segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Oficina de Produção de Textos: A AVENTURA DE LER E ESCREVER - TEXTO Nº 17


ATIVIDADES CIRCENSES E OS PCN’S: PERSPECTIVAS PARA A EDUCAÇÃO FÍSICA

Aline de Souza Caramês
INTRODUÇÃO

Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs  - BRASIL, 1997) visam um modo para que os alunos usufruam de um conjunto de conhecimentos necessários e relevantes para o exercício da cidadania, tendo acesso aos recursos culturais, considerados como uma referência para a transformação de objetivos, conteúdos e didática do ensino, ampliando e articulando os conhecimentos que venham a ser adquiridos pelos alunos.
Na Educação Física, os PCNs (BRASIL, 1997) trazem uma proposta para humanizar, democratizar e diversificar a prática pedagógica da área onde são divididos em três blocos de conteúdos compostos por Conhecimentos sobre o corpo; Esportes, jogos, lutas e ginásticas e Atividades Rítmicas e Expressivas que criam oportunidade de alunos desenvolverem capacidades corporais e culturais, com finalidades de lazer, expressão de sentimento, afetos e emoções. Esses conteúdos são apresentados segundo sua categoria conceitual, procedimental e atitudinal, organizados em blocos interrelacionados e são explicitados como possíveis enfoques da ação do professor, dando oportunidade do aluno desenvolver capacidades corporais e culturais.
            De acordo com os PCNs (BRASIL, 1997), a escola é configurada como um espaço diferenciado, onde os alunos devem ressignificar os movimentos, atribuindo novos sentidos, realizando novas aprendizagens. Os objetivos dos PCNs (BRASIL, 1997) do primeiro ciclo (1º e 2º ciclo) são fazer o aluno participar de diferentes atividades corporais com atitudes cooperativas e solidárias, conhecer algumas de suas possibilidades e limitações corporais de forma a poder estabelecer algumas metas pessoais, sendo elas, qualitativas e quantitativas, participar de diferentes atividades corporais, conhecer, valorizar, apreciar e desfrutar de algumas das diferentes manifestações de cultura corporal presentes no cotidiano e organizar autonomamente alguns jogos.
Já no segundo ciclo (3º a 4º ciclo), os objetivos são participar de atividades corporais, reconhecendo e respeitando as características físicas e de desempenho motor, individuais e coletivas, sem discriminações; adotar atitudes de respeito mútuo, dignidade e solidariedade em situações lúdicas e esportivas, buscando solução de problemas sem violência; conhecer os limites e as possibilidades do próprio corpo controlando algumas de suas atividades corporais com autonomia e valorizando a sua própria saúde; conhecer, valorizar, apreciar e desfrutar de algumas das diferentes manifestações da cultura corporal sem posturas preconceituosas ou discriminatória; organizar jogos, brincadeiras ou demais atividades corporais, buscando valorizar como recurso para usufruir no tempo disponível; analisar e compreender alguns dos padrões de estética, beleza e saúde presentes no cotidiano de acordo com o contexto em que são produzidos, criticando o incentivo ao consumismo.
Por esse motivo, os PCNs (BRASIL, 1997) do 1º ao 4º ciclo merecem um destaque maior para uma compreensão do professor que atua com alunos dessa faixa etária. Pois é nessa fase que o aluno está em processo de formação de conhecimentos que serão adquiridos e levados por toda sua vida.
De acordo com os PCNs (BRASIL, 1997), a organização dos conteúdos da Educação Física se dá por meio de três blocos que busca evidenciar os objetos de ensino e aprendizagem que estão sendo priorizados, servindo para contribuir com trabalho do professor, distribuindo os conteúdos a serem trabalhados de maneira equilibrada e adequada. É uma forma de organizar o conjunto de conhecimentos abordado, segundo os diferentes enfoques que podem ser dados o qual ocorre uma articulação entre esses blocos já que tem vários conteúdos em comum, mas também tem suas especificidades.
Considerando que o Circo faz parte de um acervo cultural da humanidade e que faz parte da difusão das artes e da cultura popular, as atividades circenses podem ser incluídas nas escolas como conteúdos das aulas de Educação Física, como uma proposta de ampliar conhecimentos, de forma a desenvolver também os saber históricos, sociológicos e culturais no processo pedagógico. De acordo com Bortoleto (2008), as atividades circenses são divididas por unidades didáticas pedagógicas que facilita o desenvolvimento teórico e prático dos conteúdos para uma melhor organização dos mesmos. Essas unidades são: acrobacias (aéreas, solo/equilíbrios acrobáticos e trampolinismo), manipulação (de objetos, malabarismo), equilíbrios (equilíbrio do corpo em movimento e equilíbrio do corpo em superfície instáveis) e encenação (expressão corporal e palhaço).
Por constituírem de uma prática diversificada com cunho educativo, justifica-se a modalidade circense nas aulas de Educação Física. Além disso, o professor tem papel fundamental para por em prática os conhecimentos a seus alunos, deve incorporar de forma organizada, as principais questões considerando o desenvolvimento de seu trabalho, subsidiando as discussões, os planejamentos e as avaliações da prática de Educação Física.
O objetivo desse estudo é analisar os PCNs (BRASIL, 1997) buscando identificar em que blocos de conteúdos as atividades circenses podem estar inseridas, já que essas atividades não estão explícitas nesse documento como conteúdo da Educação Física.

