sexta-feira, 2 de março de 2012

A INFLUÊNCIA DOS ASPECTOS AMBIENTAIS, FÍSICOS E MATERIAIS NO DESEMPENHO DO PROFESSOR NA EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR

Hugo Norberto Krug

Considerações iniciais a respeito da influência dos aspectos ambientais, físicos e materiais no desempenho do professor de Educação Física Escolar
Segundo Pedreira (2000) na história da humanidade, os homens sempre sofrem influências do meio em que vivem. Desde os tempos remotos até os dias de hoje, as condições ambientais, físicas e materiais sempre foram importantes para o aprendizado dos seres humanos.
Conforme Azevedo (1995) a Educação Física como fenômeno social, caracteriza-se por ser uma particularidade muito especial, de difícil compreensão, que é a sua prática enquanto agente de socialização. Neste enfoque a Educação Física atua dentro das necessidades de ações individuais do homem para alcançar um objetivo coletivo no grupo social.
Para Krebs (2000) a Educação Física Escolar tem seus fundamentos nas concepções de corpo e movimento. Ou seja, a natureza do trabalho desenvolvido nessa área tem íntima relação com a compreensão que se tem dos dois conceitos. A Educação Física ao caracterizar-se como a disciplina que trata do movimento humano, deve possibilitar ao aluno a participação de diferentes conhecimentos. Essa participação implica partir do conhecimento de si mesmo, e o conhecimento do seu grupo social, proporcionando descobrir-se enquanto sujeito de sua própria história e não objeto dela. Somente neste pensar é que encontraremos a possibilidade de estarmos contribuindo na construção de sua personalidade, e na compreensão do universo que o cerca, desenvolvendo consciência crítica, onde ele possa manifestar suas idéias, anseios e vontades.
Entretanto, de acordo com Azevedo (1995), freqüentemente, constata-se a existência nas aulas de Educação Física nas escolas, problemas de origem ambiental ou seja: ruídos/barulhos perturbadores; odores/cheiros desagradáveis; frio/calor intenso; etc. Estes problemas somados as diversas dificuldades de material/infra-estrutura inviabilizam a prática da Educação Física de forma continuada e prazerosa.
Pozzobon (1992) destaca que as escolas, em sua grande maioria, possuem instalações esportivas inadequadas, insuficientes e até mesmo inexistentes, havendo uma grande dificuldade em desenvolver um planejamento adequado às necessidades dos educandos, afetando diretamente o processo de aprendizagem e prejudicando seu desenvolvimento motor.
Assim, fundamentados nestas premissas citadas este ensaio teve como objetivo abordar a influência dos aspectos ambientais, físicos e materiais no desempenho do professor na Educação Física Escolar.

Educação Física e ambiente
        A escola, bem como os sujeitos que a compõem, estão inseridos em um ambiente urbano que sofre influências climáticos e desta forma, tem inúmeras conseqüências sobre as aulas (TRAPP, 1993).
Segundo Brandizzi; Verlone e Marancio (1986) a adequação ambiental pode ser de grande ajuda à Educação Física enquanto permitir criar uma situação favorável para a aprendizagem. As condições ambientais proporcionam um efeito positivo sobre a pessoa, tornando-a ativa, eficiente e descontraída, agindo sobre as sensações e sobre o rendimento escolar.
        Azevedo (1995) destaca que as aulas de Educação Física sofrem constantemente a influência de problemas de origem ambiental tais como: barulhos perturbadores, cheiros desagradáveis, frio ou calor intensos, bem como a ocorrência de chuva.

Educação Física e espaço físico
Segundo Santos (1982, p.27):

Devemos nos preparar para estabelecer os alicerces de um espaço verdadeiramente humano, de um espaço que possa unir os homens para e por seu trabalho, mas não para em seguida dividi-los em classes, em exploradores e explorados; um espaço matéria inerte que seja trabalhada pelo homem, mas não se volte contra ele;  um espaço de natureza social aberta à contemplação direta dos seres humanos, e não um fetiche; um espaço instrumento de reprodução da vida, e não uma mercadoria trabalhada por outra mercadoria, o homem fetichizado.

