ATIVIDADES CIRCENSES E OS PCN’S: PERSPECTIVAS
PARA A EDUCAÇÃO FÍSICA
Aline de Souza Caramês
INTRODUÇÃO
Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs
- BRASIL, 1997) visam um modo para que os alunos usufruam de um conjunto de conhecimentos necessários e
relevantes para o exercício da cidadania, tendo acesso aos recursos culturais, considerados como uma referência para a transformação de
objetivos, conteúdos e didática do ensino, ampliando e articulando os
conhecimentos que venham a ser adquiridos pelos alunos.
Na Educação Física, os PCNs (BRASIL, 1997) trazem uma proposta para humanizar, democratizar
e diversificar a prática pedagógica da área onde são divididos em três blocos
de conteúdos compostos por Conhecimentos sobre o corpo; Esportes, jogos, lutas
e ginásticas e Atividades Rítmicas e Expressivas que criam oportunidade de
alunos desenvolverem capacidades corporais e culturais, com finalidades de
lazer, expressão de sentimento, afetos e emoções. Esses
conteúdos são apresentados segundo sua categoria conceitual, procedimental e atitudinal,
organizados em blocos interrelacionados e são explicitados como possíveis
enfoques da ação do professor, dando oportunidade do aluno desenvolver
capacidades corporais e culturais.
De acordo com os PCNs (BRASIL, 1997), a escola é
configurada como um espaço diferenciado, onde os alunos devem ressignificar os
movimentos, atribuindo novos sentidos, realizando novas aprendizagens. Os
objetivos dos PCNs (BRASIL, 1997)
do primeiro ciclo (1º e 2º ciclo) são fazer o aluno participar de diferentes
atividades corporais com atitudes cooperativas e solidárias, conhecer algumas
de suas possibilidades e limitações corporais de forma a poder estabelecer
algumas metas pessoais, sendo elas, qualitativas e quantitativas, participar de
diferentes atividades corporais, conhecer, valorizar, apreciar e desfrutar de
algumas das diferentes manifestações de cultura corporal presentes no cotidiano
e organizar autonomamente alguns jogos.
Já no segundo ciclo (3º a 4º ciclo), os objetivos
são participar de atividades corporais, reconhecendo e respeitando as características
físicas e de desempenho motor, individuais e coletivas, sem discriminações; adotar
atitudes de respeito mútuo, dignidade e solidariedade em situações lúdicas e
esportivas, buscando solução de problemas sem violência; conhecer os limites e
as possibilidades do próprio corpo controlando algumas de suas atividades
corporais com autonomia e valorizando a sua própria saúde; conhecer, valorizar,
apreciar e desfrutar de algumas das diferentes manifestações da cultura
corporal sem posturas preconceituosas ou discriminatória; organizar jogos, brincadeiras
ou demais atividades corporais, buscando valorizar como recurso para usufruir
no tempo disponível; analisar e compreender alguns dos padrões de estética,
beleza e saúde presentes no cotidiano de acordo com o contexto em que são produzidos,
criticando o incentivo ao consumismo.
Por esse motivo, os PCNs (BRASIL, 1997) do 1º ao 4º ciclo merecem um
destaque maior para uma compreensão do professor que atua com alunos dessa
faixa etária. Pois é nessa fase que o aluno está em processo de formação de
conhecimentos que serão adquiridos e levados por toda sua vida.
De acordo com os PCNs (BRASIL, 1997), a organização dos
conteúdos da Educação Física se dá por meio de três blocos que busca evidenciar
os objetos de ensino e aprendizagem que estão sendo priorizados, servindo para
contribuir com trabalho do professor, distribuindo os conteúdos a serem
trabalhados de maneira equilibrada e adequada. É uma forma de organizar o
conjunto de conhecimentos abordado, segundo os diferentes enfoques que podem
ser dados o qual ocorre uma articulação entre esses blocos já que tem vários
conteúdos em comum, mas também tem suas especificidades.
Considerando que o Circo faz parte de um acervo cultural
da humanidade e que faz parte da difusão das artes e da cultura popular, as
atividades circenses podem ser incluídas nas escolas como conteúdos das aulas
de Educação Física, como uma proposta de ampliar conhecimentos, de forma a
desenvolver também os saber históricos, sociológicos e culturais no processo
pedagógico. De acordo com Bortoleto (2008), as atividades circenses são
divididas por unidades didáticas pedagógicas que facilita o desenvolvimento
teórico e prático dos conteúdos para uma melhor organização dos mesmos. Essas
unidades são: acrobacias (aéreas, solo/equilíbrios acrobáticos e
trampolinismo), manipulação (de objetos, malabarismo), equilíbrios (equilíbrio
do corpo em movimento e equilíbrio do corpo em superfície instáveis) e
encenação (expressão corporal e palhaço).
