segunda-feira, 2 de abril de 2012

A MOTIVAÇÃO DOS ALUNOS NAS AULAS DE EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR

Hugo Norberto Krug

Considerações iniciais a respeito da motivação dos alunos nas aulas de Educação Física

        A motivação dos alunos reflete uma das maiores dificuldades sentidas pelos professores ao longo do período de desenvolvimento das atividades escolares básicas. Ela reflete toda uma experiência frustrante de professores nas escolas, discriminando alunos porque não aprendem, colocando sistemáticas reprovações nas suas vidas, e justificando que há falta de interesse e disposição do aluno em alcançar os objetivos educacionais (Pereira, 1992).
Canfield (apud Nascimento, 1993) diz que uma pessoa está motivada quando ela deseja alcançar alguma meta que satisfará seus desejos e interesses. Então, se a motivação é a chave de todas as nossas ações, torna-se fundamental no processo de aprendizagem. O aluno previamente motivado tem maior facilidade em assimilar os conteúdos propostos pelo professor em qualquer disciplina do currículo escolar. A Educação Física entra aqui com um papel importante, uma vez que é uma disciplina atraente à maioria dos estudantes e pode ser usada como uma grande fonte de motivação não só para a sua aplicabilidade como também estendendo-se para as outras disciplinas como para a própria vida de um modo geral.
        Desta forma, a preocupação com a motivação como meio de melhorar o aprendizado dos alunos deve ser uma das intenções de todo o professor competente.
Mas de que forma estes alunos ficam motivados para as aulas de Educação Física na escola? Para tentarmos responder esta questão e outras que por ventura possam vir a surgir fomos buscar na literatura o embasamento necessário. Portanto, o objetivo deste ensaio foi expor a importância da motivação nas aulas de Educação Física na escola.

As necessidades psicológicas como indicadores dos motivos
        Segundo Pereira (1992) o ser humano age sempre em função de motivos, sejam estes explícitos ou implícitos. Esses motivos se apresentam como uma forte razão interna que afigura uma necessidade psicológica.
        Desta forma, no momento em que o indivíduo manifesta interesse por determinada ação, diz-se que ele age em função de um objetivo. O objetivo aparece como algo desejável. O desejável pode apresentar-se como necessário (sem o qual o indivíduo não alcançará satisfação plena de suas tendências mais profundas e se sentirá frustrado) ou como útil (servindo para obter outros objetivos) ou ainda como agradável (cuja posse lhe oferece um prazer, cuja privação lhe será dolorosa).
        Neste sentido, a motivação aparece como uma predisposição interna que leva o indivíduo a agir em direção a determinado objetivo.
        Maslow (apud Foscharini, 1989) chegou ao conceito de "necessidade básica", estudando casos de neuroses, que o psicoterapêuta declara serem doenças causadas pela deficiência ou privação de alguma necessidade básica do indivíduo. Conclui também, que todos os indivíduos têm necessidades básicas, cujos graus de intensidade variam de um para outro e que são independentes, em sua essência, das diferentes culturas. O autor diz que as necessidades básicas são as seguintes: a) fisiológicas; b) de segurança; c) de amor; d) de estima; e, e) de auto-atualização.

Conceito de motivação
Para Lima (apud Batista, 1998) motivação é o estado psicológico que corresponde ao sentimento de uma necessidade.
Conforme Vernon (apud Batista, 1998) a motivação é encarada como uma espécie de força interna que emerge, regula e sustenta todas as nossas ações mais importantes.
A motivação, segundo Batista (1998), é uma força que se encontra no interior de cada pessoa e que pode estar ligada a um desejo. Uma pessoa não pode jamais motivar outra o que ela pode fazer é estimular a outra. A probabilidade está diretamente ligada à força de um desejo.
Já de acordo com Murray (apud Batista, 1998) uma pessoa é motivada em qualquer momento por uma variedade de fatores externos e internos.
        Para melhor estudar a motivação, segundo a Psicologia, podemos distingui-la em dois tipos:
1) Motivação intrínseca - é a motivação que leva uma pessoa àquilo que realiza, ou seja, o motivo pelo qual possuímos inclinação por alguma ou outra tarefa, é o interesse na atividade em si; e,
2) Motivação extrínseca - é aquela encarada como meio para alcançar outro objetivo dentro da atividade, ou seja, o aluno executaria uma atividade não porque gosta, mas porque o professor o está incentivando para fazê-la, buscando uma recompensa.
        Esta distinção é importante, pois para a escola e para o professor o grande desafio é desenvolver no aluno a motivação intrínseca para que ele participe da aula espontaneamente vendo sempre motivo para realizar tarefas e não apenas realizá-las para obter uma nota no final.

Norteadores do comportamento motivacional
Batista (1998) diz que fatores extrínsecos como salário, trabalho, segurança não motivam ninguém, eles só empurram às pessoas a se movimentarem para buscá-los quando os perderem.
Segundo Bergamini (apud Batista, 1998) existem norteadores de comportamento motivacional e ilustra de forma esquemática o que se entende pelas quatro orientações diferentes dos organizadores do comportamento motivacional.



