O PROFESSOR REFLEXIVO INTERLIGADO COM A PRÁTICA PEDAGÓGICA EM EDUCAÇÃO AMBIENTAL
Ana Paula Facco Mazzocato
Iniciou-se o terceiro milênio com o enfrentamento de um vasto número de problemas ambientais, que ameaçam não só o equilíbrio ecológico do planeta e a biodiversidade, mas sim a vida humana. Nunca se falou tanto em preservação ambiental quanto na atualidade. A preocupação com o ambiente tomou conta da mídia, das escolas e até mesmo das indústrias. Mas, apesar de todo o embate, a natureza ainda está sofrendo conseqüências por causa da ação do homem, e os efeitos desses desgastes já podem ser sentidos no dia a dia.
Ao longo dos anos, as relações do homem com o ambiente foram impregnadas de uma visão de superioridade e domínio, onde a natureza era vista somente como recurso infinito. Entretanto, com o passar dos tempos, o homem foi percebendo que essas atitudes estavam o levando a situações desastrosas, e sentiu-se ameaçado, inclusive pela extinção da própria espécie humana.
Diariamente as pessoas são submetidas a um verdadeiro bombardeio de informações sobre problemas ambientais que estão ocorrendo no Brasil e no mundo. A mídia fala do efeito estufa, da pesca predatória, da destruição da camada de ozônio, da contaminação das águas, das secas, dos desmatamentos, das queimadas, da poluição do ar, dos grandes lixões, da erosão, das espécies em extinção, das enchentes, e de uma infinidade de outros problemas observados cotidianamente (QUINTAS, 2001).
Diante da situação e de um longo processo histórico surge a Educação Ambiental. Lindner (2004) acredita na educação ambiental como uma nova filosofia de vida e que deve permear o fazer científico e acadêmico. Não como uma educação apenas ecológica que busca, no conhecimento das relações entre seres vivos e seu ambiente natural, explicações parciais para fatos observáveis.
Em 27 de abril de 1999 foi instituída a Lei n° 9.795 Política Nacional de Educação Ambiental (PNEA) que conforme o seu Art. 2° diz “a educação ambiental é um componente essencial e permanente da educação nacional, devendo estar presente, de forma articulada, em todos os níveis e modalidades do processo educativo, em caráter formal e não-formal”. Ainda conforme o parágrafo III do Art. 4° dessa mesma lei, um dos princípios básicos da educação ambiental é “o pluralismo de idéias e concepções pedagógicas, na perspectiva da inter, multi e transdisciplinaridade.
Sob esse viés, cabe acrescentar que, segundo os Parâmetros Curriculares definidos pelo MEC em 1998, o meio ambiente é incluído como um dos temas transversais do ensino formal, devendo estar presente, em todas as disciplinas do ensino fundamental. Nesse sentido, pela educação os educandos conseguem perceber o sentido da vida entre o homem e a natureza e buscar entender a verdadeira solução para o caos planetário.
Embora Reigota (2000) afirme que existem diversas interpretações sobre o que é educação ambiental, fazendo com que muitas e diferentes práticas educativas sejam realizadas em universidades, escolas e creches, de acordo com Marins et al. (2004), considerando a falta de tempo dos professores muitas vezes sobrecarregados de horas/aula e a dificuldade de adquirirem livros de atualização, os conteúdos ainda são abordados de forma fragmentada e de maneira pouco interessante.
Diante do exposto, entendo que nesse momento deva surgir o Professor reflexivo interligado com a prática pedagógica na educação ambiental em relação a sua prática, teria e reflexão (tríade) conforme elenca Schön (1987) com as seguintes dimensões da reflexão: a) conhecimento na ação – é o conhecimento que os professores manifestam no momento em que executam a ação; b) reflexão na ação – ocorre quando o professor reflete no decorrer da própria ação e a vai reformulando, ajustando-a assim a situações novas que vão surgindo; c) reflexão sobre a ação – acontece quando o professor reconstrói a ação para a analisar retrospectivamente. O olhar “a posteriori” sobre o momento da ação ajuda o professor a perceber o que aconteceu durante a ação e como resolveu os imprevistos ocorridos. O professor toma consciência do que aconteceu, por vezes, através de uma descrição verbal; d) reflexão sobre a reflexão na ação – é um processo que fomenta a evolução e o desenvolvimento profissional do professor, levando-o a construir a sua própria forma de conhecer. Este tipo de reflexão é definida como meta-cognição e leva o professor a desenvolver novos raciocínios, novas formas de pensar, de compreender, de agir e equacionar problemas.
Conforme Alarcão (1996) o objetivo da reflexão é tudo o que se relaciona com a atuação do professor durante o ato educativo: conteúdos, contextos, métodos, finalidades do ensino, conhecimentos e capacidades que os alunos estão a desenvolver, fatores que inibem a aprendizagem, o envolvimento no processo da avaliação, a razão de ser professor e os papéis que se assumem.
Nesse sentido, a escola é um componente capaz de contribuir para o desenvolvimento de uma sociedade, de forma que capacite à reflexão e a participação ativa das mesmas frente a um mundo globalizado, repleto de constantes modificações, pois essas dimensões da reflexão estão conectadas com o mundo real.
Assim, pergunta-se: A utilização de práticas pedagógicas educativas e reflexivas é uma forma de abordar as questões ambientais educando os alunos para o ambiente de forma interdisciplinar e a resgatar as relações perdidas entre o homem e a natureza? Essa metodologia será bem aceita por educandos e educadores?
Este ensaio tem o objetivo de instigar o professor enquanto formador de idéias, de sujeitos críticos e emancipados, autônomos, com as dimensões da reflexão interligada com a prática pedagógica, as teoria já existentes e a reflexão, tornando-se a tríade para uma Educação Ambiental eficaz.
