quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Oficina de Produção de Textos: A AVENTURA DE LER E ESCREVER - TEXTO Nº 18

CONSIDERAÇÕES SOBRE A PRÁTICA EDUCATIVA E A FORMAÇÃO DE PROFESSORES

Aline de Souza Caramês

INTRODUÇÃO
A Lei de Diretrizes e Bases - LDB (BRASIL, 1996), a Constituição Federal - CF (BRASIL, 1988) e o Plano Nacional de Educação - PNE (BRASIL, 2001) surgiram para suprir a escassez e organizar a realidade educacional, a irregularidade de recursos visando no que diz respeito à escola facilitando uma melhora no meio em que está inserida. E assim, também, os educadores buscam a melhoria da educação, por meio de propostas para melhorar a qualidade de vida das pessoas.
Em conformidade com as leis educacionais expressas na CF (BRASIL, 1988), na LDB (BRASIL, 1996) da Educação Nacional (1996) e no Plano Nacional de Educação (2001) é compromisso da sociedade, do governo e dos cidadãos brasileiros, primeiramente, assegurar o pleno cumprimento das mesmas. Nesse sentido, os compromissos políticos educacionais visam, fundamentalmente, a erradicação do analfabetismo, à universalização do atendimento escolar, à melhoria da qualidade do ensino, à formação para o trabalho e a promoção humanística, científica e tecnológica do País.
O estudo é justificado pela importância de se ter um maior entendimento sobre a formação de professores e as leis que regem a educação para que assim possamos inserir na realidade de nossas práticas educacionais. Há também a preocupação em ampliar o conhecimento sobre o assunto que contribua para que os objetivos da LDB (BRASIL, 1996), da CF (BRASIL, 1988) e do PNE (BRASIL, 2001) sejam alcançados perante a educação e a sociedade atual.
Além disso, é necessário ter o intuito de verificar os compromissos políticos e educacionais frente à legislação vigente, apontando questionamentos e discussões sobre a relação que esta tem com a formação de professores e o papel deles na prática educativa.

DESENVOLVIMENTO
A esperança repousa em gerar um avanço no planejamento educacional brasileiro com o apoio de forças políticas e técnicas, aproximando o governo e a sociedade, colocando-os juntos na área educacional. A relação com a legislação vigente faz com que se ampliem o leque das análises de questões que interessam aos educadores.
            É pacífico salientar que a LDB (BRASIL, 1996) busca a universalização do ensino, conforme prevista na CF (BRASIL, 1988) e, as mudanças no conceito de Educação Básica, que contemplou em três etapas distintas, porém entrelaçadas de forma a sugerir um avanço único e reto, fundamentado na madureza dos discentes. Nessa mesma perspectiva, os anseios que tangem o desenvolver das aulas, devem estar em comunhão aos compromissos citados anteriormente.
Ao longo dos anos, falou-se muito em formação de professores a chamada “formação continuada”, no entanto pouco se fez de concreto. O que vimos durante anos foram professores com livros amarelos, repetindo suas aulas ano a ano, e ainda muitos deles sem qualquer motivação para a docência. A partir desses problemas, o professor começa a ser visto a partir de um novo ângulo, onde se percebe este como de suma importância para a melhoria da educação, visto que para um trabalho de qualidade será necessário a formação desses educadores.
            Nesse sentido, por meio da lei este professor passa a ter o direito e a oportunidade de uma formação, pois como se sabe o contexto atual exige que este professor acompanhe as contínuas mudanças. De forma que em 2002, foi aprovada pelo Conselho Pleno Nacional de Educação, as Diretrizes Curriculares Nacionais para a formação de professores da Educação Básica.
            É perceptível que há muito a ser feito quando se trata de formação de professores, pois muitos ainda resistem a estas mudanças ou ainda não tiveram oportunidades de buscar a atualização.  Outro grave problema ainda não solucionado é a “epidemia da desmotivação” que ataca principalmente professores concursados, que por estarem estabilizados não buscam melhorias e nem mudanças em sua formação, lamentável para uma educação tão necessitada de carinho e preocupação.
      O contexto societário como um todo, tanto os indivíduos que dele fazem parte quanto os arquétipos que o constroem e edificam, desde o início deste século está passando por significativas transformações principalmente no que tange a construção de novos ideários. Sem dúvidas, essas modificações incidem com todas as forças sobre a Educação, haja vistas de elas serem vias aferentes de criação de novas ideias e de novos conceitos.
Nesse sentido, Bolzan (2001) nos faz um alerta quanto à necessidade de a Educação acompanhar e adequar-se a essas novas mudanças, principalmente com relação à formação da identidade do professor e o trato pedagógico, ou seja, a práxis educativa. Eis que não há mais como mantermo-nos estagnados perante as mudanças que urgem constantemente.