BLOCO DE CONHECIMENTOS SOBRE O CORPO

O bloco “Conhecimentos sobre o corpo” tem conteúdos que estão incluídos nos demais, mas que também podem ser abordados e tratados em separado. Nesse bloco são tratados a partir da própria percepção corporal com conhecimentos de anatomia, a exemplo do conhecimento sobre ossos e músculos. A fisiologia aborda as alterações ocorridas no corpo durante a atividade física e as ocorridas em longo prazo, a bioquímica trata de conteúdos que subsidiam a fisiologia. A biomecânica, por exemplo, trata da adequação dos hábitos posturais, assim como as atitudes corporais. Os outros dois blocos guardam características próprias e mais específicas, mas também têm interseções e fazem articulações entre si.
Desse modo, alguns pontos que são desenvolvidos durante a prática das atividades circenses podem estar envolvidos no bloco de “Conhecimentos sobre o corpo”. Essa ideia é defendida no que diz respeito a execução de movimentos durante as acrobacias e malabarismos especialmente, pois essas práticas requerem noções corporais, o corpo deve estar posicionado para facilitar o desenvolvimento dessas ações, exigindo postura e conhecimentos motores.
O papel do professor é essencial no esclarecimento desses conhecimentos. Mesmo que sejam desenvolvidos com alunos da 1ª a 4ª série, é importante que o professor deixe claro esses entendimentos, por meio de noções básicas, a seus alunos para que comecem a compreender melhor sobre o próprio corpo.