Para Amaral; Moreira e Ribeiro (1996) o modelo de formação reflexiva permite a interação harmoniosa entre a prática e os referentes teóricos, pois uma prática pedagógica reconstrói a teoria da prática, sendo que a prática questiona a teoria e vice-versa, sendo encarada como um meio ou um fim.
Para Tardif (2002) o tempo é um dos fatores determinantes aos saberes docentes, já que é trabalhando que se aprende, que se constrói e reconstrói formas de agir, de sentir, de ver e de pensar e de se relacionar com o mundo. Com isso, depreende-se que o professor reflexivo faça essa reflexão com o passar dos anos de profissão, pela sua prática e anos os quais está inserido na escola.
A função social do educador ambiental deve ser de um agente multiplicador do processo de conscientização, de um agir na sua práxis, atuando na transformação e melhoria de seu ambiente próximo, por processos dialógicos com os diversos setores que está inserido, numa visão multidisciplinar respeitando suas respectivas competências, a semelhança da educação para cidadania, defendida por Paulo Freire (Manucci, 2004).
Com isso, o processo educacional vai além do âmbito formal, passando pela tríade, ultrapassando a relação direta com determinado grupo escolar, surgindo assim, a “macroeducação”, que expressa à idéia de um processo educacional mais amplo, o qual é vislumbrado por nós educadores ambientais.
A escola é o local apropriado para a reflexão sobre diversas questões, inclusive à questão ambiental tão debatida. Entretanto, essa temática acabou limitando-se a algumas áreas do conhecimento, como as Ciências Naturais, Geografia, História. A prática pedagógica na escola ainda se mantém conservadora e resistente a mudanças, predominando a reprodução do conhecimento científicos nas dimensões físicas, químicas, como exemplo, de forma fragmentada, sem diálogo e análises aprofundadas das relações socioeconômicas, políticas e culturais que envolvem as questões ecológicas. Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) instrumentalizam a escola para estas reflexões: A educação ambiental não deve se constituir numa disciplina e por “ambiente” entende-se não apenas o entorno físico, mas também os aspectos sociais, culturais, econômicos e políticos interrelacionados (Deperon, 2004).
Tricoli (1993) ao refletir sobre a questão da qualidade de ensino fundamental e médio, ou melhor, sobre a deterioração do mesmo, vincula este problema à formação de professores, pois a universidade é instituição que inclui, entre os seus objetivos, o de formar professores. Matos (1994) parte da convicção de que o professor é fundamental para a melhoria do processo ensino-aprendizagem.
Garcia (1992) destaca a necessidade de se conceber a formação de professores como um “continuum”, pois para manter a qualidade do ensino é preciso criar uma cadeia coerente de aperfeiçoamento, cujo primeiro nível é a formação inicial seguindo-se a formação continuada.
Segundo Krug (1996) a formação profissional, que perpassa pela reflexão, a partir de situações práticas reais, contribui para que o professor se sinta capaz de enfrentar situações novas e diferentes, de tomas decisões apropriadas e fundamentadas em um paradigma eficaz que interligue teoria e prática. Acrescenta que é indiscutível que apenas o professor que explicar e justificar a sua prática pode assumir com autonomia a sua docência.
O desafio para uma prática docente reflexiva é como bem ensina Alarcão (2003) Ensinar em um contexto mais investigativo do que transmissivo. Como articular no presente o passado e o futuro? Desejar aprender e não apenas ensinar. Como praticar uma formação contínua e matizada? Tratar prática e reflexão como formas interdependentes de conhecimento. Como assumir uma prática reflexiva? Assumir prática e reflexão nos termos da lei de tomada de consciência de Piaget. Como interiorizar e exteriorizar conhecimentos e saberes: –Voltar-se para dentro; –Refletir para agir e refletir sobre a ação realizada; –Duplo processo: exteriorização e interiorização; –Prática reflexiva mediada e recursiva; –Reflexão: auto-observação, transformação e emancipação; –O antes, o depois e o durante em uma ação ou reflexão; A docência como profissão. Como superar a idéia de que ensinar é uma “simples” ocupação?
Depreende-se do exposto que o caminho para buscarmos melhores condições de ensino-aprendizagem, e fazer com que o professor reflita sua práxis, é melhorar a formação, bem como a prática pedagógica em situação de atuação, facilitando a aprendizagem do educador e do educando.
REFERÊNCIAS
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AMARAL, M.J.; MOREIRA, M.A.; RIBEIRO, D. O papel do supervisor no desenvolvimento do professor reflexivo – estratégias de supervisão. In: Alarcão, I. (Org.) e outros. Formação reflexiva de professores: estratégias de supervisão. Porto: Porto Editora, 1996. p.89-122.
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GARCIA, C.M. A formação de professores: novas perspectivas baseadas na investigação sobre o pensamento do professor. In: Nóvoa, A. (Coord.). Os professores e a sua formação. Lisboa: Publicações Dom Quixote, 1992.
KRUG, H.N. A reflexão na pratica pedagógica do professor de Educação Física, 1996. Dissertação (Mestrado em Ciência do Movimento Humano) – Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria, 1996.
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QUINTAS, J.S. Trabalho em grupo sobre meio ambiente e cidadania: meio ambiente e cidadania. In: ISAIA, E.M.B.I. (Coord.). Reflexões e práticas para desenvolver educação ambiental na escola. 2. ed. Ver. Ampl. Santa Maria: UNIFRA, Ed. Ibama, 2001.
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http://xa.yimg.com/kq/groups/24793572/148094065/name/Alarc%C3%A3o,+Isabel+-+Professores+Reflexivos+em+Uma+Escola+Refle.pdf - ALARCÃO, ISABEL, 4ª ed., São Paulo, Cortez, 2003.
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