Por constituírem de uma
prática diversificada com cunho educativo, justifica-se a modalidade circense
nas aulas de Educação Física. Além disso, o professor tem papel
fundamental para por em prática os conhecimentos a seus alunos, deve incorporar de forma organizada, as
principais questões considerando o desenvolvimento de seu trabalho, subsidiando
as discussões, os planejamentos e as avaliações da prática de Educação Física.
O objetivo desse estudo
é analisar os PCNs (BRASIL, 1997) buscando identificar em que blocos de conteúdos
as atividades circenses podem estar inseridas, já que essas atividades não
estão explícitas nesse documento como conteúdo da Educação Física.
BLOCO DE CONHECIMENTOS SOBRE O
CORPO
O bloco “Conhecimentos sobre o corpo”
tem conteúdos que estão incluídos nos demais, mas que também podem ser
abordados e tratados em separado. Nesse bloco são tratados a partir da própria
percepção corporal com conhecimentos de anatomia, a exemplo do conhecimento
sobre ossos e músculos. A fisiologia aborda as alterações ocorridas no corpo
durante a atividade física e as ocorridas em longo prazo, a bioquímica trata de
conteúdos que subsidiam a fisiologia. A biomecânica, por exemplo, trata da
adequação dos hábitos posturais, assim como as atitudes corporais. Os outros
dois blocos guardam características próprias e mais específicas, mas também têm
interseções e fazem articulações entre si.
Desse modo, alguns pontos que são
desenvolvidos durante a prática das atividades circenses podem estar envolvidos
no bloco de “Conhecimentos sobre o corpo”. Essa ideia é defendida no que diz
respeito a execução de movimentos durante as acrobacias e malabarismos especialmente,
pois essas práticas requerem noções corporais, o corpo deve estar posicionado
para facilitar o desenvolvimento dessas ações, exigindo postura e conhecimentos
motores.
O papel do professor é essencial no
esclarecimento desses conhecimentos. Mesmo que sejam desenvolvidos com alunos
da 1ª a 4ª série, é importante que o professor deixe claro esses entendimentos,
por meio de noções básicas, a seus alunos para que comecem a compreender melhor
sobre o próprio corpo.
BLOCO DE ESPORTES,
JOGOS, LUTAS E GINÁSTICAS
A diversidade de esportes, jogos, lutas e ginásticas
que há no Brasil é enorme. Em cada local há especificidades, realidades e
conjunturas que possibilitam a prática de uma parcela desses elementos. Por
esse motivo há uma dificuldade em definir critérios para essas práticas
corporais já que estão vinculadas ao contexto que estão inseridas. Esse bloco
inclui também, informações históricas das origens e características dos
esportes, jogos, lutas e ginásticas, valorização e apreciação dessas práticas.
Os esportes são
práticas onde estão regras de caráter oficial e competitivo, com condições
espaciais que exigem equipamentos sofisticados. Há federações que regulamentam
sua atuação. A mídia é uma aliada na divulgação de esportes, assim como das
lutas, ocorrendo apreciação por um diverso contingente de grupos sociais e
culturais.
Nos jogos há possibilidade de uma
flexibilidade maior nas regulamentações, que são adaptadas, vão em função das
condições que envolvem espaço e material disponíveis, do número de
participantes, entre outras condições. Para Huizinga (1972), o jogo se difere
do esporte, pois no jogo as regras e
o andamento do mesmo são gerenciados pelos próprios jogadores. Já no esporte
tem juízes e federações e outros órgãos responsáveis por gerenciar regras.
Ainda de acordo com os PCNs
(BRASIL, 1997), o jogo pode
ter um caráter competitivo, cooperativo ou recreativo relacionado com o meio
que está inserido, sendo em situações festivas, comemorativas,
confraternização, cotidianas, ou como passatempo e diversão. Estão
incluídas como jogos as brincadeiras regionais, os jogos de salão, de mesa, de
tabuleiro, de rua e as brincadeiras infantis de modo geral.
