segunda-feira, 9 de julho de 2012

O PRECONCEITO NA ESCOLA... E NA EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR

Hugo Norberto Krug

Considerações iniciais a respeito do preconceito na escola... e na Educação Física Escolar
Atualmente estamos vivendo tempos de grandes transformações, onde o ser humano está preocupando-se cada vez mais com o seu bem-estar, com sua valorização enquanto pessoa, como também com a busca de uma sociedade mais justa e mais humana.
A educação e conseqüentemente a escola e o professor possuem um papel importante nesta busca de uma sociedade mais justa e humana. Nesta busca vários obstáculos são enfrentados e entre eles destaca-se o preconceito.
Assim, este ensaio tem como objetivo abordar a questão do preconceito na escola... e na Educação Física Escolar, no intuito de criar subsídios para que os professores possam fazer uma reflexão sobre este tema, e melhor encaminhar as práticas educativas.
Entretanto, sabemos que o tema preconceito é muito polêmico onde poucos profissionais o têm abordado, simplesmente por ser algo complicado.
A escola pode amenizar e discutir o preconceito, pois participa diretamente na formação da criança, o que é de fundamental importância na construção de um cidadão que saiba respeitar todas as diversidades existentes entre as pessoas.

Conceito e tipos de preconceitos
O preconceito nada mais é que formular conceitos e opiniões antes de conhecer a realidade (pré=antes; conceito=distingui). O preconceito nasce quando um grupo defende sua identidade como a melhor e a legitima, deixando as outras à margem da sociedade, sem ninguém para defendê-las.
Então o preconceito é um julgamento prévio negativo que se faz de pessoas estigmatizadas por estereótipos. Estereótipo são atributos dirigidos a pessoas e grupos, formando um julgamento a priori, um carimbo. Uma vez carimbados os membros de determinado grupo como possuidores deste ou daquele atributo, as pessoas deixaram de avaliar os membros desses grupos pelas suas reais qualidades e passam a julgá-las pelo carimbo.
Também podemos falar de discriminação que significa impor uma condição de caráter antes de conhecer algo ou alguém. Discriminação é o nome que se dá para a conduta (ação ou omissão) que viola direitos das pessoas com base em critérios injustificados e injustos, tais como: a raça, o sexo, a idade, a opção religiosa e outros.
Desta forma, os tipos mais comuns de preconceito são basicamente os seguintes: social, cultural, racial, religioso, intelectual, físico e de gênero.

Preconceito cultural
A questão de moradia, localização, naturalidade, podem ser outros fatores que geram preconceito na escola.
Os alunos que vem da zona rural para estudarem e voltam para suas casas ou residem na cidade, mas não perderam suas raízes são discriminados pelo linguajar, vestuário, maneiras de agir, de reagir, de conhecimento, tudo isso geralmente é visto como motivo para chacota e exclusão pelos outros alunos.
O sotaque também é outro ponto. Migrar para outro estado, outra cidade onde as palavras, as gírias vão se modificando também podem gerar preconceito.
A escola tem o dever de valorizar todas as culturas, nos diferentes contextos e aspectos. Contemplar a realidade de seus alunos. Incluir nos temas transversais a pluralidade cultural, segundo os PCN’s (Parâmetros Curriculares Nacionais). Nas aulas de Educação Física, adotar uma postura não preconceituosa é a chave para atingir os objetivos nessa relação.

