Após um período de reflexões e tentando voltar a ativa venho realizar um recomeço se assim posso dizer, com esta contribuição. Após ler, reler, ler novamente os textos escritos no ciclo de estudo chego a um pensamento de aprofundar um pouco mais as colocações do Prof. Clairton quando fala sobre a pesquisa realizada pelo Prof. Valter Bracht, voltando ao pensamento de que primeiramente devo observar historicamente qual o caminho que esta Educação Física Escolar do Brasil vem realizando ao decorrer destes anos, me atendo também nas falas realizadas pelo mesmo aqui em Santa Maria.
Sendo assim, ao observar as propostas de Pimenta (2000), Libâneo (2000) e Fernández Balboa (2004) destacadas pelo professor Bracht, podemos dizer que estes fazem uma distinção entre a pedagogia e a didática, mas devem estar pensando o porquê realizo este pensamento, o que posso dizer é que ao observar estas propostas chego a conclusão que até a década de 1980 tínhamos um enfoque na didática em relação à reflexão pedagógica, sendo assim a discussão pedagógica nunca ultrapassava aos limites da discussão didática.
Valter Bracht nesta palestra realizada no I Seminário Internacional de Educação Física na UFSM, abordou este tema salientando que um dos indicadores deste enfoque na didática esta na preponderância dos manuais contendo formas de exercitação, indicadores e procedimentos de ensino, sendo que pouco foi trabalhado ou não foi trabalhado a preocupação com a discussão em torno das finalidades sociopolíticas da Educação Física Escolar (EFE). Neste entender, apartir desta discussão da década de 1980 que entramos em um enfoque pedagógico. Apartir deste entramos em outro extremo onde a EFE parte para uma discussão onde se desassocia a essa nova com a didática, entendendo a didática como a prática, oferecendo respostas do como fazer, do como ensinar e do como treinar.
Com o implementar do pensamento progressista na EFE brasileira, passamos a alvejar a educação tecnicista (didática) como este sendo mais um dos mecanismos usados pelos capitalistas para influenciar as pessoas a reprodução e não à reflexão. Para Libâneo (2000, p.103), ocorre uma “sociologização do pedagógico”, mas esta prática dos professores passa a ser entendida como uma reprodução das decisões sociais e políticas. O que importa nesta fala é destacar que a EFE perde prestígio nestas questões, gerando uma nova dicotomia para os professores os “teóricos” e os “práticos”. Neste sentido que o professor Valter destaca que aconteceu uma grande perda devido quem sabe a análise destes professores no qual acontece até nas universidades onde os professores universitários, formadores de novos professores ainda possuem uma dicotomia de EFE, uns dão as mesmas aulas que davam antigamente pensando serem práticos e outros se negam a darem aulas práticas fundamentando serem teóricos.
Tardif (2000, p. 121) coloca muito bem suas palavras quando afirma que:
[...] a relação entre a pesquisa universitária e o trabalho docente nunca é e nunca deveria ser uma relação entre teoria e prática, mas sempre, ao contrario, uma relação entre autores, entre sujeitos cujas práticas são portadoras de saberes.
Então, qual a divisão entre a teoria e a prática? Se pensarmos como o texto seria os que pensam e os que executam. Mas Tardif (2000, p. 127) diz que:” esta desvalorização dos saberes dos professores pelas autoridades educacionais, escolares e universitárias não é um problema epistemológico ou cognitivo, mas político”. Ai que esta a discussão da EFE, onde o professor não deve somente pegar os cadernos didáticos e aplica-los, pensando ser estes as soluções de seus problemas, sim, deve reconstruir, reinventar sua prática referenciando-as nas ações e nas experiências encontradas nas reflexões teóricas. É fundamental ao professore se apropriar de teorias, mas que estas sejam de forma autônoma e critica, sendo sim autor de sua própria prática. Acho que estamos avançando, mas temos muito mais a avançar pois acredito que ainda somos meros bonecos de um sistema que nos faz reproduzir e não pensar, que nos impõe e não pede ideias, que nos paga o quanto acha que valemos e não o quanto somos importantes para a construção de uma consciência de EFE diferenciada.