As lutas são disputas com oponentes em que um deles
deve vencer utilizando técnicas e estratégias de desequilíbrios, contusões,
imobilizações ou exclusões em um espaço, tendo relações de ataque e defesa. Por
meio de uma regulamentação, podem punir atitudes desleais cometidas pelos
participantes. Ainda de acordo com os PCN (BRASIL, 1997), as lutas podem ser
com brincadeiras que envolvem cabo-de-guerra, braço-de-ferro, chegando a
práticas como capoeira, judô e caratê.
E por fim, a ginástica são técnicas corporais com
caráter individual de diversas finalidades, inclusive usadas como forma de
preparação para outras modalidades. Podem ser usados ou não, aparelhos para a
realização de suas práticas. Assim como podem ser desenvolvidos em diversos
espaços. Tem um relação privilegiada com o bloco de “Conhecimentos sobre o
corpo” pois visa a percepção do próprio corpo, com a consciência da respiração,
relaxamento e tensão dos músculo, sentindo as articulações da coluna vertebral.
O desenvolvimento da ginástica fez com que, atualmente, suas técnicas fossem
tratadas de modo diferente das ginásticas tradicionais que exigiam exercícios
rígidos, mecânicos e repetitivos. Desse modo, foi possível perceber que
proporcionou uma aproximação com os objetivos da educação física escolar,
preocupando-se com a consciência o aluno, deixando de lado o alto rendimento.
No Livro didático da Disciplina de Educação Física
do Estado do Paraná para o Ensino Médio (2006), há um dos capítulos intitulado
de “O circo como componente da Ginástica”. Lá encontramos uma forma simplificada
do histórico dessa modalidade relacionada a arte circense e suas transformações
até os dias atuais. Ainda é possível constar propostas de atividades que
envolvem malabarismo, acrobacias e a representação do palhaço e até mesmo a
possibilidade de uma discussão sobre a presença de animas em circos. Com essa
preocupação em inserir as atividades circenses na educação física é válida,
pois dá um reconhecimento maior na disciplina, procurando ampliar as
possibilidades que podem ser desenvolvidas por meio da cultura corporal.
É válido também acreditar que as atividades
circenses podem estar inseridas nesse bloco já que a ginástica, assim como as
atividades circenses, tem inúmeras possibilidades de se trabalhar o corpo,
levando em consideração que as acrobacias são um dos componentes da ginástica.
Ainda buscando relação com esse bloco, Bortoleto
(2008) aponta que por meio das atividades circenses, podem surgir jogos e
esportes. Essa é um das possibilidades já que existem jogos circenses, podendo
ser jogos malabarísticos e até mesmo jogos expressivos. E há possibilidade de
que os próprios alunos podem criar jogos com a aplicação desse conteúdo.
BLOCO DE ATIVIDADES
RÍTMICAS E EXPRESSIVAS
Os conteúdos aqui
apresentados estão relacionados as manifestações da cultura corporal que têm como
características comum a intenção de expressar e comunicar perante gestos com
estímulos sonoros como referência para o movimento corporal. Incluem
brincadeiras cantadas e danças. A diversidade de culturas significativas, fruto
da imigração que houve no país, mostra a quantidade de possibilidades que podem
ser desenvolvidas na aprendizagem.
As
culturas existentes são compostas por manifestações rítmicas e/ou expressivas
muitas vezes peculiares dependendo da região em que está inserida e de acordo
com os povos que a trouxeram. Algumas delas, inclusive as danças sofreram
influências, transformações e foram multiplicadas. Outras foram preservadas e
tiveram poucas transformações e ainda há outras que estão desaparecendo.
As
atividades rítmicas e expressivas têm conteúdos amplos e diversificados que
através dessa concepção os alunos podem conhecer qualidades do movimento,
obtendo noções expressivas como leve, pesado, forte, fraco, duração,
intensidade, direção. Possibilitando o conhecimento de técnicas de execução de
movimentos, o desenvolvimento da capacidade de improvisar, construir
coreografias, valorizar e apreciar as manifestações expressivas.
Na
relação com as atividades circenses, há inúmeros autores que defendem que essas
atividades estão totalmente relacionadas ao bloco de Atividades Rítmicas e
Expressivas. Duprat e Bortoleto (2007) ressaltam a ideia de que o papel da educação física escolar
com as atividades circenses é proporcionar o contato
das crianças com a cultura corporal existente no circo, com um nível de
exigência elementar onde as potencialidades expressivas e criativas merecem
destaque, além da aplicação de aspectos lúdicos desta prática.