Preconceito de gênero
A palavra gênero equivale aos processos culturais de masculinidade ou feminilidade no contexto. Já o sexo é a condição biológica (macho ou fêmea).
Está claro que a sociedade desempenha papel fundamental na formação da conduta relacionada a sexo, pois desde a infância meninos e meninas são criados em sub-culturas diferentes. Há uma diferenciação entre eles pelos pais, por outros adultos e companheiros de brincadeiras, em múltiplas formas. Diferenciar sentimentos permitidos, valorizar posturas e desvalorizar os sentimentos femininos.
As escolas ainda criam e fortalecem segregações, esteriótipos e até discriminações sexuais.
Na Educação Física a questão já é histórica, pois a prática de atividades físicas sempre foi discriminatória mantendo os papéis sexuais distintos e determinados enfatizando os esteriótipos tipicamente masculinos e femininos.
Na época da República, quando a Educação Física foi introduzida na escola, a idéia foi negada pela sociedade. No Estado Novo, na ditadura a participação das mulheres fica restringida às comemorações cívicas, pois no campo esportivo a maior concentração era do sexo masculino. Na época da Revolução Industrial a preocupação era com o tipo de atividades específicas para a mulher, sem que descem prejuízos às funções essenciais ligadas a maternidade.
Ao analisarmos a biografia das pessoas sobre a passagem das mesmas, nas aulas de Educação Física, concluímos que essa prática sempre se apresentou dentro das características metodológicas ditatoriais, alienantes e discriminantes.
Também constatamos que há um bloqueio por parte dos meninos em praticar atividades junto com as meninas, mas assim que estas demonstram habilidade em executar alguma tarefa tida como masculina, o incômodo desaparece, tornando o sexo como critério de discriminação irrelevante. Já os meninos que não demonstram habilidades motoras que satisfaçam o grupo são também discriminados, porém mais tolerados que as meninas.
Nas aulas as meninas se queixam da brutalidade e agressividade dos meninos, e estes das frescuras, molezas e fragilidade das meninas.
Se nas aulas houver esse tratamento diferenciado por professores, também terá um quadro de desempenho motor igualmente diferenciado, e cada vez mais discriminatório, anulando sempre uma das partes.
A partir desse argumento questionamos que ao se manter a separação da turma não estaríamos reforçando uma Educação Física de discriminação? E que se afinal a Educação Física existe para ajustar as pessoas à sociedade ou para dar a elas condições de participar de transformações necessárias?
Mas o preconceito na escola também atinge os docentes. Há casos como de uma professora aprovada em 1º lugar num concurso de magistério do Espírito Santo e não tem sua carga horária da escola completa porque a psicóloga diz que trabalhar com meninos teria que ser um professor do sexo masculino e ela ficaria restringida ao atendimento as meninas. Ou de um professor que concluiu o curso de magistério e após conclusão levou seu currículo a trinta instituições até conseguir ser contratado e hoje é adorado por pais e alunos. Há ainda a opção sexual onde um professor homossexual que desde a infância sofreu discriminação, resiste ao preconceito e às humilhações para seguir a profissão a qual tanto se orgulha.

