terça-feira, 8 de novembro de 2011

II CICLO DE ESTUDOS - Temática: Identidade Profissional - Carla

Contribuindo com a Temática Identidade Profissional, que tem como mediador o professor Leonardo Germano Krüger, temos que processo de construção da identidade profissional docente inicia-se antes mesmo da entrada no curso de formação inicial, pois cada sujeito já possui uma propensa identidade de ser professor.
A respeito deste processo, temos que tanto o imaginário social, como o nosso imaginário de professor podem ser construídos baseados nos professores que tivemos na nossa vida escolar, dentre outras maneiras. Por isso, torna-se importante resgatarmos nossos tempos de infância e adolescência, nossas primeiras vivências escolares, procurando ver as “marcas” que trazemos desses tempos-espaços e o quanto essas incorporam o nosso “modo de ser” e “dever-ser” de educadores.
Por isso, podemos considerar esse aspecto como um fator que influencia na construção da nossa identidade profissional docente, pois, nos baseamos nas diferentes identidades dos professores que encontramos ao longo da nossa trajetória escolar, às vezes, de forma positiva, outras vezes, de forma negativa, dependendo das significações que fizemos dessas. Independente da forma como nos marcaram, eles vão fazer parte da construção de nossa identidade de professores, e, consequentemente, das nossas práticas educativas com as crianças e adolescentes que hoje vivem processos similares.
Para Borges (2001) em se tratando dos motivos que determinam as escolhas das profissões, estas não são fruto de uma escolha individual, mas de um conjunto de fatores externos (envolvimento com a área e com pessoas que fazem parte dela) que, aliados às condições subjetivas do sujeito, constituem as circunstâncias de vida, nas quais se desenrolam os momentos de escolha.
Assim, a construção da docência envolve a possibilidade do professor beneficiar-se de suas experiências formativas vividas ao longo de sua trajetória escolar, no processo pelo qual podem revivê-las via memória. Podendo, desse modo, serem revertidas em aprendizagens experienciais, em prol de melhor qualidade para o seu trabalho, no âmbito escolar, como também em sua vida pessoal. Nesse sentido, encontra-se em Nóvoa (1992, p.16) a identidade como sendo um lugar de lutas e conflitos, é um espaço de construção de maneiras de ser e de estar na profissão. Por isso, é mais adequado falar em processos identitários, realçando a mescla dinâmica que caracteriza a maneira como cada um se sente e se diz professor.
Ainda, para Nóvoa (1992), existem os três AAA que sustentam o processo identitário dos professores: A de Adesão, A de Ação e A de Autoconsciência. Adesão - porque ser professor implica sempre adesão a princípios e a valores, a adoção de projetos, um investimento positivo nas potencialidades das crianças e dos jovens; Ação – na escolha das melhores maneiras de agir, se jogam decisões do foro profissional e do foro pessoal, pois, o sucesso ou o insucesso de certas experiências “marcam” a nossa postura pedagógica, fazendo-nos sentir bem ou mal com esta ou aquela maneira de trabalhar na sala de aula; e, Autoconsciência – porque tudo se decide no processo de reflexão que o professor leva a cabo sobre a sua própria ação, de modo que a mudança e a inovação pedagógica estão intimamente dependentes deste pensamento reflexivo.
Assim, podemos compreender que ser profissional da educação é um movimento dialético do ir se construindo enquanto trajetória individual e coletiva, na qual se inserem as condições psicológicas e culturais dos professores. E é nela também que os condicionantes dos sistemas educativos e das organizações escolares incidem em suas ações e posturas. Ou seja, o ser professor é algo permanentemente inacabado, pois ele vai se construindo gradativamente, é um processo que sofre influências tanto do âmbito pessoal como profissional.
Nesse sentido conforme Isaia e Bolzan (2009), os processos formativos são construídos a partir de experiências vividas (aprendizagens experienciais) pelos sujeitos/professores. Tal processo engloba tanto fases da vida quanto da profissão, envolvendo, desse modo, a dimensão pessoal, marcada pela subjetividade (modo como os professores e o mundo se interpenetram, influenciando-se mutuamente), e, a dimensão profissional (modo dos professores transitarem nos espaços institucionais e se inteirarem do saber fazer, da profissão). Portanto, há uma intrínseca relação entre os processos formativos e trajetórias de formação, pois, ambos compreendem o movimento construtivo dos professores na unicidade da dimensão pessoal e profissional.
De acordo com Abraham (2000), os professores possuem o eu pessoal e o eu profissional. Percebemos então que não há possibilidade de separação entre a profissão e a vida pessoal. O professor é uma pessoa, embora nem sempre tenha se assumido isso.
Acreditamos que o eu pessoal do professor compreenda as múltiplas identidades, riqueza de diversidade, apropriação subjetiva da identidade social e a personalidade dos sujeitos. Já o eu profissional compreende a construção com a dimensão espaço-temporal que atravessa a vida profissional, se constitui de saberes pedagógicos e científicos que servem de referência, tem marcas de opções tomadas, práticas desenvolvidas e experiências feitas.
Talvez, então, para que os professores nos diversos níveis de ensino sintam-se seguros quanto à realização de atividades com seus alunos - tanto relacionadas, por exemplo, à Educação Física, quanto às outras áreas de conhecimento - seja necessário que a formação docente propicie a eles a oportunidade de refazer o percurso de aprendizagem que não foi satisfatoriamente realizado na educação básica para transformá-los em bons professores, que no futuro contribuirão para a melhoria da qualidade da educação como um todo.
Essa afirmação, aparentemente redundante, tem o objetivo de evidenciar que a formação inicial de professores constitui o ponto principal a partir do qual é possível reverter a qualidade da educação.
Desse modo, os atuais programas de formação inicial de professores podem ser um meio de transformar essa realidade, a fim de que os professores - a partir de momentos, espaços de discussões e de reflexões acerca de sua identidade docente quando atuarem profissionalmente - sintam-se valorizados.
Os cursos de formação inicial de professores servem, portanto, para a canalização do motivo pelo qual se insere em uma Licenciatura, de modo que ocorra a transformação do “gostar de ensinar”, que se caracteriza como sendo a identidade profissional do ser professor.
Assim, está evidente a necessidade de os cursos de formação inicial de professores oportunizarem aos futuros profissionais de educação momentos nos quais estes possam refletir e discutir sua condição de educadores, a fim de internalizarem o ser professor e a sua a ação educativa como sendo seu ofício.
REFERÊNCIAS
ABRAHAM, A. El universo profisional del enseñante: um laberinto bien organizado. In: ABRAHAM, A. (Org.). El enseñante es tambien uma persona. Conflictos y tensiones em el trabajo docente. Barcelona: Gedisa, 2000. p.23-32. [original editado em Paris, 1984].
BORGES, C.M.F. O professor de Educação Física e a construção do saber. 2. ed. São Paulo: Papirus, 2001.
NÓVOA, A. Os professores e as histórias da sua vida. In: NÓVOA, A. Vidas de professores. Porto: Porto Editora, 1992. p.11-30.
ISAIA, S.M.A.; BOLZAN, D.P.V. Trajetórias da docência: articulando estudos sobre os processos formativos e a aprendizagem de ser professor. In: ISAIA, S.M.A.; BOLZAN, D.P.V. (Orgs.). Pedagogia universitária e desenvolvimento profissional docente. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2009. p.121-143.

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