Perim (2001) destaca que os espaços são ocupados por razões, sejam elas quais forem, carregadas de sentido e intencionalidades, e estas podem nos levar a alteração ou adaptação destes locais.
De acordo com Santos (1982), o espaço – compreendido como algo com uma constituição física, como a paisagem – é a soma das conseqüências da atividade humana sobre a Terra. A paisagem não é fixa e, assim como a economia e as relações sociais e políticas, modifica-se cada vez que a sociedade passa por um processo de mudança para adaptar-se à nova realidade. Os locais do nosso cotidiano, os locais de trabalho, de estudo, de lazer, são concebidos para atender as necessidades da produção, assim, a sua finalidade última é atrair e seduzir o consumidor.
Para Santos (1982) o espaço social – como realidade social – é definido metodologicamente e teoricamente por três conceitos: a forma, a estrutura e a função. A interpretação dos espaços ou de sua evolução só é possível através da análise simultânea destas três categorias analíticas. Segundo Lebébvre (apud SANTOS, 1982) as três categorias identificam-se completamente e equivalem-se ao “todo” existente ou uma “totalidade”. Os movimentos da totalidade social levam a modificação das relações entre os componentes da sociedade, alterando os processos, levando-os a novas funções. Sobre isto Santos (1982, p.20) coloca:

Não são apenas os instrumentos de trabalho que exercem um domínio sobre o homem. Se toda a matéria trabalhada por ele torna-se igualmente coisa social e, um objeto portador de funções humanas, este produto cristalizado de seu trabalho impõe-lhe uma práxis que governa os seus movimentos e mesmo determina o modo como ele agirá no cotidiano.

Perim (2001) diz que estudamos o espaço como se a sua constituição física (a sua paisagem, objetos e a forma com que estão organizados) tivesse nela mesma a explicação para si, quer dizer, acreditamos que o espaço tem o seu fim em si mesmo. Entretanto, a constituição do espaço é o resultado de múltiplas determinações, cuja origem situa-se em diferentes níveis e escalas, indo do simples lugar à dimensão globalizada. O espaço em si – ou a sua geografia – deixou de ter um simples papel funcional, passando a carregar (intencionalmente) símbolos e representações de conteúdos e valores que não lhes são próprios. No caso da escola estes símbolos e significados de que falamos estão alicerçados nos conteúdos. Segundo Santin (1992), o conteúdo específico da Educação Física é o movimento, capaz de alterar profundamente os espaços escolares. Para este autor, estas alterações acontecem principalmente em função da intencionalidade de quem executa o movimento, que pode ser uma simples ação mecânica, ou expressão artística. O gesto pode ser a manifestação de uma idéia, de um significado, um sentimento.
Santos (1982, p.20) diz que “na civilização industrial desenvolvida pelo capitalismo, o homem libertou-se de suas dependências dos elementos naturais, mas passou a depender de suas próprias criações, das matérias que fabricou e das forças que pôs em movimento”.
Trapp (1993) constata na Educação Física Escolar esta dependência, lamentando que a forma de ser da Educação Física na escola seja a desportivizada. Segundo o autor, “para consagrar este modelo de Educação Física, é suficiente ter uma visão unidimensional do espaço de jogo e movimento. Formas pré-concebidas de movimento exigem tão somente formas pré-concebidas de ambientes de jogo” (p.79).
Kunz (1994) preocupado com esta questão, também estabelece a relação entre a Educação Física desportivizada e a padronização dos espaços físicos, e destaca que para o ensino dos movimentos padronizados do esporte é preciso materiais e locais que obedecem à rígida padronização, e por isso mesmo, condicionam à utilização adequada dos mesmos.
Moraes (1998) ressalta que na utilização do espaço físico, mesmo que não se tenha uma quadra convencional, é possível adaptar espaços para as aulas de Educação Física. Se observarmos os alunos, verificaremos que eles fazem isso cotidianamente. O professor pode utilizar um pátio, um jardim, um campinho, dentro ou próximo à escola, para realizar as atividades de Educação Física. Mesmo em se tratando de quadras convencionais, o professor pode e deve, conforme a exigência da situação, dividi-las em diferentes formas, possibilitando a execução de atividades de natureza diferenciada. Estender cordas entre árvores, para que as crianças se pendurem e se equilibrem, ou organizem voleibol em pequenos grupos; pendurar pneus e aros nas árvores para funcionarem como alvos em jogos de arremesso e basquete em pequenos grupos; utilizar desníveis de terreno como parte de circuitos com materiais diversos e obstáculos, são sugestões de como utilizar o espaço físico.

Educação Física e materiais
Segundo Freire (1994) os materiais que mais falta nas escolas, na maioria das vezes, não é o material, é a criatividade.
De acordo com Moraes (1998), quanto ao material pedagógico, é comum afirmar que qualquer material pedagógico será mais rico se for variado. Não importa se antes são encontrados ou são criados pelo professor, ou pelo aluno, o importante é ele seja explorado de forma a alcançar os nossos objetivos implícitos, podemos citar: o respeito; a socialização; a afetividade; a solidariedade; a agressividade; a auto-estima; o senso-crítico; entre outros.
Destaca que é evidente que a falta de material pedagógico é fundamental para que o professor atinja seu objetivo de estimular a capacidade de raciocínio do aluno.
Como o objetivo da escola não é somente o desenvolvimento do pensamento lógico-matemático, é bom lembrar que o uso de materiais tem diretamente a ver com o desenvolvimento de outros conteúdos tais como a afetividade e a motricidade. O professor deve saber observar o modo de brincar dos alunos, a organização, a forma de exploração e o interesse gerado pelo material, para poder extrair informações das atividades que realizam, além de ter uma preocupação maior com o material oferecido.