De acordo com Invernó (2003) as atividades
circenses são tratadas como uma atividade
expressiva com uma série de conhecimentos de alto valor educativo, que são
coerentes e justificam sua presença no currículo educativo. Essas atividades buscam
uma pedagogia própria, preocupada com suas particularidades, sendo um desafio para
professores de educação física que devem debater sobre essa ideia.
Para Duprat (2007) o circo é um conjunto de atividades
expressivas possuindo uma teatralidade múltipla no fazer artístico. Esse é um
ponto que foi desenvolvido historicamente copiado, recopiado e que foi incorporando,
diferentes manifestações artísticas, como música, dança, teatro, arte dos
funâmbulos e saltimbancos, dos cavaleiros militares, entre outras. De modo que
integre o grupo das atividades rítmicas e expressivas que devem incluir as manifestações
da cultura corporal que tem como característica comum a intenção explícita de
expressão e comunicação por meio dos gestos da presença de ritmos, sons e da
música na construção da expressão corporal. Invernó
(2003) e Duprat (2004) expõem que o trabalho com as variadas modalidades
circenses existentes, contribui para melhora dos alunos no que diz respeito a
coordenação, ao conhecimento e controle corporal e principalmente suas
capacidades comunicativas e expressivas.
Desse modo, é justificada sua
presença no contexto escolar. Também é relevante levar em consideração que o
circo é uma das manifestações artísticas e culturais que existem há séculos,
que assim como as demais culturas, sofreu modificações e algumas famílias
circenses ainda tem resistência e sobrevivem da sua arte.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Partindo de uma observação detalhada dos Parâmetros
Curriculares Nacionais da Educação Física que engloba o 1ª a 4ª série, é
possível ver que as atividades circenses estão inseridas principalmente no
bloco de Atividades Rítmicas e Expressivas por estar presente em suas práticas
elementos e manifestações expressivas que são desenvolvidas pelos alunos e por
envolver a arte, o teatro, a dança e a música.
Há também a possibilidade estarem inseridas no bloco
de Esportes, Jogos, Lutas e Ginásticas pelo fato de estarem presentes nos
componentes que envolvem jogos, ginásticas e até mesmo esportes. Já que as
acrobacias presentes nas atividades circenses são as mesmas da ginástica e
ainda há a possibilidade de se criar esportes por meio de jogos circenses já
existentes como jogos malabarísticos e jogos expressivos.
Com o bloco de Conhecimentos sobre o Corpo pode ser
abordado questões referentes a percepção corporal, aspectos motores,
biomecânicos mesmo que sejam mínimos devido a faixa etária.
Com base nessas observações feitas com os PCNs (BRASIL, 1997), é possível
concluir que por meio das atividades circenses na educação física escolar, há
como inserir a manifestação cultural do circo, desenvolvendo a expressividade,
jogos, ginástica, e até mesmo conhecimentos sobre o corpo. Isso tudo mostra que
as atividades circenses são um conteúdo completo que contribui no processo de
formação do aluno, no que diz respeito as suas capacidades e aprendizagens.
REFERÊNCIAS
BORTOLETO,
M.A. Introdução à Pedagogia das Artes Circenses. 1ª ed. Jundiaí: Fontoura. 2008.
BRASIL. Secretaria de Educação
Fundamental. Parâmetros curriculares
nacionais: Educação Física/Secretaria de Educação Fundamental. Brasília:
MEC/SEF, 1997.
DUPRAT, R.M. Atividades Circenses: possibilidades e
perspectivas para a educação física escolar. 2007. Dissertação (Mestrado em
Educação Física) – Universidade Estadual de Campinas, Campinas.
______. A
arte circense como conteúdo da Educação Física. 2004. Relatório final de
atividades de Iniciação Científica. Campinas: Faculdade de Educação Física:
Universidade Estadual de Campinas, 2004.
DUPRAT, R. M.;
BORTOLETO, M. A. Educação Física escolar: pedagogia e didática das atividades
circenses. Revista Brasileira de Ciências do Esporte, Campinas, v.02, n.28, p.171-190, jan.,
2007.
HUIZINGA,
J. Homo ludens: o jogo como elemento
da cultura. São Paulo: Perspectiva/Edusp, 1971
INVERNÓ, J. Circo y Educación Física: otra forma de
aprender. Barcelona: INDE Publicaciones, 2003.
PARANÁ.
Secretaria de Estado da Educação. Livro Didático Público: Educação Física.
Curitiba: SEED-PR,2006.
Oi Aline, o seu texto está muito bom, parabéns! Abraços Prof. Hugo
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