terça-feira, 18 de agosto de 2015

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Texto Publicado na Revista Querubim

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Revista Querubim – revista eletrônica de trabalhos científicos nas áreas de Letras, Ciências Humanas e Ciências Sociais – Ano 11 Nº26 vol. 01 – 2015 ISSN 1809-3264 Página 17 de 118 

DO PICADEIRO À ESCOLA: AS ATIVIDADES CIRCENSES E AS RELAÇÕES COM A EDUCAÇÃO FÍSICA 

Aline de Souza Caramês
Mestre em Educação Física (UFSM); aline.geralda@gmail.com 
Daiane Oliveira da Silva
Mestre em Educação Física (UFSM); daí_tupa@yahoo.com.br
Hugo Norberto Krug
 Doutor em Educação (UFSM); hnkrug@bol.com.br

Resumo 
O estudo objetivou verificar a importância das atividades circenses como uma das práticas corporais inseridas nos conteúdos da Educação Física Escolar de forma a propor a compreensão de questões culturais do circo. A pesquisa caracterizou-se como descritiva exploratória pautada em achados científicos. As discussões mostraram que as transformações no mundo do circo foram mudanças significativas na cultura e que podem ser tratadas na Educação Física Escolar, para favorecer ao aluno um conhecimento corporal amplo e da realidade, pois através da reflexão sobre si mesmo e a cultura ocorrerá o desenvolvimento do pensamento crítico e da formação integral. 
Palavras-chave: Atividades Circenses. Cultura. Escola. Educação Física. 

OF RING TO SCHOOL: THE CIRCUS ACTIVITIES AND THE RELATIONS WITH THE PHYSICAL EDUCATION

Abstract 
The study aimed to verify the importance of circus activities with a of the corporal practices inserted in school physical education content so the to propose the understanding of cultural issues of the circus. The methodology was characterized with descriptive exploratory research guided in scientific findings. The discussions showed that the changes in the world of the circus were significant changes in culture and that can be treated in school physical education, for favor the student a knowledge body broad and also of reality, because through of the reflection about yourself and the culture may occur the development of critical thinking and of the integral formation. 
Keywords: Circus Activities. Culture. School. Physical Education. 

Considerações iniciais 

A escola é um meio educacional significativo em relação ao oferecimento de oportunidades e de desenvolvimento integral das pessoas. A Educação Física enquanto componente curricular da escola, para o Coletivo de Autores (1992), tem como conteúdos clássicos da cultura corporal, o jogo, o esporte, as lutas, a dança e a ginástica. Portanto, o foco da área não deve estar ligado apenas às habilidades e às competências para o esporte, mas para a ampliação dos conteúdos no âmbito da cultura corporal. Dizem que os conteúdos são conhecimentos necessários à apreensão do desenvolvimento sócio-histórico das próprias atividades corporais e à explicitação das suas significações objetivas. Deve-se considerar a seleção e organização dos conteúdos para promover a leitura da realidade, analisando a origem do conteúdo e, assim, conhecer o que determinou a necessidade de seu ensino. 
Bortoleto (2008) aponta um caminho em que as atividades circenses são divididas em unidades didáticas pedagógicas que facilitam o desenvolvimento teórico- prático dos conteúdos para uma melhor organização desses. Essas unidades englobam acrobacias, equilíbrios, encenação, atividades aéreas e de manipulação de objetos. É importante ressaltar que o circo faz parte do acervo cultural da humanidade, como parcela integrante da difusão das artes e da cultura popular. 
Desse modo, sugere-se que as atividades circenses possam ser incluídas nas escolas como conteúdo das aulas de Educação Física, proposta como mais uma prática corporal que venha somar-se aos aspectos culturais no processo pedagógico. Assim, a partir destas premissas, o estudo objetivou verificar a importância das atividades circenses como uma das práticas corporais inseridas nos conteúdos da Educação Física Escolar de forma a propor a compreensão de questões corporais do circo. 


