sexta-feira, 15 de junho de 2012

Oficina de Produção de Textos: A AVENTURA DE LER E ESCREVER - TEXTO Nº 13

RESENHANDO ARTIGOS DA AUTORA ADA ABRAHAM

Fabiana Ritter Antunes

             É importante destacar, primeiramente que escolhi dois artigos da autora Ada Abraham, os quais se relacionam de uma maneira muito interessante, que são: “El mundo interior de los ensenãntes” e “El ensenãntes es también una persona”.
         Segundo alguns autores, mais especificamente Nóvoa, o livro de Ada Abraham foi um marco, resultando em um novo olhar sobre a vida dos professores recolocando os professores nos centros dos debates educativos e a problemática da investigação.
Em seu texto, a autora refere-se ao labirinto que se configura ao redor destes docentes, labirinto que ilustra os caminhos difíceis que os professores têm de percorrer, algumas vezes com vários rumos para escolher, em outras sem perspectiva alguma que rumo tomar. Esta analogia com o labirinto demonstra o universo de docentes com dificuldade de mudar as situações em que se encontram, pois segundo a autora eles entram em becos sem saída e não percebem que poderiam tomar novos rumos. É interessante lembrar também que a autora coloca que o labirinto é como um espaço universal, pois está presente nas mais diversas culturas. Podem-se perceber, também, a partir dessa analogia, os docentes que, embora saibam da necessidade de transformação de suas práticas, sentem-se perdidos no labirinto e não conseguem escolher o melhor rumo para chegar a seu objetivo. Há, por último, aqueles que preferem cruzar o labirinto em linha reta, mascarando-se frente aos problemas, dificuldades, desejos e anseios que possuem.
Desta forma há dois componentes nesse labirinto: o sí-mismo individual e o si mismo grupal/coletivo. No individual encontra-se a relação dos indivíduos consigo mesmo e com os demais significantes do campo educacional, no segundo encontram-se as dimensões sociais, havendo um combate entre o consciente e o inconsciente. A relação entre estas duas dimensões é muito complexa, tanto quanto esta situação labiríntica em que se encontram alguns docentes atualmente.
 Nesse sentido a autora revela o si-mismo verdadeiro, e sta dimensão do professor é o monstro que se esconde em cada um de nós, aquele eu verdadeiro e autêntico, que nem sempre pode ser mostrado a todos. O labirinto deve ocultar, de certa forma, esse si-mismo verdadeiro, para defendê-lo das ameaças de destruição.
A autora refere ao efeito das máscaras que alguns professores utilizam na sua prática diária. Acredito que não seria tanto uma máscara, mas, que esses professores não encontraram e não construíram ainda sua identidade pessoal, profissional e social. Ainda a autora revela que uma das origens desse processo de desencontro é que são muitos os fazeres e saberes que fazem parte do universo docente, o que leva alguns professores a perderem sua identidade como profissionais e mesmo como pessoas, não encontrando o caminho mais indicado, o rumo a tomar em sua profissão e sua vida.
       Sem dúvida devemos tornar a reflexão como parte do cotidiano, a fim de sermos professores, que problematizam a própria prática, nossas concepções, nossas opções. Muitos modelos de atuação naturalizados por nós, são concepções que estão diretamente relacionadas com as experiências que vivemos.
        Acredito sim, na construção do ser enquanto profissional atuante, mas também com algumas dúvidas e receios, afinal o professor é um ser humano. Ser humano que vive e tem seus problemas, sua expectativas, seus sonhos, desejos e frustrações. É fundamental o reconhecimento dessas questões, e a compreensão de que por sermos humanos, somos seres inacabados, ilimitados, e passiveis ao erro.
A literatura pedagógica a esse respeito tem tido uma progressiva produção ao trazer para o cenário da problemática educativa, muitas vezes, exclusivo das práticas de ensino um olhar sobre a vida e a pessoa do professor suas carreiras e seus percursos profissionais, relatos biográficos e autobiografias docentes, bem como o desenvolvimento pessoal desse profissional (Nóvoa 1995).
É necessário rever nossas historias de vida, problematizando assim nossas decisões, opções que tomamos e que não tomamos, essas decisões estão marcadas por dúvidas, riscos, que fazem parte da nossa formação e que precisam ser aceitas e enfrentadas.
A nossa formação não acontece em um mundo abstrato, isolado da relação com os outros, mas em interação sendo influenciada pelo contexto histórico ao qual estamos ligados e dessa forma, nossa formação torna-se uma construção social, e os aspectos pessoais e profissionais do ser professor, estão inter relacionados com a nossa trajetória formativa.
          Ada Abraham denomina crises de identidade docente aquelas geradas pela contradição entre seu eu real - o que faz cotidianamente - e seu eu ideal - o que pensa que deveria fazer -. A autora classifica essa crise em alguns grupos: O primeiro é o predomínio de sentimentos contraditórios – que não são resolvidos na pratica educativa os conflitos entre ideais e realidade; o segundo é a negação da realidade pela alta carga de ansiedade do professor.  O mesmo recorre a uma rotina em sua prática docente evitando implicações pessoais com a docência; e o terceiro a presença de uma grande ansiedade ao dar-se conta de que necessita de recursos para levar adiante seus ideais, ao passo que não deseja renunciá-los. O professor pode tentar resolver de forma individual problemas do sistema, e deixar-se vencer pela depressão considerando-se culpado por não realizar seus ideais. Acredito ser aqui a primeira crise de identidade do professor.
 
Referência

NÓVOA, A. Os professores e as histórias da sua vida. In: NÓVOA, Antônio (Org.). Vidas de professores. 2 ed. Porto: Porto Editora,  1995. 

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