BLOCO DE ESPORTES, JOGOS, LUTAS E GINÁSTICAS

A diversidade de esportes, jogos, lutas e ginásticas que há no Brasil é enorme. Em cada local há especificidades, realidades e conjunturas que possibilitam a prática de uma parcela desses elementos. Por esse motivo há uma dificuldade em definir critérios para essas práticas corporais já que estão vinculadas ao contexto que estão inseridas. Esse bloco inclui também, informações históricas das origens e características dos esportes, jogos, lutas e ginásticas, valorização e apreciação dessas práticas.
            Os esportes são práticas onde estão regras de caráter oficial e competitivo, com condições espaciais que exigem equipamentos sofisticados. Há federações que regulamentam sua atuação. A mídia é uma aliada na divulgação de esportes, assim como das lutas, ocorrendo apreciação por um diverso contingente de grupos sociais e culturais.
            Nos jogos há possibilidade de uma flexibilidade maior nas regulamentações, que são adaptadas, vão em função das condições que envolvem espaço e material disponíveis, do número de participantes, entre outras condições. Para Huizinga (1972), o jogo se difere do esporte, pois no jogo as regras e o andamento do mesmo são gerenciados pelos próprios jogadores. Já no esporte tem juízes e federações e outros órgãos responsáveis por gerenciar regras. Ainda de acordo com os PCNs (BRASIL, 1997), o jogo pode ter um caráter competitivo, cooperativo ou recreativo relacionado com o meio que está inserido, sendo em situações festivas, comemorativas, confraternização, cotidianas, ou como passatempo e diversão. Estão incluídas como jogos as brincadeiras regionais, os jogos de salão, de mesa, de tabuleiro, de rua e as brincadeiras infantis de modo geral.
As lutas são disputas com oponentes em que um deles deve vencer utilizando técnicas e estratégias de desequilíbrios, contusões, imobilizações ou exclusões em um espaço, tendo relações de ataque e defesa. Por meio de uma regulamentação, podem punir atitudes desleais cometidas pelos participantes. Ainda de acordo com os PCN (BRASIL, 1997), as lutas podem ser com brincadeiras que envolvem cabo-de-guerra, braço-de-ferro, chegando a práticas como capoeira, judô e caratê.
E por fim, a ginástica são técnicas corporais com caráter individual de diversas finalidades, inclusive usadas como forma de preparação para outras modalidades. Podem ser usados ou não, aparelhos para a realização de suas práticas. Assim como podem ser desenvolvidos em diversos espaços. Tem um relação privilegiada com o bloco de “Conhecimentos sobre o corpo” pois visa a percepção do próprio corpo, com a consciência da respiração, relaxamento e tensão dos músculo, sentindo as articulações da coluna vertebral. O desenvolvimento da ginástica fez com que, atualmente, suas técnicas fossem tratadas de modo diferente das ginásticas tradicionais que exigiam exercícios rígidos, mecânicos e repetitivos. Desse modo, foi possível perceber que proporcionou uma aproximação com os objetivos da educação física escolar, preocupando-se com a consciência o aluno, deixando de lado o alto rendimento.
No Livro didático da Disciplina de Educação Física do Estado do Paraná para o Ensino Médio (2006), há um dos capítulos intitulado de “O circo como componente da Ginástica”. Lá encontramos uma forma simplificada do histórico dessa modalidade relacionada a arte circense e suas transformações até os dias atuais. Ainda é possível constar propostas de atividades que envolvem malabarismo, acrobacias e a representação do palhaço e até mesmo a possibilidade de uma discussão sobre a presença de animas em circos. Com essa preocupação em inserir as atividades circenses na educação física é válida, pois dá um reconhecimento maior na disciplina, procurando ampliar as possibilidades que podem ser desenvolvidas por meio da cultura corporal.
É válido também acreditar que as atividades circenses podem estar inseridas nesse bloco já que a ginástica, assim como as atividades circenses, tem inúmeras possibilidades de se trabalhar o corpo, levando em consideração que as acrobacias são um dos componentes da ginástica.
Ainda buscando relação com esse bloco, Bortoleto (2008) aponta que por meio das atividades circenses, podem surgir jogos e esportes. Essa é um das possibilidades já que existem jogos circenses, podendo ser jogos malabarísticos e até mesmo jogos expressivos. E há possibilidade de que os próprios alunos podem criar jogos com a aplicação desse conteúdo.