Decisões metodológicas 

O estudo caracterizou-se como uma pesquisa qualitativa descritiva e exploratória. Para Fazenda (1989), na pesquisa qualitativa se fundamenta em um trabalho descritivo de situações, pessoas ou acontecimentos em que todos os aspectos da realidade são importantes. Severino (2007) diz que na pesquisa exploratória busca-se levantar informações sobre um determinado objeto, delimitando um campo de trabalho, mapeando as condições de manifesto do mesmo. Desta forma, na realização do estudo utilizou-se achados científicos com temas sobre a cultura e sua relação com a Educação Física, isto é, sobre o desenvolvimento de atividades circenses na Educação Física Escolar e questões culturais do circo. A análise se deu a partir da relação como a cultura é tratada na Educação Física, e as contribuições que têm com as atividades circenses, através de uma possibilidade de aproximar a evolução do mundo circense com as aulas de Educação Física. A discussão foi realizada por meio de elaboração da síntese interpretativa. De acordo com Minayo (2011), deve-se elaborar uma redação onde ocorra um diálogo dos temas tratados na pesquisa com os objetivos, podendo incluir as questões e os pressupostos da pesquisa. Assim, a interpretação da análise de dados obtidos foi realizada de modo a contemplar a importância e a relação que as atividades circenses têm com a Educação Física, sendo esta baseada no caráter cultural que envolve as transformações do circo. A cultura do circo: a arte milenar da lona ao palco 
O circo é considerado pelo Ministério da Cultura como um patrimônio histórico da cultura, pois constitui uma forma de expressão fundamental para a formação da cultura brasileira pelo seu modo itinerante de ser e a capacidade de trazer influências em todo território. Castro (2005) salienta que a ideia de circo vem de concepções ligadas às características peculiares unidas em artes como pinturas chinesas com retratos de acrobatas, equilibristas e contorcionistas, onde nesse período, havia o uso de elementos como adestramento de animais, malabarismo, acrobacias e magia em treinamentos de guerreiros para favorecer competências ligadas às capacidades corporais. 
Essa manifestação cultural foi se desenvolvendo através dos saltimbancos, que realizavam apresentações de malabarismos e acrobacias em feiras e praças públicas. Destaca que no decorrer das transformações da sociedade ao longo dos anos, até hoje são desenvolvidas novas possibilidades do trabalho com o corpo do homem que não são necessariamente sob uma lona, chegando aos diferentes níveis de classes sociais que confraternizam a magia do universo circense em praças, teatros e casas de shows. 
Ainda deve ser considerado que os artistas circenses trazem contribuições artísticas e culturais que há séculos enriquecem a variedade de conhecimentos culturais numa simbologia de características que, posteriormente, possibilitaram uma relação com o processo educativo. 
Já Geertz (2008) diz que os símbolos que compõem a cultura se objetivam em ações públicas e observáveis que buscam sentido ao modo de vida dos grupos. Por essa importância criase a possibilidade de trazer o tema circo para dentro da escola. Relativamente às transformações culturais é evidente que a tecnologia proporcionou a criação de variadas formas de diversão e lazer para as pessoas, inclusive no meio circense, destacando a relação com a estrutura do circo, e consequentemente a isso, as diferentes modalidades surgidas no processo histórico de seu desenvolvimento. Corroborando com isso, Geertz (2008) coloca que compreender a cultura de um povo expõe a sua normalidade sem reduzir sua particularidade. 
De acordo com Barone (2006) a cultura circense baseou-se em dois pilares: a transmissão oral do conhecimento e a estrutura familiar. Isso se dava em grupos relativamente fechados com aprendizagem sigilosa, onde os incluídos tinham diferentes graus de parentesco e os saberes obtidos eram passados de geração a geração, assim as técnicas e os valores desenvolvidos eram preservados. É possível observar que havia um cunho pedagógico que envolvia o processo de ensino aprendizagem, pois desde cedo as crianças, cujo seus familiares pertenciam ao âmbito circense, eram desenvolvidas em vários ofícios e logo que adquiriam experiência, estavam aptas a mostrarem seu conhecimento no picadeiro. O conhecimento artístico e de habilidades era exclusivo da família e se dava através do mestre (que era como a figura de um professor) assim como todos os afazeres do circo eram de responsabilidade dos familiares. 
Para Silva (2006) o modelo de circo ocidental se enraíza numa cultura conservadora. As trupes circenses consolidam uma tradição caracterizada por um forte vínculo social, tendo a família como base de sustentação. Era o ‘circo dos tradicionais’. A organização do trabalho forma um conjunto entre a socialização, a formação e a aprendizagem que são articuladas e dependentes, onde o objetivo não era apenas organizar o trabalho e produzir um espetáculo, mas manter o circo família. Com o passar do tempo surgiram modificações das formas de entretenimento devido à difusão dos meios de comunicação, à própria organização social circense e ao distanciamento das novas gerações com a cultura circense. Mas, eis que foram incluídas novas modalidades no meio circense como a dança, a música e o teatro, trazendo inovações, com uma nova linguagem e o modo de ver e democratizar a cultura circense (SILVA, 2006).
Já Duprat (2007) destaca que muitas companhias passaram a não ter picadeiro, nem lona, e se apresentam, na maioria das vezes, em teatros, casas de espetáculo ou outro espaço, sempre buscando a modernidade às artes circenses. 


