CONSIDERAÇÕES SOBRE A PRÁTICA EDUCATIVA E A FORMAÇÃO DE PROFESSORES
Aline de Souza Caramês
INTRODUÇÃO
A Lei de Diretrizes e Bases - LDB (BRASIL, 1996), a Constituição Federal - CF (BRASIL, 1988) e o Plano Nacional de Educação - PNE (BRASIL, 2001) surgiram para suprir a escassez e organizar a realidade educacional, a irregularidade de recursos visando no que diz respeito à escola facilitando uma melhora no meio em que está inserida. E assim, também, os educadores buscam a melhoria da educação, por meio de propostas para melhorar a qualidade de vida das pessoas.
Em conformidade com as leis educacionais expressas na CF (BRASIL, 1988), na LDB (BRASIL, 1996) da Educação Nacional (1996) e no Plano Nacional de Educação (2001) é compromisso da sociedade, do governo e dos cidadãos brasileiros, primeiramente, assegurar o pleno cumprimento das mesmas. Nesse sentido, os compromissos políticos educacionais visam, fundamentalmente, a erradicação do analfabetismo, à universalização do atendimento escolar, à melhoria da qualidade do ensino, à formação para o trabalho e a promoção humanística, científica e tecnológica do País.
O estudo é justificado pela importância de se ter um maior entendimento sobre a formação de professores e as leis que regem a educação para que assim possamos inserir na realidade de nossas práticas educacionais. Há também a preocupação em ampliar o conhecimento sobre o assunto que contribua para que os objetivos da LDB (BRASIL, 1996), da CF (BRASIL, 1988) e do PNE (BRASIL, 2001) sejam alcançados perante a educação e a sociedade atual.
Além disso, é necessário ter o intuito de verificar os compromissos políticos e educacionais frente à legislação vigente, apontando questionamentos e discussões sobre a relação que esta tem com a formação de professores e o papel deles na prática educativa.
DESENVOLVIMENTO
A esperança repousa em gerar um avanço no planejamento educacional brasileiro com o apoio de forças políticas e técnicas, aproximando o governo e a sociedade, colocando-os juntos na área educacional. A relação com a legislação vigente faz com que se ampliem o leque das análises de questões que interessam aos educadores.
É pacífico salientar que a LDB (BRASIL, 1996) busca a universalização do ensino, conforme prevista na CF (BRASIL, 1988) e, as mudanças no conceito de Educação Básica, que contemplou em três etapas distintas, porém entrelaçadas de forma a sugerir um avanço único e reto, fundamentado na madureza dos discentes. Nessa mesma perspectiva, os anseios que tangem o desenvolver das aulas, devem estar em comunhão aos compromissos citados anteriormente.
Ao longo dos anos, falou-se muito em formação de professores a chamada “formação continuada”, no entanto pouco se fez de concreto. O que vimos durante anos foram professores com livros amarelos, repetindo suas aulas ano a ano, e ainda muitos deles sem qualquer motivação para a docência. A partir desses problemas, o professor começa a ser visto a partir de um novo ângulo, onde se percebe este como de suma importância para a melhoria da educação, visto que para um trabalho de qualidade será necessário a formação desses educadores.
Nesse sentido, por meio da lei este professor passa a ter o direito e a oportunidade de uma formação, pois como se sabe o contexto atual exige que este professor acompanhe as contínuas mudanças. De forma que em 2002, foi aprovada pelo Conselho Pleno Nacional de Educação, as Diretrizes Curriculares Nacionais para a formação de professores da Educação Básica.
É perceptível que há muito a ser feito quando se trata de formação de professores, pois muitos ainda resistem a estas mudanças ou ainda não tiveram oportunidades de buscar a atualização. Outro grave problema ainda não solucionado é a “epidemia da desmotivação” que ataca principalmente professores concursados, que por estarem estabilizados não buscam melhorias e nem mudanças em sua formação, lamentável para uma educação tão necessitada de carinho e preocupação.
O contexto societário como um todo, tanto os indivíduos que dele fazem parte quanto os arquétipos que o constroem e edificam, desde o início deste século está passando por significativas transformações principalmente no que tange a construção de novos ideários. Sem dúvidas, essas modificações incidem com todas as forças sobre a Educação, haja vistas de elas serem vias aferentes de criação de novas ideias e de novos conceitos.