Agora, observando um pouco mais a pergunta realizada pelo Prof. Clairton, o qual pergunta se: “com a aproximação dos mega-eventos existe risco de retrocesso nas conquistas da Ed. Física referente ao campo educacional, retornando a velha concepção de treinadores em vez de professores?” posso dizer que chegamos a um grande problema, onde até escutei juntamente com os demais acadêmicos presentes no Seminário, um professor universitário falar que assistir a copa e o fantástico traz ao povo muito mais benefícios que a própria EFE e ainda mais, fala que os benefícios dos recursos que serão empregados na copa farão melhor para o país que a própria EFE tem feito durante estes anos (olha por se tratar de um professor que possui muitos anos de CEFD e ser comprometido com a EFE como o mesmo disse, fiquei chocado como o Prof. Valter também). Olha acho que o risco está ai, gastaremos mais de 72 Bilhões de reais na copa, gastos em coisas que o brasileiro não irá usufruir depois da copa, olha o Pan no Rio, foram gastos 3,5 bilhoes de reais, o estádio tudo bem esta sendo usado, mas e o resto? O velódromo que custou muito dinheiro esta abandonado, pois ninguém pode entrar devido ser muito sensível, o complexo Aquático Maria Lenk estava desativado devido ao valor de manutenção, igualmente acontece com o Maracanã que será gasto mais um grande valor depois do já gasto com o Pan e ainda maracanazinho que foi totalmente reformado e não se pode usar.
Para ser sincero, claro que nunca seria investido, mas tem muitas universidades federais que estão sucateadas, professores com salários defasados, sem equipamentos, sem infraestrutura e ainda assim estamos atirando dinheiro fora, pois estes mega-eventos como falaste, não são para o povo que não tem acesso a uma EFE de qualidade (quando falo qualidade quero dizer: professores motivados, ganhando bem, com infraestrutura, materiais e formação), estes não poderão sequer conhecer o estádio se não trabalharem nele, acho que ela a EFE, educação em geral, sai novamente prejudicada.
Não sei se tem alguém que concorda com tudo que escrevi acima, mas foi como se fosse um desabafo.
Referencias
BRACHT, V. Educação física & ciência: cenas de um casamento (in)feliz. Ijuí: UNIJUÍ, 1999.
BRACHT, V. O tempo e o lugar de uma didática da Educação Física. Rev. Bras. Cienc. Esporte, Campinas, v. 28, n. 2, p. 21-37, jan. 2007. Disponível em: http://www.rbceonline.org.br/revista/index.php/RBCE/article/viewArticle/53, Acesso em: 10 de Dezembro 2011.
FERNÁNDEZ BALBOA, J. M. Recuperando el valor ético-político de la pedagogía: las diferencias entre la pedagogía e la didáctica. In: FRAILE, A. (Coord.). Didáctica de la educación física: una perspectiva crítica y transversal. Madrid: Biblioteca Nueva, 2004. p. 315-330.
LIBÂNEO, J. C. Que destino os educadores darão à Pedagogia? In: PIMENTA, S. G. (Org.). Pedagogia, ciência da educação? São Paulo: Cortez, 1996. p.107-134.
LIBÂNEO, J. C. Educação: pedagogia e didática. In: PIMENTA, S. G. (Org.). Didática e formação de professores: percursos e perspectivas no Brasil e em Portugal. São Paulo: Cortez, 2000. p.77-129.
PIMENTA, S. G. Para uma re-significação da didática. In: . (Org.). Didática e formação de professores: percursos e perspectivas no Brasil e em Portugal. São Paulo: Cortez, 2000. p. 19-76.
TARDIF, M. Os professores enquanto sujeitos do conhecimento: subjetividade, prática e saberes no magistério. In: CANDAU, V. M. (Org.). Didática, currículo e saberes escolares. Rio de Janeiro: DP&A, 2000. p.112-128.
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