As atividades circenses e a relação com a Educação Física 

Na Europa no século XIX, o circo era uma atividade de grande fascínio pelas variações do trabalho com o corpo, onde, conforme Soares (2001), nesse processo há o surgimento do ‘corpo educado’ que é o resultado da lenta elaboração de formas distintas de intervenção dirigida ao exterior com a intenção de atingir a alma humana. Contrapondo a burguesia da época, os artistas realizavam práticas corporais descompromissadas, com simples espetáculos realizados em feiras e circos, com palhaços, acrobatas, gigantes e anões despertando sentimentos variados no público durante as apresentações. Entretanto, estes sentimentos eram desvalorizados pela burguesia, considerados inúteis ao trabalho, pois o artista fazia uso excessivo da força e energia. Mas logo, a ginástica passou a ser científica e despertou o interesse da burguesia, que a utilizou como um instrumento disciplinador de posturas, ações e gestos contribuindo para que o indivíduo obtivesse noções de economia de tempo, gasto de energia e para cultivar a saúde, com caráter ordenativo, disciplinador e metódico. 
Segundo o Coletivo de Autores (1992) a prática da ginástica é necessária na medida em que a tradição histórica do mundo ginástico é uma oferta de ações com significado cultural para os praticantes, onde as novas formas de exercitação em confronto com as tradicionais possibilitam uma prática corporal que permite aos alunos darem sentido próprio às suas exercitações ginásticas. A ginástica é vista no circo das mais variadas formas que vão desde acrobacias de solo à atividades aéreas. Assim, temos um quadro proposto por Xavier (2005).
Domínios Ginástica Circo Do corpo Ginástica Artística e Rítmica: saltos, giros, poses, rotações, equilíbrio e flexibilidade, execuções na trave de equilíbrio Acrobacia de solo: individu-al, em pares, grupos (pirâmi-des humanas) usando bancos De objetos Ginástica Rítmica Desportiva:– arcos, cor-das, fitas, bolas e maças Malabarismo: swings, claves, arcos, diabolos, bolas De espaços Ginástica Artística ou Olímpica: barras fixas, paralelas, cavalo com alças e argolas Acrobacias aéreas: trapézio, tecido, cama elástica, corda, mastro chinês 
Este quadro mostra uma relação das atividades do circo com a ginástica como se fossem as transformações e adaptações ocorridas da ginástica para as atividades circenses envolvendo domínios do corpo, objetos e diferentes espaços. Além dessas modalidades, há a modalidade de equilíbrio onde envolvem pernas de pau, monociclo, rolo americano e até mesmo malabarismos de equilíbrio que se torna mais difícil relacionar diretamente com a ginástica devido as suas particularidades específicas. 
Para o esclarecimento destas mudanças, Bortoleto (2008) destaca que o circo sempre buscou nutrir-se da tecnologia de seu tempo, porém em alguns momentos e lugares, ainda hoje, é possível observar certo descompasso com outros recursos, saberes e tecnologias existentes. Os contrastes do circo ainda são visíveis embora a tecnologia seja um recurso que pode contribuir para a evolução. Porém, os grandes custos desses recursos impedem e dificultam o desenvolvimento de alguns circos. A cultura do circo é uma cultura que, mesmo com toda adversidade e dificuldade encontradas, é algo que permanece se disseminando e sendo cultuada por inúmeros artistas das mais variadas etnias. 