Nesse sentido, Bolzan (2001) nos faz um alerta quanto à necessidade de a Educação acompanhar e adequar-se a essas novas mudanças, principalmente com relação à formação da identidade do professor e o trato pedagógico, ou seja, a práxis educativa. Eis que não há mais como mantermo-nos estagnados perante as mudanças que urgem constantemente.
É imprescindível a atualização permanente de seu corpo docente, bem como a valorização da criatividade, da interação entre os pares, da apropriação dos conhecimentos teóricos e pedagógicos, bem como dos recursos tecnológicos disponíveis para qualificação do processo de escolarização (BOLZAN, 2002).
Portanto, é necessário que o corpo docente, sejam licenciados que estejam preparados para uma nova escola que se configura dia após dia. Para um novo processo de escolarização, onde o ensino e aprendizagem caminhem simultaneamente juntos, pois tanto o professor quanto o educando são aprendizes, ocorrendo reciprocidade nos conhecimentos. E, para uma nova práxis educativa, que incorpore os saberes (conhecimento teórico) e os fazeres (conhecimento prático) escolar.
Porém, inicialmente cabe ao professor mediar a relação do/a aluno/a com o conhecimento, assumindo que ambos são descobridores, construtores, produtores de saberes na escola ou fora dela (BOLZAN, 2002).
O novo professor antes de ser apenas um transmissor do conhecimento tem por obrigação auxiliar na formação da personalidade humana e promover sujeitos críticos, participativos e ativos na sociedade, que saibam enfrentar os problemas subjacentes e, fundamentalmente, resolvê-los de forma responsável.
Concomitantemente a isso, novas formas de práticas pedagógicas têm surgido a fim de auxiliar os docentes na construção de uma nova forma de ensinar, onde se destaca a abordagem reflexiva. Refletir essa prática requer mais do que simples disposição e competência para análise individual ou coletiva. É necessário ser capaz de olhar de forma crítica, pensar e decidir sobre o que acontece no processo educativo, buscando explicações no conhecimento científico e pedagógico disponível, para tirar conclusões e agir de forma a confirmar e/ou evitar resultados determinados por processos e atitudes adotadas.
A reflexão não é então um processo mecânico, nem simplesmente um exercício criativo de construção de novas ideias, antes é uma prática que exprime o nosso poder para reconstruir a vida social, ao participar na comunicação, na tomada de decisões conscientes e na ação social. Implica também comprometimento, apreensão da realidade, criticidade, reconhecimento e assunção da identidade cultural de educadores e educandos. Assim para formar o professor reflexivo, torna-se necessário o desenvolvimento de habilidades empíricas, analíticas, avaliativas, estratégias e de comunicação. Não basta, no entanto, conhecer os métodos, é preciso querer empregá-los, para tanto, precisa o professor ter atitudes de entusiasmo, responsabilidade e mentalidade aberta.
Assim sendo, o processo de reflexão por parte do professor ocorre,
Primeiramente quando ele se coloca como alguém que é capaz de surpreender-se com seus alunos. Num segundo momento, ao pensar sobre essa situação, buscando compreender o motivo de sua surpresa. Em seguida, ao reformular o problema, provocado pela situação, a fim de que seus alunos possam demonstrar o quanto compreenderam da proposição. E, por fim, quando propõem uma nova tarefa, testando sua hipótese e sobre a forma de organização e atuação de seus alunos (SCHÖN, 1997).
Para que se concretize essa nova proposta pedagógica escolar, o professor deve partir do real, daquilo que está e se faz presente na sociedade, da realidade sócio-econômica-cultural, das diversidades culturais dos educados e do que está posto em sala de aula, isto é, da bagagem cultural que cada aluno traz consigo, bem como da variedade de estilos de aprendizagem, tão importantes para que o processo de ensino e aprendizagem seja efetivo e válido.
Contudo, apesar de muitas vezes os professores observarem a necessidade de uma nova proposta pedagógica ou até mesmo conhecerem trabalhos que já tenham sido feitos por outros docentes e que tenham resultados positivos, muitos ainda apresentam concepções negativas acerca do trabalho docente, de suas expectativas sobre a didática e do seu campo de atuação.
