domingo, 27 de novembro de 2011

II CICLO DE ESTUDOS - Temática: Educação Física Escolar - Franciele


                Acredita-se que seja consenso entre os professores de Educação Física, assim como os docentes das demais disciplinas, a dificuldade e a insegurança presentes na fase inicial da carreira. Isto porque, este período representa o primeiro momento em que o sujeito deixa de “ser” aluno para caracterizar-se como professor. Há uma mudança muito representativa e significativa neste sentido, mesmo considerando que o sujeito já teve experiências docentes nos estágios de sua formação inicial e/ou em outros projetos e programas de iniciação à docência. Mas qual a relação desta reflexão introdutória referente à entrada na carreira com os caminhos e descaminhos da Educação Física Escolar?
Esta relação pode ser compreendida a luz da seguinte constatação, em especial quando se enfoca a prática docente deste componente curricular: a sensação e conclusão que se chega é que uma grande parcela dos professores de Educação Física estão em constante período de entrada na carreira, porque não há um mínimo de consenso entre eles de “o quê” e de “como ensinar”. Mínimo, porque para que uma área de conhecimento se legitime dentro de um currículo escolar é necessária a identificação de um mínimo de conteúdos, saberes a serem ensinados, problematizados, objetivados. E o conhecimento da Educação Física na escola mostra-se regularmente obscuro e indefinido, não só para estes docentes, mas para os seus colegas de trabalho, para a escola, para a comunidade escolar e para a sociedade. Muitos professores de Educação Física, quando questionados sobre “o quê” trabalham em suas aulas - porque o “como” raramente é questionado, talvez porque acreditem que só existe uma forma de ensinar - geralmente não conseguem explicar e fundamentar tal questionamento a ponto de mostrar a relevância desta disciplina no currículo escolar, as respostas giram em torno de: “nós trabalhamos com o esporte”; “com vôlei, futebol e atletismo”; “esportes, dança e ginástica”. Óbvio que, ao se levar em conta os Parâmetros Curriculares Nacionais da Educação Física, por exemplo, os conteúdos lá indicados serão estes, com a inclusão dos jogos e peculiaridades para a Educação Infantil e Ensino Médio. Além disso, este documento também apresenta aspectos didáticos e avaliativos para subsidiar as aulas de Educação Física, da mesma forma, pode-se considerar as diferentes abordagens para o ensino deste componente curricular. No entanto, em meio a tantos subsídios teóricos e alguns teórico-práticos a impressão que se tem é que eles não dão conta da complexidade do ato educativo da área. Inclusive, podem vim a gerar mais dilemas para os docentes em escolher uma ou outra perspectiva ou mesmo a mescla entre elas, quando for possível. E quando é possível? Acerca desta temática Barbosa (2010, p.9) chama a atenção para a “carência de trabalhos que dêem conta de atender a uma demanda, cada vez maior, por respostas aos problemas cotidianos da Educação Física escolar”. Destaca ainda que o problema está no número insuficiente de trabalhos que não conseguem abarcar as diferentes temáticas, pois os estudos existentes são muito significativos para a área.
Mas o aspecto que quero destacar é que, devido à história e a própria realidade da área, os professores precisam ir além desta enumeração conteudista para valorizar a Educação Física e o seu próprio trabalho. Estando inclusive, mais fundamentados teoricamente que os professores das outras disciplinas, já que, quando um docente de matemática é questionado sobre “o quê” está trabalhando em aula, ele responde qualquer um dos conteúdos e ponto, a resposta é suficientemente válida para reforçar a relevância de seu trabalho, pois o que este docente trabalha, ou é solicitado no vestibular ou constitui-se como base para a compreensão de tais conteúdos.
Diante deste contexto, um caminho para o fortalecimento e legitimidade da Educação Física Escolar pode ser este, o investimento no conhecimento do professor de Educação Física da disciplina na qual trabalha a partir de um rol mínimo de conteúdos e saberes: Quais são os conteúdos e saberes mínimos a serem trabalhados em aula? Quais são os objetivos primordiais a serem conquistados? Qual será o trato pedagógico dado em sua disciplina? Como os alunos serão avaliados? Como o seu próprio trabalho será avaliado?
Legitimar a importância do trabalho com a cultura corporal de movimento requer a construção de uma cultura de compreensão do que ela própria significa, bem como dos meios de atingi-la e de suas finalidades. Nas palavras de Barbosa (2010, p.9) “é necessário avançar dessa obrigatoriedade delegada pela Lei 10.793/03 (BRASIL, 2003) para uma outra, construída a partir do reconhecimento, pela comunidade escolar, da necessária existência da Educação Física na grade curricular”.
REFERÊNCIA
BARBOSA, C.L. de A. Educação Física e Didática: um diálogo possível. Petrópolis: Vozes, 2010.

Nenhum comentário:

Postar um comentário