Preconceito físico
Só os gordos sabem quanto dói ser chamado de gordo, sobretudo quando se é adolescente. Entre os colegas da quinta série de uma escola de São Paulo, Cléber de 12 anos e 76 quilos era conhecido como gordão, bolo fofo ou baleia. Não era o único a ter problemas.
Psicólogos explicam que é entre os 12 e os 18 anos que as pessoas desenvolvem a imagem corporal que vão carregar pelo resto da vida. Crianças e adolescentes obesos, mesmo que se transformem em adultos com peso normal, podem continuar com uma auto-imagem de gordos, o que se traduz em roupas largas e espalhafatosas.
Esta imagem prejudica a criança, pois ela acaba deixando de fazer várias atividades, até mesmo de possuir uma vida social se relacionando com outros colegas, por causa da vergonha por ser obesa.
Um dos problemas está na não discussão em sala de aula de problemas como esses, dando dicas aos alunos sobre saúde, comportamento (envolvendo aqui a questão do preconceito) e como se alimentar bem.
Uma das saídas para resolver este problema são técnicas de dinâmica de grupo, fazendo com que os alunos debatam o assunto e encararem o problema com mais naturalidade. Palestras de nutricionistas ensinando o valor dos alimentos, também é importante. Reuniões semanais, examinando planilhas nas quais os alunos anotam o que comem diariamente e as atividades físicas realizadas no mesmo período também contribuem na luta contra o sobrepeso.
Outra solução é levar na lancheira algo leve e saudável. Os nutricionistas lembram que o lanche é apenas parte da dieta, não a refeição principal. Além disso, na hora do recreio a criança quer tempo para conversar ou jogar bola. A merenda deve ser nutritiva e saborosa, mas leve.
As cantinas devem ter mais opções, pois os adolescentes não gostam de levar lanche de casa, e a partir de certa idade consumir na cantina é sinal de distinção. Porém as cantinas oferecem poucas variedades aos estudantes, com alimentos ricos em gorduras e industrializados, que são piores ainda.
Outro preconceito encontrado nas escolas se refere a colegas que possuam necessidades educativas especiais. Nem todos alunos sabem lidar com um colega especial, mas é visto que a minoria se interessa em ter um amigo com algum tipo de deficiência física. Alguns se fazem valer do preconceito na hora da Educação Física, deixando de lado o colega achando que ele é incapaz de realizar as atividades ou de que poderá atrasá-los nas mesmas. Outros são mais cruéis e acabam colocando até apelido, fazendo com que se sintam mais excluídos ainda, tornando cada vez mais difícil a prática da inclusão destas crianças.
Neste caso, é necessário também uma prática de conscientização da turma para evitar que isto ocorra. A partir do momento que os alunos reconhecem o valor de um colega com deficiência física, ambos só tem a ganhar, e deve ser isto que os alunos precisam perceber, através do convívio, de atividades juntas, e de práticas que façam os alunos perceberem que todos podem ser iguais e que as diferenças estão na maneira de pensar.
Está na Constituição Federal, Capítulo II, Seção I, Art. 205, a educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade. Portanto, os alunos com necessidades educativas especiais devem ser tratados com respeito, começando pela inclusão, dando a eles o direito de serem iguais perante todos.
Estigma
O termo estigma surgiu na Grécia Antiga, para se referir aos sinais do corpo que os gregos interpretavam como algo mau daquela pessoa. Assim negativamente marcada, a pessoa deveria ser evitada, especialmente em lugares públicos.
Hoje em dia é considerado estigma qualquer marca diferencial - não somente do corpo - de uma pessoa, que o social se aproveita para reduzi-la a esse sinal. Estigmatizar é como colocar um rótulo em alguém. Pode-se rotular uma pessoa a partir de um defeito físico, a gordura ou magreza, a cor da pele, a estatura, o modo de falar, andar, vestir, se é canhota, enfim, qualquer traço que fuja dos padrões normais, pode levar um grupo social a discriminar, rejeitar ou excluir uma pessoa ou grupo.
No cotidiano escolar é estigmatizante e causa sofrimento psíquico quando uma pessoa sente-se reduzida a: retardado, escravo, carvão, ceguinho, zarolho, perna torta, dumbo, etc. Tais modos de tratamento, geralmente repetido de modo zombeteiro e depreciador, no mínimo, terminam irritando a vítima ou colando nela como apelido.
Freqüentemente, crianças de classe média discriminam as pobres, os menos pobres também discriminam os ainda mais pobres, as brancas tendem a discriminarem as que são negras, asiáticas ou indígenas. Os filhos de pais separados ou desquitados também sofrem discriminação. Também nas escolas, as crianças e os adolescentes sentem-se discriminados porque simplesmente usam óculos. Também uma adolescente grávida é tão discriminada quanto um garoto que perde o cabelo no tratamento químioterápico. Enfim, ser diferente na escola - aluno ou profissional - ainda é alvo de estigmatização por aqueles que se acham perfeitos. Tal como está na Bíblia, se pudessem, alguns atirariam pedras nos diferentes por ter uma marca física, psicológica, racial ou cultural.
