticos e de identificação de quem se é e das características de seu grupo de pertença cultural (neste caso – professores em formação inicial ou continuada).
Neste entendimento, as contribuições também atendem Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) para o Ensino Fundamental no que tange para a alfabetização em teatro e atribuições dos pedagogos:como as aulas de Educação Física.
Percebe-se em “Locus” os seres humanos biopsicossociais se desenvolvem no cotidiano escolar, se “provocados os estímulos significativos, como a descoberta corporal, bem como as problemáticas que insurgem ao longo desta pesquisa. Pois, é no ambiente educativo por meio de atividades planejadas e sistematizadas, com ênfase no ato de brincar, de jogar e construir atividades coletivamente, que os mesmos fazem assimilações, desenvolvem sua criatividade, habilidades e motricidades conscientes de um corpo, um grupo de corpos e sua disposição em um espaço pré-determinado: contexto sala de aula, condições determinantes aos processos de ensino e aprendizagem nesta área do conhecimento, com caráter interdisciplinar.
Para os propósitos deste trabalho utilizou-se uma abordagem qualitativa, centrada em atividades oriundas de técnicas teatrais como o jogo dramático, a improvisação e o Teatro do Oprimido, princípios propostos por Spolin (1987) e Boal (1996), em dois encontros com 4 horas/aula cada, em um teatro, para 14 formandos em Pedagogia.
            As técnicas utilizadas fundamentam-se em teóricos do teatro, como Spolin (1987) e Boal (1996) fundidos com pressupostos e fundamentos do teórico Paulo Freire (2000) no que tange para uma pedagogia da libertação que caminhe para a autonomia e ruptura com o atual sistema de ensino vigente em nosso país e parte da América Latina, em especial, nos países subdesenvolvidos.
            Considera-se esta ação parte de um movimento nacional que caminha para a melhoria da educação básica no Brasil.
            A afirmativa explicita a função dos pesquisadores das ciências da educação e sua relevância na formação dos futuros pedagogos. A inserção deste nas escolas cumpre com o caráter de extensão das Instituições de Ensino Superior (IES) aproximando assim o que se discute e se estuda na formação às turmas de educadores, como neste caso por meio de atividades como o jogo dramático, o jogo infantil e a improvisação na perspectiva de Spolin (1987).
É por meio da sensibilização para o “corpomente”, que buscou-se contribuir para o esclarecimento acerca das dimensões que constituem o ser humano, por futuros educadores que buscam  uma escola que atinja o papel de transformadora da vida de seus educandos, bem como [re]signifique as práticas escolares na atualidade.
Por fazer parte da formação dos pedagogos, o caráter lúdico nos processos de ensino e aprendizagem, entremeado por brincadeiras e jogos, por serem os expoentes da ludicidade presentes no cotidiano de cada acadêmico, e, para Teixeira (1995), o lúdico traz  consigo para a sala de aula as vivências que  foram determinantes neste processo.
Hoje, considera-se que as maiores contribuições para a educação básica por meio de uma metodologia pautada no teatro origina-se em estudos da norte-americana Spolin (1987), que, esclarece as inter-relações entre duas dimensões: Teatro e escola, por meio da experimentação do jogo, da improvisação e da dramatização como formas naturais de expressão humana.
            Esta ferramenta oriunda do Teatro, enquanto ciência da ação estética, o jogo, caracteriza-se pelo ato de brincar, explorar as possibilidades com o corpo e permite-nos transmitir ideias, sentimentos na execução ou no ato de jogar e metodologias revisitadas. Portanto, o jogo por apresentar regras pré-determinadas familiariza os jogadores (neste caso futuros professores) a utilização do teatro com fins pedagógicos capaz de ordenar a ação, para explorá-la e nela intervir no que tange para uma nova perspectiva em Educação física: a busca pela criticidade.
            Para Boal (1996), dramaturgo brasileiro, o teatro oportuniza vivenciar e visualizar na cena o desenvolvimento de um processo dialético, em que a ação deve ser negada, [re] significada, contextualizada, conservada em alguns aspectos e melhorada. Portanto, o teatro, apresenta-se como uma alternativa metodológica que busca a sensibilização para uma leitura de mundo crítica, reflexiva e capaz de humanizar os homens, elevando-os a agentes da ação e de sua transformação, pertinente à transformação necessária à prática da Educação física escolar.
            A aproximação destes teóricos, Spolin (1987) e Boal (1996) neste entendimento, com base na experiência profissional apresenta possibilidades de mudanças qualitativas, em um processo sensível que pode vir a contribuir para o exercício da docência dos pedagogos: cientistas da educação comprometidos com o desenvolvimento global dos envolvidos na pesquisa.
            Para Freire (1980) somente outra maneira de agir e de pensar pode levar-nos a viver outra educação que não seja mais o monopólio da instituição escolar e de seus professores. Este pensamento corrobora com a ideia apresentada pelo Teatro, pois oportuniza uma nova maneira de olhar o mundo, norteada por princípios éticos, críticos, mas sensíveis à libertação, ou seja, a arte restitui ao homem a sua dimensão social, criativa e coletiva, sem sobrepor sua autonomia e seu desenvolvimento pleno.
            O contato com os futuros professores, envolvidos em um processo de alfabetização estética com interfaces na Educação Física, nos leva a concluir que somente com uma formação centrada no ensino da Educação Física Escolar aliada ao ensino das artes e suas múltiplas linguagens, como o teatro corroboram  para o entendimento etimológico e epistemológico dos fundamentos desta ciência humana que depende da articulação com caráter unidocente, característica primordial aos profissionais da educação básica em nível fundamental, em especial, os anos iniciais do ensino fundamental: atribuições pertinentes aos pedagogos em formação inicial e/ou continuada.
            Se a prática pedagógica em Educação Física é uma área do conhecimento relacionada ao saber fazer e compreender, é de extrema relevância uma formação sensível que dialogue com a arte, neste caso o teatro, para que os pedagogos compreendam o que é, como é e com quais finalidades se faz teatro na escola na disciplina curricular (componente curricular) Educação Física no desenvolvimento global dos seres humanos.
            Não existe a garantia palpável de que os envolvidos neste processo, intitulado, Pedagogia da arte e do movimento: Teatro e Educação Física, compreendam a complexidade da linguagem cênica e da linguagem corporal, mas espera-se contribuir para a formação dos futuros formadores sensíveis a necessidade de romper com o status de entretenimento da Educação Física na escola básica, para que estes alcancem a dimensão dialética da transformação do eu, do coletivo, de nossas inter-relações na busca do humano e das possibilidades de qualificação de nosso processo educativo em Educação Física Escolar. 