Considerações finais a respeito da influência dos aspectos ambientais, físicos e materiais no desempenho do professor de Educação Física Escolar
Para finalizar, fundamentados nas premissas citadas anteriormente, podemos destacar que os aspectos ambientais, físicos e materiais influenciam no desempenho do professor na Educação Física Escolar.
Ainda para reafirmar tal colocação citamos Maraschim e Kuss (2003) que destacam que a aula de Educação Física se constitui em um espaço de amplas possibilidades, onde as experiências propostas para os alunos, a priori, sempre dependerão da infra-estrutura escolar, espaços físicos, dos materiais didáticos, da intervenção do professor e principalmente do interesse dos alunos.
        Assim, pelo exposto neste ensaio, de forma geral, concluímos com Menezes Filho (2002) que diz que o ensino da Educação Física Escolar apresenta-se condicionado a vários fatores que vão desde a disponibilidade de espaço físico, condições climáticas, materiais, horários, número de alunos, perpassando pelo planejamento escolar, onde constam as orientações filosóficas, pedagógicas e metodológicas.

Referências
Azevedo, E.S. Perfil ambiental do espaço físico destinado à prática da Educação Física: um estudo realizado nas escolas da rede municipal de ensino da cidade de Pelotas/RS. In: PEREIRA, F.M. (Org.). Educação Física: Textos do XV Simpósio Nacional de Ginástica. Pelotas: Ed. Universitária/UFPEL, 1995. p.69-74.

BRANDIZZI, G.; VERKINE, A.; MARANCIO, S. Barreiras arquitetônicas nas instalações esportivas. Lisboa: Ministério da Educação e Cultura, 1986.

FREIRE, J.B. Educação de corpo inteiro. 4. ed. São Paulo: Scipione, 1994.

KREBS, R.J. Educação Física Escolar. Curso de Pós-Graduação da ESEF/UFPEL. Pelotas: ESEF/UFPEL, out., 2000. (Mimeo).

KUNZ, E. Transformação didático-pedagógica do esporte. Ijuí: UNIJUÍ, 1994.

MARASCHIM, M.F.L.; KUSS, M.O. O ensino da ginástica geral nas aulas de Educação Física para alunos da 5ª série: Um relato de experiência. In: Congresso Mercosul de Cultura Corporal e Qualidade de Vida, III, 2003, Ijuí. Anais, Ijuí: UNIJUÍ, 2003. p.35.

Menezes Filho, F.S. A prática pedagógica da Educação Física escolar: tendências nos planejamentos de ensino dos professores no ensino fundamental e médio, 2002, Santa Maria. Dissertação (Mestrado em Ciência do Movimento Humano) – Centro de Educação Física e Desportos / Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria, 2002.

MORAES, E.P. Importância da criatividade nas aulas de Educação Física, 1998, Brasília. Monografia (Especialização em Educação Física Escolar) - Faculdade de Educação Física / Universidade de Brasília, Brasília, 1998.

PEDREIRA, J.C.S. Análise da influência do espaço arquitetônico nas atividades lúdicas em escolas de jardim de infância da rede pública do Distrito Federal, 2000, Brasília. Monografia (Especialização em Educação Física Escolar) - Faculdade de Educação Física / Universidade de Brasília, Brasília, 2000.

PERIM, M.F. A influência da cultura corporal sobre o conteúdo e o espaço físico da Educação Física escolar, 2001, Santa Maria. Monografia (Especialização em Pesquisa em Ciência do Movimento Humano) – Centro de Educação Física e Desportos / Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria, 2001.

POZZOBON, M.E. Instalações esportivas no contexto das escolas públicas estaduais da cidade de Chapecó – SC, 1992, Santa Maria. Monografia (Especialização em Pesquisa em Ciência do Movimento Humano) – Centro de Educação Física e Desportos / Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria, 1992.

SANTIN, S. Educação Física: temas pedagógicos. Porto Alegre: EST/ESEF, 1992.

SANTOS, M. Pensando o espaço do homem. São Paulo: HUCITEC, 1982.

TRAPP, W.O. A ocupação do espaço físico na escola. In: CARVALHO, S. (Org.). Comunicação, movimento e mídia na Educação Física – Caderno I. Santa Maria: CEFD/UFSM, 1993.

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