A MAGIA DO CIRCO NAS AULAS DE EDUCAÇÃO FÍSICA
Aline de Souza Caramês
INTRODUÇÃO
Há diferentes culturas que cultivaram o circo e a Arte Circense. Como exemplo, as atividades circenses já existiam na Grécia, onde acrobatas se apresentavam nas Olimpíadas da Antiguidade e também há registros de jogos de malabarismo praticados no Egito Antigo. Em Roma havia apresentações e exibições de diversas atrações, haviam teatros, lutas de gladiadores, exibições de animais estranhos. Os espectadores eram cidadãos ricos que homenageavam os mortos, as vitórias militares e até mesmo em honra aos deuses. Há 300 anos, na China já existiam artistas que se contorciam e equilibravam objetos entretendo imperadores e visitantes estrangeiros. No século V, no fim do Império Romano e início da Idade Média, trupes de mímicos, ilusionistas, equilibristas começaram a fazer apresentações em feiras e praças pela Europa, ganhavam a vida com contribuições de espectadores. Então só no século XVIII, Philip Astley (que era adestrador de cavalos) percebeu que as pessoas pagariam para ver esses espetáculos teve a idéia de criar uma pequena arena para as apresentações que fazia com seus cavalos, convocou mais artistas para participarem. Eis que surgiu o circo.
Durante o decorrer da história, de acordo com Bortoleto (2008), as Atividades Circenses são divididas por unidades didáticas pedagógicas que facilita o desenvolvimento teórico e prático dos conteúdos para uma melhor organização dos mesmos. Essas unidades são: atividades aéreas (lira, trapézio, tecido), acrobacias (saltos, estrela, rolamentos), manipulação (de objetos, malabarismo), e interpretação (expressão corporal e palhaço).
Partindo desse pressuposto, é importante lembrar que o circo faz parte de um acervo cultural da humanidade, fazendo parte da difusão das artes e da cultura popular. Desse modo, as Atividades Circenses podem ser incluídas nas escolas como conteúdos incluídos nas aulas de Educação Física, como uma proposta de ampliar conhecimentos, de forma a desenvolver também os saberes históricos, sociológicos e culturais no processo pedagógico.
A EDUCAÇÃO FÍSICA NA ESCOLA
Betti (1992) aponta que a Educação Física deve assumir a tarefa de introduzir e integrar o aluno na cultura corporal, formando o cidadão que vai produzir e transformar essa cultura de tal forma que usufrua de todos os conteúdos em benefício da qualidade de vida. Ou seja, o aluno deve ser tratado quando um ser crítico, transformador e que faça proveito do que lhe é ensinado.
De acordo com o Coletivo de Autores (1992), a Educação Física busca desenvolver uma reflexão pedagógica sobre o acervo de formas de representação do mundo que o homem tem produzido no decorrer da história, exteriorizadas pela expressão corporal.
Através de um trabalho lúdico fazer o aluno interagir e integrar-se em diferentes grupos, reforçar as operações intelectuais, moral e de movimento, estimulando a compreensão da realidade. É importante estimular o crescimento do aluno em todas as áreas e possibilitar o conhecimento da realidade na qual está inserido. Daolio (2003) se posiciona que a cultura corporal se constitui numa área de conhecimento que estuda e atua sobre um conjunto de práticas ligadas ao corpo e ao movimento.
No Coletivo de Autores (1992), a aula é entendida como um espaço intencionalmente organizado para possibilitar a direção da apreensão, pelo aluno, do conhecimento específico da Educação Física e dos diversos aspectos das suas práticas na realidade social.
Cabe ao professor, garantir o acesso dos alunos às práticas da cultura corporal, contribuindo para a construção de um estilo pessoal de exercê-las e também oferecer instrumentos para que sejam capazes de apreciá-las criticamente. Dar oportunidade a todos para que desenvolvam suas potencialidades de modo democrático, onde todos participem, buscando o aprimoramento como seres humanos.
Também é possível o desenvolvimento da expressão de sentimentos, afetos e emoções, promovendo a recuperação e a manutenção da saúde. O aluno deve localizar em cada um dos conteúdos, seus benefícios psicológicos, fisiológicos e suas possibilidades de utilização como instrumento de comunicação, expressão, lazer e cultura. É importante quebrar a ideia de alto rendimento, ainda trabalhar com um ideal democrático, contribuir para o processo da formação do cidadão.
De acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais (1997), os conteúdos da Educação Física envolvem, os conhecimentos sobre o corpo, as atividades rítmicas e expressivas e os esportes, jogos, lutas e ginásticas. Os conhecimentos sobre o corpo são trabalhados por seus detalhes internos, sua subjetividade e afetividade interpessoal. As atividades rítmicas e expressivas têm a intenção explícita de expressão e comunicação na presença de gestos e ritmos, sons e música construindo a expressão corporal. Com os esportes, jogos, lutas e ginásticas, referem-se sobre relações sociais e históricas sobre origens e características de cada componente.
Esses componentes visam objetos de ensino e aprendizagem de modo que se organize um conjunto de conhecimentos abordados de forma que se articulem entre si, mas não deixando de ter suas especificidades. Isso facilita a organização do modo com podem ser desenvolvidos, criando opções para o processo educativo.
AS ATIVIDADES CIRCENSES NA EDUCAÇÃO FÍSICA
O trabalho das Atividades Circenses no âmbito da Educação Física escolar podem englobar os fatores presentes na cultura corporal, fazendo uma relação que abrange desde os conhecimentos motores, cognitivos até os conhecimentos culturais.
Conforme Parlebas, citado por Bortoleto e Machado (2003), as atividades circenses estão situadas nas atividades físicas e expressivas, sendo que há possibilidade de surgirem esportes e/ou jogos destas modalidades. A importância nesse sentido se dá pelo fato de serem criadas ainda outras maneiras de explorar as atividades já existentes até mesmo para o surgimento de novas.
Os jogos circenses contribuem para o desenvolvimento de habilidades como a coordenação, concentração, percepção sinestésica, percepção espacial, equilíbrio, força de reação, velocidade e ritmo.
Como nos lembra Bracht (1992), o movimento a ser tratado pela Educação Física, como disciplina escolar, é aquele que carrega determinado sentido/ significado conferido por um contexto histórico-cultural. É justamente por ser dotada de sentido e significado, como manifestação artística e parte da cultura corporal, que a Arte Circense pode ter justificada sua presença na Educação Física escolar.
Além disso, é de suma importância levar em consideração que as Atividades Circenses devem ser tratadas pela Educação Física como um conteúdo sendo estimulado por um processo pedagógico que insira esse tipo de atividade para as aulas. De acordo com De Gaspari e Schwartz (2007), o universo circense possui elementos lúdicos, expressivos e comunicativos dentro dos aspectos físico, psíquico e sócio cultural com contribuição riquíssima na área de conhecimento da Educação Física. Em tempos de competitividade acirradas, inegáveis são as contribuições das atividades físicas que proporcionam experiências sensíveis, capazes de promover o encontro do ser humano consigo mesmo e com o outro de um modo que a atividade circense consegue fazer.
Para Duprat (2007), a Atividade Circense entra como divisor de águas, analisando que é possível romper com os padrões estabelecidos com a Educação Física “rotineira”. Corroborando com isso, Invérno (2003) acredita a Atividade Circense se configura como uma atividade que reúne vários conhecimentos de caráter educativo o que é suficiente para abordar tal arte no currículo não só da Educação Física, mas de outras disciplinas escolares.
A inserção das Atividades Circenses no âmbito da Educação Física escolar, não se trata em negar os demais componentes da cultura corporal. Esses componentes podem e devem ser trabalhados durante as aulas, mas a proposta é incluir as Atividades Circenses como um conteúdo também a ser desenvolvido por meio das aulas de Educação Física.
CONCLUSÃO
Desse modo, é possível analisar que as Atividades Circenses podem ser tratadas na escola com um componente a ser inserido nas aulas de Educação Física como um saber relativo à cultura corporal a ser trabalhado com os alunos, de maneira que possamos promover a compreensão, valorização e apropriação desta manifestação artística, através de uma abordagem educativa no âmbito pedagógico e, que também possibilite a cada aluno, a descoberta de suas possibilidades físicas e expressivas.
Considerando que os conteúdos desenvolvidos nas aulas de Educação Física se dão por meio de conhecimentos culturais do meio circense, podem ser desenvolvidos como novas experiências levando em consideração a relevância do tema abordado.