REFERÊNCIAS
BOAL, A. O arco-íris do desejo. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1996.
BRASIL. Conselho Nacional de Educação. Lei n. 9.394/96 – Lei De Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Apresentação Carlos Roberto Jamil Cury. 4.ed. Rio de Janeiro: DP&A, 2001.

BRASIL. Lei n. 9.394, de 20/12/1996. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional.

FREIRE, P. Conscientização. Teoria e prática da libertação. Uma introdução ao pensamento de Paulo Freire. São Paulo: Moraes, 1980.

SPOLIN, V. Improvisação para o teatro. São Paulo: Perspectiva, 1987.
ORTEGA Y GASSET, J. Obras completas. Revista de Occidente, Madrid, V. I-XII, 1983.


TEIXEIRA, C.E.J. A ludicidade na escola. São Paulo: Loyola, 1995.

2 comentários:

  1. Após leitura do texto "EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR E O TEATRO EDUCAÇÃO: POSSIBILIDADES DE UM DIÁLOGO SENSÍVEL PARA A EDUCAÇÃO BÁSICA" de autoria da colega Marcele, quero deixar algumas contribuições, primeiramente parabenizar pela oficina que foi realizada com formandos do curso de pedagogia, porém gostaria acredito que se na formação inicial desses formandos não tiver espaços formativos como este, mas de uma forma consolidada, acredito que muito pouco irão procurar na sua formação continuada. E como tu trouxe FREIRE, como ele nos revela, há que se ter uma reflexão crítica acerca dessa formação,para que a mesma tenha esse sentido formativo.

    ResponderExcluir
  2. No Brasil a educação caminha com “passos de tartarugas”, mas mesmo assim percebemos o pouquinho que vem evoluindo, então para um pedagogo abranger a unidocência e o teatro, se trona muito complexo porque é muitas atribuições de caracteres tão diferentes para uma pessoa só. Sendo com que poucos pedagogos conseguem dar conta de todos estes conteúdos para os alunos, sendo o aluno o único prejudicado. Pois não é o professor o culpado, pela falta de preparação de tantos conteúdos e sim a administração educacional onde acham que o professor de séries iniciais consegue dar conta de todos os conteúdos com qualidade. O grande prejudicado desta historia é o aluno, pois é ele quem fica com uma formação fragmentada, onde a idade adequada para desenvolver certas habilidades é nesta fase e não se é desenvolvida e com isso este aluno leva suas fragmentações para o resto de sua vida. Verônica)

    ResponderExcluir