É imprescindível a atualização permanente de seu corpo docente, bem como a valorização da criatividade, da interação entre os pares, da apropriação dos conhecimentos teóricos e pedagógicos, bem como dos recursos tecnológicos disponíveis para qualificação do processo de escolarização  (BOLZAN, 2002).
           
Portanto, é necessário que o corpo docente, sejam licenciados que estejam preparados para uma nova escola que se configura dia após dia. Para um novo processo de escolarização, onde o ensino e aprendizagem caminhem simultaneamente juntos, pois tanto o professor quanto o educando são aprendizes, ocorrendo reciprocidade nos conhecimentos. E, para uma nova práxis educativa, que incorpore os saberes (conhecimento teórico) e os fazeres (conhecimento prático) escolar.

Porém, inicialmente cabe ao professor mediar a relação do/a aluno/a com o conhecimento, assumindo que ambos são descobridores, construtores, produtores de saberes na escola ou fora dela (BOLZAN, 2002).
           
O novo professor antes de ser apenas um transmissor do conhecimento tem por obrigação auxiliar na formação da personalidade humana e promover sujeitos críticos, participativos e ativos na sociedade, que saibam enfrentar os problemas subjacentes e, fundamentalmente, resolvê-los de forma responsável.
Concomitantemente a isso, novas formas de práticas pedagógicas têm surgido a fim de auxiliar os docentes na construção de uma nova forma de ensinar, onde se destaca a abordagem reflexiva. Refletir essa prática requer mais do que simples disposição e competência para análise individual ou coletiva. É necessário ser capaz de olhar de forma crítica, pensar e decidir sobre o que acontece no processo educativo, buscando explicações no conhecimento científico e pedagógico disponível, para tirar conclusões e agir de forma a confirmar e/ou evitar resultados determinados por processos e atitudes adotadas.
A reflexão não é então um processo mecânico, nem simplesmente um exercício criativo de construção de novas ideias, antes é uma prática que exprime o nosso poder para reconstruir a vida social, ao participar na comunicação, na tomada de decisões conscientes e na ação social. Implica também comprometimento, apreensão da realidade, criticidade, reconhecimento e assunção da identidade cultural de educadores e educandos. Assim para formar o professor reflexivo, torna-se necessário o desenvolvimento de habilidades empíricas, analíticas, avaliativas, estratégias e de comunicação. Não basta, no entanto, conhecer os métodos, é preciso querer empregá-los, para tanto, precisa o professor ter atitudes de entusiasmo, responsabilidade e mentalidade aberta.
Assim sendo, o processo de reflexão por parte do professor ocorre,

Primeiramente quando ele se coloca como alguém que é capaz de surpreender-se com seus alunos. Num segundo momento, ao pensar sobre essa situação, buscando compreender o motivo de sua surpresa. Em seguida, ao reformular o problema, provocado pela situação, a fim de que seus alunos possam demonstrar o quanto compreenderam da proposição. E, por fim, quando propõem uma nova tarefa, testando sua hipótese e sobre a forma de organização e atuação de seus alunos (SCHÖN, 1997).
           