Geertz (2008) trata a cultura como uma teia de significados que o próprio homem teceu e a sua análise se dá por meio de uma ciência interpretativa que procura um significado. E que para entendê-la é preciso analisar como as pessoas são, como se relacionam, como interagem e assim, ver o significado das ações desenvolvidas pelos indivíduos na sociedade. Partindo deste pressuposto, também tem importância no âmbito escolar e, nesse caso, enfatizando as aulas de Educação Física, já que busca seus significados e objetivos próprios e também sofre influências das culturas impostas pelo próprio homem. Fazem parte do componente curricular da Educação Física, as mais variadas formas de manifestações. De acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais (BRASIL, 1997) a Educação Física Escolar conta com diversos componentes, destacando-se as formas expressivas corporais: o jogo, o esporte, a dança, a ginástica, as lutas, as atividades expressivas e rítmicas e outras manifestações com características lúdicas. Neste sentido, a Educação Física teve contribuições das Ciências Sociais e Humanas para elaborar explicações em relação ao movimento humano, tratando a Educação Física como fenômeno cultural, o qual, de acordo com Daolio (2004), o termo “cultura” se tornou a principal categoria de conceitos na área da Educação Física. Tem-se a cultura corporal como uma área de conhecimentos entendida pelo Coletivo de Autores (1992) como a maneira de tematizar formas de atividades expressivas corporais no âmbito escolar, por meio da Educação Física, tratadas como prática pedagógica que precisa ser transmitida e assimilada pelos alunos. Além disso, para estes autores, por meio da cultura corporal busca-se desenvolver uma reflexão pedagógica sobre o acervo de formas de representação do mundo que o homem tem produzido no decorrer da história, exteriorizadas pela expressão corporal: jogos, danças, lutas, exercícios ginásticos, esporte, malabarismo, contorcionismo, mímica e outros que podem ser identificados como formas de representação simbólica de realidades vividas pelo homem, historicamente criadas e culturalmente desenvolvidas. 
Para Bracht (1992) os conteúdos ensinados são selecionados de uma realidade fora da escola, mesmo que esteja voltada a ela. O professor deve saber que o que é desenvolvido nas aulas vem da cultura corporal, sendo uma produção humana. Já o Coletivo de Autores (1992) concordam com o vínculo entre Educação Física e cultura. Acreditam que todas as manifestações corporais do homem são geradas na dinâmica cultural humana durante toda sua evolução tendo significados próprios e diversificados de acordo com o contexto de determinados grupos culturais. Além disso, a análise de uma expressão na dinâmica cultural específica do contexto onde é realizada determina se uma ação corporal é digna de trato pedagógico na Educação Física. Um dos pontos destacados por Bortoleto e Machado (2003) é o fato de que a atividade circense é um conteúdo tão legítimo e importante quanto os conteúdos tradicionais da Educação Física, e, por isso, também deve-se dar atenção à cultura corporal que essas atividades circenses representam. 
O Coletivo de Autores (1992) diz que a Educação Física na escola deve propor uma ação pedagógica com a cultura corporal e a linguagem deve auxiliar o aluno na compreensão de seu sentir corporal. O trabalho das atividades circenses no âmbito da Educação Física Escolar podem englobar os fatores presentes na cultura corporal, fazendo uma aproximação que abrange desde os conhecimentos motores, cognitivos até os conhecimentos culturais. 