BLOCO DE ATIVIDADES RÍTMICAS E EXPRESSIVAS
           
Os conteúdos aqui apresentados estão relacionados as manifestações da cultura corporal que têm como características comum a intenção de expressar e comunicar perante gestos com estímulos sonoros como referência para o movimento corporal. Incluem brincadeiras cantadas e danças. A diversidade de culturas significativas, fruto da imigração que houve no país, mostra a quantidade de possibilidades que podem ser desenvolvidas na aprendizagem.
            As culturas existentes são compostas por manifestações rítmicas e/ou expressivas muitas vezes peculiares dependendo da região em que está inserida e de acordo com os povos que a trouxeram. Algumas delas, inclusive as danças sofreram influências, transformações e foram multiplicadas. Outras foram preservadas e tiveram poucas transformações e ainda há outras que estão desaparecendo.
            As atividades rítmicas e expressivas têm conteúdos amplos e diversificados que através dessa concepção os alunos podem conhecer qualidades do movimento, obtendo noções expressivas como leve, pesado, forte, fraco, duração, intensidade, direção. Possibilitando o conhecimento de técnicas de execução de movimentos, o desenvolvimento da capacidade de improvisar, construir coreografias, valorizar e apreciar as manifestações expressivas.
            Na relação com as atividades circenses, há inúmeros autores que defendem que essas atividades estão totalmente relacionadas ao bloco de Atividades Rítmicas e Expressivas. Duprat e Bortoleto (2007) ressaltam a ideia de que o papel da educação física escolar com as atividades circenses é proporcionar o contato das crianças com a cultura corporal existente no circo, com um nível de exigência elementar onde as potencialidades expressivas e criativas merecem destaque, além da aplicação de aspectos lúdicos desta prática.
De acordo com Invernó (2003) as atividades circenses são tratadas como uma atividade expressiva com uma série de conhecimentos de alto valor educativo, que são coerentes e justificam sua presença no currículo educativo. Essas atividades buscam uma pedagogia própria, preocupada com suas particularidades, sendo um desafio para professores de educação física que devem debater sobre essa ideia.
Para Duprat (2007) o circo é um conjunto de atividades expressivas possuindo uma teatralidade múltipla no fazer artístico. Esse é um ponto que foi desenvolvido historicamente copiado, recopiado e que foi incorporando, diferentes manifestações artísticas, como música, dança, teatro, arte dos funâmbulos e saltimbancos, dos cavaleiros militares, entre outras. De modo que integre o grupo das atividades rítmicas e expressivas que devem incluir as manifestações da cultura corporal que tem como característica comum a intenção explícita de expressão e comunicação por meio dos gestos da presença de ritmos, sons e da música na construção da expressão corporal.             Invernó (2003) e Duprat (2004) expõem que o trabalho com as variadas modalidades circenses existentes, contribui para melhora dos alunos no que diz respeito a coordenação, ao conhecimento e controle corporal e principalmente suas capacidades comunicativas e expressivas.
            Desse modo, é justificada sua presença no contexto escolar. Também é relevante levar em consideração que o circo é uma das manifestações artísticas e culturais que existem há séculos, que assim como as demais culturas, sofreu modificações e algumas famílias circenses ainda tem resistência e sobrevivem da sua arte.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Partindo de uma observação detalhada dos Parâmetros Curriculares Nacionais da Educação Física que engloba o 1ª a 4ª série, é possível ver que as atividades circenses estão inseridas principalmente no bloco de Atividades Rítmicas e Expressivas por estar presente em suas práticas elementos e manifestações expressivas que são desenvolvidas pelos alunos e por envolver a arte, o teatro, a dança e a música.
Há também a possibilidade estarem inseridas no bloco de Esportes, Jogos, Lutas e Ginásticas pelo fato de estarem presentes nos componentes que envolvem jogos, ginásticas e até mesmo esportes. Já que as acrobacias presentes nas atividades circenses são as mesmas da ginástica e ainda há a possibilidade de se criar esportes por meio de jogos circenses já existentes como jogos malabarísticos e jogos expressivos.
Com o bloco de Conhecimentos sobre o Corpo pode ser abordado questões referentes a percepção corporal, aspectos motores, biomecânicos mesmo que sejam mínimos devido a faixa etária.
Com base nessas observações feitas com os PCNs (BRASIL, 1997), é possível concluir que por meio das atividades circenses na educação física escolar, há como inserir a manifestação cultural do circo, desenvolvendo a expressividade, jogos, ginástica, e até mesmo conhecimentos sobre o corpo. Isso tudo mostra que as atividades circenses são um conteúdo completo que contribui no processo de formação do aluno, no que diz respeito as suas capacidades e aprendizagens.

REFERÊNCIAS

BORTOLETO, M.A. Introdução à Pedagogia das Artes Circenses. 1ª ed. Jundiaí: Fontoura. 2008.

BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais: Educação Física/Secretaria de Educação Fundamental. Brasília: MEC/SEF, 1997.


DUPRAT, R.M. Atividades Circenses: possibilidades e perspectivas para a educação física escolar. 2007. Dissertação (Mestrado em Educação Física) – Universidade Estadual de Campinas, Campinas.

______. A arte circense como conteúdo da Educação Física. 2004. Relatório final de atividades de Iniciação Científica. Campinas: Faculdade de Educação Física: Universidade Estadual de Campinas, 2004.

DUPRAT, R. M.; BORTOLETO, M. A. Educação Física escolar: pedagogia e didática das atividades circenses. Revista Brasileira de Ciências do Esporte, Campinas, v.02, n.28, p.171-190, jan., 2007.

HUIZINGA, J. Homo ludens: o jogo como elemento da cultura. São Paulo: Perspectiva/Edusp, 1971

INVERNÓ, J. Circo y Educación Física: otra forma de aprender. Barcelona: INDE Publicaciones, 2003.

PARANÁ. Secretaria de Estado da Educação. Livro Didático Público: Educação Física. Curitiba: SEED-PR,2006.

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