ORGANIZADOR











PARTICIPAÇÃO

AÇÃO

MANUTENÇÃO

CONCILIAÇÃO






Atitude:
COOPERAÇÃO

Atitude:
RAPIDEZ

Atitude:
SEGURANÇA

Atitude:
SOCIABILIDADE






Busca:
DESENVOLVIMENTO

Busca:
RESULTADOS

Busca:
CONTINUIDADE

Busca:
ENTENDIMENTO


Cabe ao professor, depois de ter caracterizado em qual estilo de comportamento motivacional seu aluno reproduz, criar condições para que esse aluno goste cada vez mais da prática da aula de Educação Física (Batista, 1998).

Teoria das necessidades básicas do ser humano

Um dos autores que modernamente desenvolveu um trabalho importante no campo da motivação foi Maslow, com sua teoria das necessidades básicas do ser humano (Xavier, 1996).
Maslow concluiu que os indivíduos da espécie humana sentem necessidades básicas hierarquizadas por intensidade e diferenciadas, de acordo com padrões culturais (Pereira, 1992).
Segundo Chiavenato (1999) essa hierarquia de necessidades pode ser visualizada como uma pirâmide. Na base da pirâmide estão as necessidades mais baixas (necessidades fisiológicas) e no topo, as necessidades mais elevadas (as necessidades de auto-realização).
Quando uma necessidade de nível mais baixo é atendida, ela deixa de ser motivadora de comportamento, dando oportunidade para que um nível mais elevado possa se desenvolver. Essas necessidades assumem forma e expressões que variam muito de pessoa para pessoa, o mesmo ocorre com a sua intensidade ou manifestação.

A importância da motivação nas modernas teorias da aprendizagem

        Pereira (1992) descreve a importância da motivação nas modernas teorias de aprendizagem da seguinte maneira:
1) Aprendizagem por observaçãoBandura.
Os conjuntos de comportamentos são inicialmente aprendidos através da observação e imitação de um modelo, e as principais conseqüências da observação e imitação na aprendizagem estão vinculadas a que a observação de modelos desperta motivações internas que estão ligadas a experiências agradáveis ou dolorosas e determina certos comportamentos sociais.
2) Aprendizagem significativa Ausubel.
Existem duas dimensões no processo de aprendizagem: a) a aprendizagem por recepção - todo o conteúdo que deve ser aprendido é dado em sua forma final; e, b) a aprendizagem por descoberta - o aprendiz obtêm informações independentes das que lhe foram oferecidas, pois nem tudo que deve ser aprendido lhe foi apresentado na forma final, descobrindo assim novas maneiras de entender o assunto. Esta dimensão procura desencadear motivos para que o aprendiz se interesse por descobrir novas respostas nas relações existentes entre si e o ambiente. É nesse ponto que a teoria se importa com a motivação.
3) Teoria Gestaltica Köhler e Koffka.
Esta teoria afirma que a aprendizagem é determinada pela configuração ou gestalt dos estímulos. Ela enfatiza o contexto do campo no qual o estimulo ocorre, e o insight derivado, quando a relação entre o estímulo e o campo é aprendida pelo aprendiz.
Para os gestaltistas, o sujeito reage a uma situação total, complexa mas contextualizada, ao invés das partes. As habilidades do indivíduo em entender à relação essencial da estrutura do todo, a fim de chegar à solução desejada, se interdependem com os motivos, como curiosidades, auto-expressão, aprovação social e outros. As experiências passadas aumentam as probabilidades de alcance do “insight".
4) Teoria TopológicaLewin.
A aprendizagem consiste em uma mudança na motivação. Freqüentemente um resultado desejável é uma mudança nos interesses e valores do aprendiz, isto é, uma mudança na relativa atração de um alvo, após o outro.
As experiências anteriores de sucesso ou fracasso influenciam a maior ou menor atração por determinado alvo de ensino. Isto é, influenciar a motivação.
5) FuncionalismoDewey e Woodworth.
O funcionalismo não se define por ser uma teoria de aprendizagem propriamente dita, no entanto, numa abordagem sobre a motivação, se detém no estudo que faz sobre certos aspectos da aprendizagem
A aprendizagem consiste num processo de reajustamento, que se inicia com o aparecimento de um problema, quando uma atividade e mandamento é bloqueado por um obstáculo.
Estes teóricos se preocupam com atividades e não com movimentos. Descrevem o ato adaptativo, como aquele que envolve um estimulo motivador, uma situação sensorial e uma resposta que satisfaz às condições motivadoras.
6) Teoria da EquilibraçãoPiaget.
Piaget embora não negando as necessidades biológicas como sede, fome, focos primários dos motivos, ressalta no indivíduo, um esforço interno motivacional, da própria inteligência em que as estruturas cognitivas geradas para o funcionamento produzem a própria razão de ser funcional.
Tanto os órgãos biológicos quanto os psicológicos são criados através do funcionamento e, uma vez criados, precisam continuar a funcionar.
A teoria da motivação se debruça basicamente na importância dos impulsos de curiosidade ou de exploração, na importância a ser levada em conta das necessidades de atividades e das necessidades sensoriais.
7) Ferreiro.
Não há preocupação especifica com a motivação, no entanto é ressaltada a importância dos esforços pessoais das crianças em construir sua própria aprendizagem acaba a ela referindo-se.
Cada um constrói a sua aprendizagem e envolvidas nessa construção, basicamente estão suas aspirações pessoais e, portanto, suas motivações.