Duprat e Bortoleto (2007) mostram que a Educação Física Escolar é responsável pelo espaço de ‘vivência’, que tem como objetivo inserir os alunos em contato com a cultura corporal. Para isso, o interesse pedagógico não deve estar centralizado no domínio técnico dos conteúdos, mas sim no domínio conceitual deles, dentro de um espaço humano de convivência, onde há possibilidade de serem vivenciados valores humanos que aumentem os graus de confiança e de respeito entre os integrantes do grupo. 
Bracht (1992) coloca que o movimento a ser tratado pela Educação Física, como disciplina escolar, é aquele que carrega determinado sentido/significado conferido por um contexto históricocultural. E assim, por ter um determinado sentido e significado, como manifestação artística e parte da cultura corporal, a arte circense pode ter justificada sua presença na escola. Deve-se levar em consideração que as atividades circenses devem ser tratadas pela Educação Física como um conteúdo sendo estimulado por um processo pedagógico que insira esse tipo de atividade nas aulas. Para Gáspari e Schwartz (2007) o universo circense possui elementos lúdicos, expressivos e comunicativos dentro dos aspectos físico, psíquico e sócio cultural com contribuição riquíssima na área de conhecimento da Educação Física. Em tempos de competitividade acirradas, inegáveis são as contribuições das atividades físicas que proporcionam experiências sensíveis, capazes de promover o encontro do ser humano consigo mesmo e com o outro de um modo que a atividade circense consegue fazer. 
Conforme Baroni (2006), as atividades do universo circense envolvem riso, a expressividade, a alegria, o prazer, a brincadeira, o lúdico, o sensível, o belo, a afetividade, a criticidade, a criatividade, o jogo, a linguagem dentre outras. Já para Duprat (2007) a atividade circense entra como divisor de águas, analisando que é possível romper com os padrões estabelecidos com a Educação Física “rotineira”. Corroborando com isso, Invernó (2003) acredita que a atividade circense se configura como uma atividade que reúne vários conhecimentos de caráter educativo o que é suficiente para abordar tal arte no currículo não só da Educação Física, mas de outras disciplinas escolares. Para Bortoleto (2008) a socialização do conhecimento universalmente produzido está inserida em campo de conhecimentos da cultura corporal, ao qual o aluno tem direito a conhecer e compreender as diferentes manifestações culturais produzidas ao longo da história. Destacam sobre conhecer a evolução de sua cultura patrimonial, vivenciar esse patrimônio, e de posse dele apropriar-se das outras manifestações culturais, evitando ou eliminando a substituição da cultura patrimonial pela cultura hegemônica. É possível constar que é necessária a quebra do distanciamento entre a escola com a arte circense e assim, podemos pensar num processo de ensino/aprendizagem que se dê não necessariamente sob uma lona, mas também no âmbito escolar. Considerando que os conteúdos desenvolvidos nas aulas de Educação Física se dão por meio de conhecimentos culturais do meio circense que podem ser desenvolvidos como novas experiências levando em consideração a relevância do tema abordado. Todos estes temas discutidos sobre o universo circense e as mudanças ocorridas nele, podem ser desenvolvidas durante as atividades da aula com situações de resolução de problemas que façam com que os alunos sejam instigados e reflitam para compreender o contexto de sua realidade social. 