Para que se concretize essa nova proposta pedagógica escolar, o professor deve partir do real, daquilo que está e se faz presente na sociedade, da realidade sócio-econômica-cultural, das diversidades culturais dos educados e do que está posto em sala de aula, isto é, da bagagem cultural que cada aluno traz consigo, bem como da variedade de estilos de aprendizagem, tão importantes para que o processo de ensino e aprendizagem seja efetivo e válido.
            Contudo, apesar de muitas vezes os professores observarem a necessidade de uma nova proposta pedagógica ou até mesmo conhecerem trabalhos que já tenham sido feitos por outros docentes e que tenham resultados positivos, muitos ainda apresentam concepções negativas acerca do trabalho docente, de suas expectativas sobre a didática e do seu campo de atuação.
            Nesse sentido, BOLZAN (2002) nos mostra alguns pontos intervenientes do trabalho docente apontados pela classe: (1) os professores parecem atribuir influência especial aos fatores sociais e econômicos (baixos salários, condições de vida, etc.), aos fatores psicológicos (alunos carentes sem vontade de aprender) e as condições materiais (falta de livros, etc.) para a realização do seu trabalho; (2) os professores atribuem pouco valor a seu trabalho cotidiano, percebem a distância entre teoria e prática e sua implicação no desempenho da docência; (3) os mestres apresentam posições contraditórias quanto a idealização da sua função docente e a importância do seu papel assistencial, maternal, afetivo e até vocacional, imprescindível na vida dos alunos e (4) os professores sugerem que a didática é um modelo idealizado de tarefas normativas, raramente cumpridas (BOLZAN, 2002).
   Os pontos citados anteriormente nos remetem ao fato de muitos professores se sentem desmotivados com a prática docente e acomodados com os problemas que permeiam a práxis educativa, principalmente, porque estão descrentes da resolução e superação desses obstáculos, considerando-os intransponíveis por dois motivos: acreditam que não haja solução e/ou se sentem despreparados para enfrentá-los, pois não tiveram formação profissional adequada. Entretanto, acreditam e valorizam o caráter formativo da prática docente não apenas pelo que aprenderam na formação inicial, mas pelo que aprenderam com sobre a realidade do contexto escolar com os educandos.

CONCLUSÃO
            Os apontamentos sobre a legislação vigente e a formação de professores, elucidam que a apropriação e construção do saber e da prática docente, que é o conhecimento pedagógico, ocorrem nas práticas escolares de ensino e aprendizagem vivenciadas e utilizadas pelos professores. Sob essa ótica então, a construção do conhecimento pedagógico sustenta-se sobre um duplo pilar: a prática (práticas escolares) e a teoria (formação docente), permitindo com que a intervenção pedagógica ocorra de forma consciente e planejada.
             Portanto, a reflexão da ação docente parte da tomada de consciência do seu papel exposto em documentos referentes a educação, da apropriação da sua função de mediador e organizador das situações de ensino e da orientação pedagógica, composta pela práxis educativa com conhecimentos sobre a matéria a ser desenvolvida e o modo de ensiná-la. Essa é dada pela construção dos saberes docentes e as possibilidades de superação dos problemas do ensino-aprendizagem.
A identidade do professor passa por esses pontos e por um processo de autoconhecimento e relaciona-se com a sua formação. É um processo de conquista, de procura pessoal, de recriação de si próprio, de realização de um projeto pessoal e autônomo. Também depende das expectativas do professor e do aluno, do comprometimento de cada professor com o ensino, do contexto educacional que só se efetiva na prática.
Com tudo isso, é necessário que o professor se envolver numa reflexão constante sobre a própria ação profissional (ação-reflexão) relacionando a prática com as teorias expostas nos documentos educacionais, aceitando desafios e tendo a capacidade de percepção da aplicação da prática e dos seus resultados. A mudança nas contribuições educacionais é introduzida através da capacidade autocrítica, sendo necessária a fundamentação teórica através de um trabalho individual e coletivo.

REFERÊNCIAS



BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Diário Oficial da União, Brasília, 1996.
________. Constituição da República Federativa do Brasil. 7 out. 1988.
________. Plano Nacional de Educação. 9 jan. 2001.
BOLZAN, Dóris P. V. Formação de Professores/as: reflexões sobre os saberes e  fazeres na escola.
 _________. A construção do conhecimento pedagógico compartilhado: um estudo a partir das narrativas de professores do ensino fundamental. 2001. 268 f. Tese (Doutorado). Faculdade de Educação, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2001
________. Formação de Professores: compartilhando e reconstruindo conhecimentos. Porto Alegre: Mediação, 2002
SCHÖN, Donald. Formar professores como profissionais reflexivos. In: NÓVOA, Antônio (Coord.). Os professores e sua formação. Lisboa: Publicações Dom Quixote Ltda, 1997.

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