Como minimizar a falta de motivação dos alunos?

Pereira (1992) coloca que é através de alternativas pedagógicas que irá se diminuir a falta de motivação dos alunos, e para tanto sugere que: a) se aplique uma dinâmica adequada as aulas de Educação Física para que sejam facilitados os caminhos que despertem motivos dirigidos à aprendizagem; b) os professores devem assumir uma postura crítica e científica sobre o seu trabalho e que este leve em conta as necessidades e desejos das crianças; c) os problemas do ensino sejam revisados continuamente, construindo novos compromissos e descobrindo outras possibilidades de ensino; e, d) os professores não usem a motivação voltada para um produto final "da prática pela prática" mas como um elemento facilitador do processo educacional.
Batista (1998) coloca os seguintes meios para se motivar alunos do ensino médio nas aulas de Educação Física: a) cuidar de criar nos alunos valores, o ser humano não se esforça sem objetivos; b) mostrar que a disciplina poderá ajuda-lo a realizar-se; c) fazer os adolescentes se interessarem por uma atividade, transformando-a em meio para atingir um fim desejável; d) mostrar aos alunos que se interessa por eles; e) motivar ao aluno através de dinâmicas de grupo; f) apresentar um bom estado de espírito que também é fator decisivo na motivação; g) demonstrar que a escola é um estimulo positivo; h) mostrar sempre a disposição para aprender, pois assim, o professor será uma fonte de orientação; e, i) conduzir a aula, transmitindo ao aluno os problemas da realidade, assim a motivação surge espontaneamente.

Considerações finais a respeito da motivação dos alunos nas aulas de Educação Física

A motivação é também denominada como o estímulo da vontade do aprender, sendo um dos fatores centrais que influenciam o processo de aprendizagem. O ensino, hoje, tem como problema básico em sua metodologia, como fornecer aos alunos motivos ou estímulos de uma maneira interessante e natural. Segundo Kelly (apud Nascimento, 1993) este problema envolve dois fatores: o primeiro é encontrar os motivos que estimulam o interesse e o esforço do aluno; o segundo, orientar e saber dirigir estes interesses e esforços, de maneira que o aluno mantenha e cultive em si motivos reais de encontro com a própria escola.
Portanto, tanto a escola e, principalmente, o professor tem um papel fundamental no processo motivacional dos alunos. A personalidade do docente, bem como os materiais, técnicas e métodos como: elogiar em grupo, recompensar por determinada tarefa, informar o progresso do aluno e utilizar-se racionalmente da competição, podem ser fatores motivacionais dos alunos. O tipo de motivação mais satisfatório é o desejo, por parte do aluno, de executar sua tarefa sem uma pressão externa. O progresso é rápido quando o aluno compreende sua tarefa e reconhece que coincide com seus interesses e o conhecimento do resultado aumenta a rapidez e aperfeiçoa as realizações. Já a competição é um incentivo eficaz para estimular os alunos sendo a auto-competição especialmente recomendada, pois a motivação individual é superior a motivação coletiva. É a partir destes princípios que o professor terá condições de criar uma aula em que o aluno possa ser integral em relação à atividade e a si mesmo.

Referências

Batista, D.T.F.A. Aspectos motivacionais nas aulas de Educação Física em alunos de 2° grau de quatro escolas particulares no Distrito Federal, 1998, Brasília. Monografia (Especialização) – Universidade de Brasília, Brasília, 1998.

Chiavenato, I. Introdução à teoria geral da administração. 5. ed. Rio de Janeiro: Campus, 1999.

Foscharini, J. A importância da motivação para o desenvolvimento da ginástica escolar de primeira a quarta série do primeiro grau, 1989, Palmas. Monografia (Especialização) - Palmas, 1989.

Pereira, M.H.S. A motivação na aprendizagem e ensino em Educação Física, 1992, Santa Maria. Monografia (Especialização) – Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria, 1992.

Nascimento, J.R. do. Estudo dos aspectos motivacionais que despertam o interesse pela prática do handebol nas escolas de Chapecó, Chapecó, 1993. Monografia (Especialização) – UNOCHAPECÓ, Chapecó, 1993.

Xavier, T.P. Teoria da terceira força de Maslow: analisada segundo os critérios de Thomas. In: Pereira, F.M.; RIGO, L.C. (Orgs.). Educação Física, esporte e escola. Pelotas: Editoria Universitária / Universidade Federal de Pelotas, 1996. p.234-246.

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