Considerações finais 

A inserção das atividades circenses não visa negar os conteúdos já existentes que são desenvolvidos na Educação Física, mas sim, apontar uma perspectiva que vai além do que já é proposto nas aulas. O estudo mostrou que a Educação Física Escolar também tem a função de mostrar e ensinar ao aluno sobre os conhecimentos sociais decorrentes de uma sociedade que sofreu e vem sofrendo constantes transformações culturais capazes de transformar a realidade e o contexto que o aluno está inserido. 
Ter a consciência do desenvolvimento das atividades circenses na Educação Física, dando um trato que relacione com questões culturais do mundo circense, acarreta um significado de relevância para o contexto da disciplina. Mostra, não apenas a prática pela prática, mas trás apontamentos para que esta seja dotada de um significado e tenha um sentido. Busca a compreensão e reflexão do aluno sobre o lugar em que está e a cultura que o rodeia, valorizando e trazendo contribuições para seu pensamento crítico. Em virtude da sua riqueza cultural, o circo pode ser abordado nas aulas de Educação Física Escolar, desenvolvendo uma aproximação de modo a incluir suas práticas aos saberes culturais, destacando e considerando que é possível essa relação, que vem a ser estimulada num processo pedagógico envolvendo ensino/aprendizagem. 
A importância da diversidade da cultura corporal e a maneira de tratar uma abordagem diferenciada em relação à prática da Educação Física Escolar que evite os métodos tradicionais de ensino, se dá pelo fato de que, nas atividades circenses, há o desenvolvimento de inúmeras capacidades, onde estão inseridos diferentes tipos de experiências com essa forma de manifestação que envolve questões artísticas, culturais e até mesmo corporais. E assim, por meio das atividades circenses, é possível que o aluno conheça a riqueza dos conhecimentos da cultura humana que foi desenvolvida durante o processo histórico da sociedade. 

Referências 

BARONI, J.F. Arte circense: a magia e o encantamento dentro e fora das lonas. Pensar a Prática, v.9, n.1, p.81-89, 2006. 
BORTOLETO, M.A.C. Introdução à pedagogia das atividades circenses. Jundiaí: Fontoura, 2008. 
BORTOLETO, M.A.C.; MACHADO, G.A. Reflexões sobre o circo e a Educação Física. Corpoconsciência, n.12, p.39-69, 2003. 
BRACHT, V. Educação Física e aprendizagem social. Porto Alegre: Magister, 1992. 
BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: Educação Física. V.7. Brasília: MEC/SEF, 1997. 
CASTRO, A.V. O elogio da bobagem. Rio de Janeiro: Alice de Castro, 2005. 
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DAOLIO, J. Educação Física e o conceito de cultura. Campinas: A.Associados, 2004. 
DUPRAT, R.M. Atividades circenses: possibilidades e perspectivas para a Ed. Física Escolar, 2007. Dissertação (Mestrado em Ed. Física) - UNICAMP, Campinas, 2007. 
DUPRAT, R.M.; BORTOLETO, M.A.C. Educação Física Escolar: pedagogia e didática das atividades circenses. Rev. Bras. Ciências do Esporte, v.2, n.28, p.171-190, 2007. 
FAZENDA, I. (Org.). Metodologia da pesquisa educacional. São Paulo: Cortez, 1989. 
GÁSPARI, J.C.; SCHWARTZ, G.M. Vivências em arte circense - Motivos de aderência e expectativas. Motriz, n.3, v.13, p.158-164, 2007. 
GEERTZ, C.A. Interpretação das culturas. Rio de Janeiro: LTC, 2008. 
INVERNÓ, J. Circo y Educación Física. Barcelona: Inde Publicaciones, 2003. 
MINAYO, M. Pesquisa social: teoria, método e criatividade. R.Janeiro: Vozes, 2011. 
SEVERINO, A.J. Metodologia do trabalho científico. São Paulo: Cortez, 2007. 
SILVA, E. O circo: suas artes e seus saberes; o circo no Brasil do final do século XIX a meados do XX. Campinas: UNICAMP, 2006. 
SOARES, C.L. Imagens da educação no corpo: estudo a partir da ginástica francesa no século XIX. Campinas: Autores Associados, 2001. 
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 Enviado em 30/04/2015 Avaliado em 15/06/2015

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