sexta-feira, 2 de março de 2012

PRIMEIRAS APROXIMAÇÕES SOBRE A INFLUÊNCIA DA TELEVISÃO NOS CONTEÚDOS DA EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR

Hugo Norberto Krug

Considerações iniciais a respeito da influência da televisão nos conteúdos da Educação Física Escolar
        A televisão é jovem, pois foi criada há mais ou menos cinqüenta anos e fabricada em massa há pouco mais de quarenta anos. No Brasil ela não chega a esta idade. E mesmo sendo jovem a televisão obteve uma grande e rápida aceitação e expansão, principalmente após a Segunda Grande Guerra Mundial. Isto foi devido, em parte, pela necessidade que as pessoas têm de usar o imaginério como motor para se manterem vivas, de eternizarem e congelarem os momentos agradáveis, e a televisão é a forma eletrônica mais desenvolvida de dinamizar o imaginário. Assim, a televisão desenvolve uma relação extensiva, ou seja, o telespectador não tem tempo de parar numa determinada cena pois elas se movem num ritmo muito rápido, isto faz com que as análises mais profundas ou questionamentos não sejam suscitados (Gonçalves, 1993).
Segundo Oliveira (2002) a televisão tornou-se um dos veículos de comunicação mais importantes e de maior alcance na sociedade moderna. É um veículo que está inserido em todas as camadas sociais, culturais e faixas etárias. Com a TV, as pessoas se envolvem, observam, criam,copiam, interagem, transformam e, também, aprendem.
        Rezende e Rezende (1989) a televisão é capaz de produzir uma verdadeira fascinação no público adulto e com as crianças isso não é diferente. Atualmente, milhões de telespectadores infantis passam, em média, quatro horas diárias diante da televisão. Esse período, muitas vezes, passa a ser bem maior e chega a ultrapassar o tempo em que a criança fica na escola. Logo, esse aluno acaba produzindo uma aprendizagem através de múltiplas linguagens e uma interação com os programas televisivos a que assiste, sem que, muitas vezes, seja feita uma análise crítica de seus conteúdos.
Assim, fundamentados nestas premissas citadas este ensaio teve como objetivo abordar a influência da televisão nos conteúdos da Educação Física Escolar.

Algumas aproximações entre a televisão e a Educação Física escolar
        De acordo com Gonçalves (1993) a televisão vem investindo em várias formas de transmissão do movimento corporal humano, seja como jogos, campeonatos de várias modalidades, propagandas esportivas, conteúdos relacionados com o movimento da Educação Física. Quase todas estas transmissões trazem mensagens implícitas e explícitas. Raramente questiona-se suas origens, razões de ser, funções reais, a quem beneficiam e como seria se as mesmas não existissem, enquanto profissionais da área que trabalhamos com o movimento humano.
        Um aspecto importante colocado por Marcondes (1988) é que a televisão vive da venda de cada minuto de programação, transformando em valor comercial seu tempo de emissão. Então, a espetacularização é a sua linguagem e segundo esta lógica tudo é transmitido.
        Para Gonçalves (1993) todas as nações do mundo seguem esta mesma lógica capitalista de consumo, onde as classes sociais estão em constante correlação de forças. É neste contexto que as classes ou povos economicamente mais fortes dominam e impõem sua ideologia. A dominação econômica é fungida a dominação cultural. E a televisão surge como um meio através do qual o capitalismo irá exercer sua lógica e a ideologia dominante irá se impor. É claro que existem os espaços de contradição que podem e às vezes são usados para reverter alguns destes aspectos.
        A autora destaca que a televisão, na sua linguagem de espetacularização trabalha basicamente com dois sistemas de comunicação que são os signos e os clichês. O primeiro é uma estrutura vazia, são situações, pessoas, objetos que irão formar a cena depurada de tudo aquilo que existe de negativo. O segundo ao contrário retrata o lado emocional, buscando constantemente o acesso à lembrança espontaneamente. No entanto, estas experiências não devem ser muito semelhantes a vida real e comum a grande maioria dos cidadãos. É neste ínterim que o movimento vem encontrando um crescente espaço nas transmissões televisivas, tudo comunica, desde o detalhe da roupa até o movimento realizado. Um exemplo claro disto são programas como Esporte Total ou Esporte Espetacular que procuram sempre transmitir os esportes da moda e elitizar o acesso aos mesmos usando um linguajar multinacional, enfatizando vestimentas e lugares onde os mesmos se realizam.
        Já analisou-se o aspecto ideológico e econômico da televisão estar investindo muito na transmissão de programas esportivos ou mesmo propagandas com movimentos referentes à Educação Física, mas também existe a contribuição favorável de divulgação e incentivo da prática dos mais variados esportes, e o grande contato com as mais variadas formas culturais de manifestações de movimentos. Pode-se dizer que a televisão contribui para o aumento da magnitude dos esportes quando possibilita o acesso de imagens à vários países como se o mundo fosse uma aldeia global (Gonçalves, 1993).
        A televisão, ao mesmo tempo em que enaltece o movimento da Educação Física, também forja o gosto, dita padrões esteriotipados, produz uma necessidade indiscriminada e desinformada de movimentos e corpos padrões. Este fato faz com que cada vez mais pessoas pratiquem as mais variadas formas de movimentos não pelo prazer da atividade física, mas sim pela sublimação, pelo estímulo que isto provoca no imaginário dos indivíduos (Gonçalves, 1993).
        Há a questão da linguagem utilizada em tais transmissões, que muitas vezes deturpa conceitos elementares da Educação Física e acaba por ditar mudança de padrões tanto no linguajar utilizado como de execução de determinados movimentos (Gonçalves, 1993).
        Ainda, a forma televisiva trouxe a tona rapidamente a desportivização, a superação dos adversários, a seletividade e ascensão dos mais aptos reproduzindo a ideologia presente no cotidiano das pessoas. Conseqüentemente isto fez com que uma grande parcela da população de comuns fosse jogada a inatividade constante ao se negar o lúdico presente na atividade física. Praças, parques, ruas onde antigamente as pessoas movimentavam-se ludicamente ou são usadas para jogos cada vez menos lúdicos e prazerosos ou estão vazias, pois as pessoas estão usando seu tempo para assistir aos jogos televisivos (Gonçalves, 1993).
Com todo o quadro exposto a Educação Física vem sofrendo grandes influências e até mudanças radicais na sua maneira de ser trabalhada a fim de atender as necessidades de tal situação. Um exemplo disto são os chamados clubes, como são denominadas as aulas de Educação Física curricular, onde os alunos escolhem uma modalidade esportiva para praticarem. Também, normalmente estes clubes são de modalidades como o futebol e o voleibol tão incentivados pelas transmissões esportivas da televisão.

