Abordar a temática da formação docente constitui-se num desafio diante dos vários enfoques possíveis e da ampla gama de aspectos que se apresentam interligados e articulam-se uns com os outros, resultando num emaranhado de interpretações, compreensões, conceitos, teorias e práticas. É preciso ter cuidado ao tratar esses elementos, em discursos e textos, já que diante da vasta literatura sobre o tema, diferentes perspectivas se contrapõem no entendimento desse ou daquele aspecto, em relação as suas bases epistemológicas e teóricas.
No que tange as vivências tidas antes do ingresso no curso de formação de professores, por exemplo, alguns autores como Tardif (2008), Diniz-Pereira (2000) e Silva (2005) sinalizam que essas também contribuem para a constituição do ser professor. Outros pesquisadores, não mencionam nada a este respeito, seja por discordarem desta idéia, por desconhecerem ou mesmo por não acharem relevantes a ponto de inserirem em suas reflexões.
Entretanto, as vivências anteriores do professor, enquanto aluno, são tão marcantes que muitas vezes as crenças, as representações e a bagagem de conhecimentos não são modificados com a realização do curso superior, sendo reproduzidos por meio da ação docente deste mesmo sujeito (TARDIF, 2008).
Estes conhecimentos, de acordo com Tardif (2008), se constituem como saberes temporais, adquiridos e reforçados durante um longo período, por isso são tão difíceis de serem modificados, revistos, reconstruídos e eliminados.
Diante disso, a constatação de Tardif (2008) sobre a não alteração dos conhecimentos-chave que o professor adquiriu como aluno em contraste com a sua formação profissional pode subsidiar um questionamento fundamental e que merece ser discutido: Como que um professor destina aproximadamente quatro anos de sua vida a um curso superior que não é capaz de transformar as suas crenças e representações construídas como aluno (geralmente sem muita reflexão a respeito da docência) e de acrescentar novos elementos que possam subsidiar sua prática docente?
Pergunta-se ainda: Qual a função de um curso de licenciatura? Será que os cursos de licenciatura em Educação Física vêm alterando essa bagagem de conhecimento?
REFERÊNCIAS
DINIZ-PEREIRA, J.E. Formação de professores: pesquisa, representações e poder. Belo Horizonte: Autêntica, 2000.
SILVA, R.C. O professor, seus saberes e suas crenças. In: GUARNIERI, M.R. (Org.). Aprendendo a ensinar: o caminho nada suave da docência. 2. ed. Campinas: Autores Associados, 2005. p.25-43.
TARDIF, M. Saberes docentes e formação profissional. 9. ed. Petrópolis: Vozes, 2008.
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