Nesse sentido, BOLZAN (2002) nos mostra alguns pontos intervenientes do trabalho docente apontados pela classe: (1) os professores parecem atribuir influência especial aos fatores sociais e econômicos (baixos salários, condições de vida, etc.), aos fatores psicológicos (alunos carentes sem vontade de aprender) e as condições materiais (falta de livros, etc.) para a realização do seu trabalho; (2) os professores atribuem pouco valor a seu trabalho cotidiano, percebem a distância entre teoria e prática e sua implicação no desempenho da docência; (3) os mestres apresentam posições contraditórias quanto a idealização da sua função docente e a importância do seu papel assistencial, maternal, afetivo e até vocacional, imprescindível na vida dos alunos e (4) os professores sugerem que a didática é um modelo idealizado de tarefas normativas, raramente cumpridas (BOLZAN, 2002).
Os pontos citados anteriormente nos remetem ao fato de muitos professores se sentem desmotivados com a prática docente e acomodados com os problemas que permeiam a práxis educativa, principalmente, porque estão descrentes da resolução e superação desses obstáculos, considerando-os intransponíveis por dois motivos: acreditam que não haja solução e/ou se sentem despreparados para enfrentá-los, pois não tiveram formação profissional adequada. Entretanto, acreditam e valorizam o caráter formativo da prática docente não apenas pelo que aprenderam na formação inicial, mas pelo que aprenderam com sobre a realidade do contexto escolar com os educandos.
CONCLUSÃO
Os apontamentos sobre a legislação vigente e a formação de professores, elucidam que a apropriação e construção do saber e da prática docente, que é o conhecimento pedagógico, ocorrem nas práticas escolares de ensino e aprendizagem vivenciadas e utilizadas pelos professores. Sob essa ótica então, a construção do conhecimento pedagógico sustenta-se sobre um duplo pilar: a prática (práticas escolares) e a teoria (formação docente), permitindo com que a intervenção pedagógica ocorra de forma consciente e planejada.
Portanto, a reflexão da ação docente parte da tomada de consciência do seu papel exposto em documentos referentes a educação, da apropriação da sua função de mediador e organizador das situações de ensino e da orientação pedagógica, composta pela práxis educativa com conhecimentos sobre a matéria a ser desenvolvida e o modo de ensiná-la. Essa é dada pela construção dos saberes docentes e as possibilidades de superação dos problemas do ensino-aprendizagem.
A identidade do professor passa por esses pontos e por um processo de autoconhecimento e relaciona-se com a sua formação. É um processo de conquista, de procura pessoal, de recriação de si próprio, de realização de um projeto pessoal e autônomo. Também depende das expectativas do professor e do aluno, do comprometimento de cada professor com o ensino, do contexto educacional que só se efetiva na prática.
Com tudo isso, é necessário que o professor se envolver numa reflexão constante sobre a própria ação profissional (ação-reflexão) relacionando a prática com as teorias expostas nos documentos educacionais, aceitando desafios e tendo a capacidade de percepção da aplicação da prática e dos seus resultados. A mudança nas contribuições educacionais é introduzida através da capacidade autocrítica, sendo necessária a fundamentação teórica através de um trabalho individual e coletivo.
_________. A construção do conhecimento pedagógico compartilhado: um estudo a partir das narrativas de professores do ensino fundamental. 2001. 268 f. Tese (Doutorado). Faculdade de Educação, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2001
REFERÊNCIAS
BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Diário Oficial da União, Brasília, 1996.
________. Constituição da República Federativa do Brasil. 7 out. 1988.________. Plano Nacional de Educação. 9 jan. 2001.
BOLZAN, Dóris P. V. Formação de Professores/as: reflexões sobre os saberes e fazeres na escola._________. A construção do conhecimento pedagógico compartilhado: um estudo a partir das narrativas de professores do ensino fundamental. 2001. 268 f. Tese (Doutorado). Faculdade de Educação, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2001
________. Formação de Professores: compartilhando e reconstruindo conhecimentos. Porto Alegre: Mediação, 2002
SCHÖN, Donald. Formar professores como profissionais reflexivos. In: NÓVOA, Antônio (Coord.). Os professores e sua formação. Lisboa: Publicações Dom Quixote Ltda, 1997.
Olá Aline! Ficou muito bom este teu texto. Parabéns Prof. Hugo
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