Considerações finais a respeito da influência da televisão nos conteúdos da Educação Física Escolar
        Para se entender melhor a temática, convém lembrar que a Educação Física, a grosso modo, trabalha com o movimento a partir de duas visões: a) visão holística – busca trabalhar elementos de constante inovação inseridos e situados dentro de um contexto sócio-histórico onde os indivíduos buscam o conhecimento através de uma interação sujeito a sujeito e sujeito objeto; e, b) visão biologicista – acrítica que reduz o ser humano a explicações simplistas e neutras. Que faz nascer o homo-sportivus, aquele que se destaca no esporte, que tem grandes performances suportando e sustentado pelo homo-famintus o suporte para a técnica, o trabalhador. Esta visão e algumas mesclagens que encaram o movimento como produto de competitividade apenas, foi que permitiu que pouco a pouco este fosse mercadorizado e perdesse sua singularidade.
        Assim, estas são algumas aproximações acerca deste tema polêmico, complexo e de grande contribuição à sociedade, servindo de mola propulsora para outras futuras aproximações.
        Para finalizar destacamos as palavras de Schwartz (1985) que diz que a televisão está em toda a parte; milhões de pessoas vêm as mesmas redes, cantam os mesmos comerciais, incorporam personagens. As estações transmitem os mesmos programas no mundo inteiro. Essa globalização da informação pode ser positiva ou negativa. Se analisarmos o aspecto cultural, há uma dicotomia na relação entre a informação e o telespectador, dicotomia caracterizada pela importância da informação e pela imposição de padrões culturais, imposição instaurada pela própria sociedade, através das exigências de mercado.
        Somente este fato já explicaria a influência da televisão nos conteúdos da Educação Física Escolar.

Referências
Gonçalves, S.C.A. Televisão e Educação Física: análise reflexiva. Comunicação, Movimento e Mídia na Educação Física – Caderno I. Santa Maria: UFSM, 1993. p.69-74.

Marcondes, C. Televisão – a vida pelo vídeo. São Paulo: Moderna, 1988.

Oliveira, R. de . Uma prática educativa fundamentada na leitura de conteúdos televisivos: um estudo de caso no ensino fundamental, 2002, Santa Maria. Dissertação (Mestrado em Educação) - Centro de Educação / Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria, 2002.

Rezende, A.L.M.; Rezende, N.B. A tevê e a criança que te vê. São Paulo: Cortez, 1989.

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