A quebra do distanciamento entre a escola com a Arte Circense é fundamental para que seja possível pensar em um processo de ensino-aprendizagem que se dê não necessariamente sob uma lona, mas também dentro da escola e assim, socializar conhecimentos de cunho históricos sociais que trazem contribuições para o aluno como aspectos sociais, afetivos, motores e psíquicos.
Ou seja, as Atividades Circenses constituem-se como um instrumento de possibilidades diversas na escola. Nesse caso, é destacado sobre a relevância de ser aplicado nas aulas de Educação Física no que diz respeito ao desenvolvimento variado que vai desde as habilidades motoras até saberes relacionados à questão da discussão de valores. E assim, por meio dessa amplitude de possibilidades, esse tema também pode ser tratado em outras disciplinas.
REFERÊNCIAS
BETTI, M; ZULIANI, L. R; Educação física escolar: uma proposta de diretrizes pedagógicas. Revista Mackenzie de Educação Física e Esporte, São Paulo: Editora Mackenzie, Ano 1, n. 1, p. 73-81, 1992.
BORTOLETO, M. A. C; MACHADO, Gustavo de A. Reflexões sobre o circo e a Educação Física. Corpoconsciência, Santo André, n. 12, p. 39-69, jul./dez 2003.
BORTOLETO, M. A. C; Introdução à pedagogia das artes circenses. 1. ed. Jundiaí: Fontoura, 2008.
BRACHT, V; Educação física e aprendizagem social. Porto Alegra: Magister, 1992
BRASIL. Ministério da Educação e Desporto. Secretaria de Ensino Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais. Brasília: MEC/SEF, 1998. (Área: Educação Física)
COLETIVO DE AUTORES. Metodologia de ensino de Educação Física. São Paulo: Cortez, 1992.
DAOLIO, J; Educação Física e o conceito de cultura. Campinas: Autores Associados, 2004.
DE GASPARI, J.C.; SCHWARTZ, G.M. Vivências em arte circense: motivos de aderência e expectativas. Motriz, Rio Claro, v.13, n3, p.158-164, jul/set 2007.
DUPRAT, R. M; Atividades circenses: possibilidades e perspectivas para educação física escolar. 2007. Dissertação (Mestrado) - Universidade Estadual de Campinas, Campinas, SP.
INVERNÓ, J; Circo y educación física: otra forma de aprender. Barcelona: Inde Publicaciones, 2003
*DICAS PARA A INSERÇÃO DAS ATIVIDADES CIRCENSES NA ESCOLA
BORTOLETO, M. A. C; Introdução à pedagogia das artes circenses. 1. ed. Jundiaí: Fontoura, 2008.
______. Introdução à pedagogia das artes circenses 2. 1. ed. Jundiaí: Fontoura, 2011.
Olá colega. Li teu texto sobre "A magia das atividades circences na escola." Essa temática é um pouco desconhecida para mim, mas gostei da maneira como tu propôs o assunto. Tua opinião a respeito ficou bem esclarecida esse conteúdo é de suma importância para os alunos e deverá ser incluído por nós professores nas aulas de Educação Física. Contudo, resta saber se: Os docentes atuantes em escolas estão abertos para a inserção desse conteúdo? É dificíl estudar uma temática desconhecida para levar aos alunos. Será que eles vão gostar de sair de quadra, do jogo de futebol para aprender as atividades circenses?
ResponderExcluirEntão, lanço esses questionamentos para todos nós refletirmos, em especial para ti que é a autora desse escrito. Parabéns pela escolha da temática.
Olá. Primeiramente obrigada pelas tuas colocações e teus questionamentos.
ExcluirPois é, esse é um dos empecilhos para a inserção desse tipo de atividade. Os professores até tem interesse mas não tem formação, alegam não estarem preparados para ministrar esse tipo de atividade. Porém, dentro do projeto de extensão "Atividades Circenses na Escola" realizamos alguns trabalhos de formação de professores, e até então existem alguns que continuam entrando em contato conosco para obter mais informações sobre o tema.
Já respondendo o teu segundo questionamento, após sairmos de algumas escolas, os alunos têm pedido as suas professoras para que trabalhem com essas atividades nas aulas. Provavelmente isso tem sido o fator que tenha aumentado a demanda de docentes nos procurando para saber mais sobre o assunto.
Além disso, há a resistência de uns poucos alunos durante as aulas mas só nos primeiros contatos, depois aparentam estarem satisfeitos e bem envolvidos com a prática. (Aline de Souza Caramês)