Se a escola deixa que esse tipo de atitude discriminatória ou excludente continue, estará autorizando o desenvolvimento de cidadãos injustos, superficiais e maus. O adulto que estigmatiza, discrimina e exclui seu semelhante certamente aprendeu quando criança a agir assim.
A escola e a universidade são instituições que supostamente reinam a razão, mas na prática é um espaço social dominado pelas paixões, preconceitos, estereotipias e estigmas. Grupos ou panelas nelas existentes, são sintomas de que nelas reinam paixões jamais discutidas ou investigadas. Há uma espécie de acordo de cavalheiros nessas instituições em não tocar em determinados assuntos, como por exemplo, a questão racial, as discriminações dirigidas a um professor seguidor de uma determinada linha teórica divergente.
O que fazer quando profissionais em vez trabalhar para diminuir reforçam estereótipos e estigmas? O que fazer quando sabemos que o professor estigmatiza um aluno ou colega porque, no fundo, carrega o preconceito contra nordestino ou é racista contra negros? O que fazer se a escola - mesmo sem querer - também reproduz os estereótipos e preconceitos existentes na sociedade?
Professores e demais funcionários também sofrem ao serem vítimas de apelidos e exclusão, tanto pelos alunos como pelos próprios colegas de trabalho. Os sinais de exclusão mais freqüentes acontecem através do olhar, do distanciamento do corpo, das palavras que visam queimar socialmente a pessoa, geralmente feito em forma de cochicho, de meias palavras, insinuações e, nos casos mais graves, através de atos de exclusão camuflados hoje tipificados de assédio moral. O assédio moral é uma atitude psíquica ainda mais violenta, pois causa profundos danos na personalidade da vítima indefesa. Segundo estudos, o assédio moral acontece quando alguém ou um grupo tentam destruir a auto-estima de outra mais frágil ou marcada por algum atributo que chame a atenção. A vítima não sabendo como reagir, interioriza o estigma, terminando por achar-se merecedora da rejeição. Ela pensa: Se todos vêem que sou tão defeituoso, feio, ruim, logo, devo aceitar isso como verdade.
Recentes investigações das causas dos atos incompreensíveis em que jovens cometeram assassinatos múltiplos em algumas escolas norte-americanas, divulgadas na televisão, apontam a estigmatização, a intimidação, a provocação, como um flagelo em todos os EUA que acontecem diariamente nas escolas. Esses crimes não mais são considerados produtos de psicóticos ou loucos. Suspeita-se que a maioria dessas tragédias absurdas naquele país é decorrente dessa situação infernal em que jovens são humilhados todos os dias e que decidem preferirem matar ou morrer a serem provocados outra vez.
Mas, existem estigmas que tem o poder de deixar a pessoa marcada para sempre. Por exemplo, a marca de traidor, delator, alcagüete, dedo duro, tem o poder de fixar na memória social, causando sérios danos sócio-psicológicos no seu portador que poderia carregar tal marca maldita para sempre.
Existem atos e palavras que passam por inocentes, mas que no fundo portam estigmas e desejo de exclusão. Por exemplo, quando alguém diz meu aluno down, ou minha amiga, que é deficiente física, será que não está fazendo um ato de exclusão social? Será que esses atos não são de exclusão e racismo, camuflados? Perguntemos as pessoas vitimadas, como se sentem tratadas dessa maneira ?
Não podemos esquecer outra faceta quanto ao uso de estigmas. Pessoas ou grupos, por algum interesse escuso, costumam usar do engenhoso artifício de forjar um falso estigma sobre alguém que eles odeiam com a finalidade de queimá-lo. Casos comprovados criminalmente, como a Escola Base, de São Paulo, e outro retratado no filme norte-americano Acusação, em que professores e diretores foram acusados injustamente de pedofilia. Diante de maquinações como essas, é praticamente impossível remover de si tal marca totalmente, mesmo sendo mentira. Porque mesmo sendo comprovado ser falsa a acusação o imaginário social ficará sempre com a suspeita ou dúvida.
Se os pais deixam de corrigir a conduta dos filhos que teimam em estigmatizar e excluir os coleguinhas, ainda poderíamos contar com os professores um penúltimo recurso de re-educação. Mas, isso só seria possível se os professores antes souberem trabalhar em si próprios, virtudes como: a tolerância, o respeito ao próximo, a polidez, a temperança, a generosidade, a humildade, a boa-fé. A educação deve ir para além do ensino de conhecimentos e da simples tomada de consciência dos problemas humanos; além de palavras do professor (cuspe e giz) deve-se propor exercícios de atos de cidadania de todos. Afinal, não é suficiente ter boas intenções, é preciso passar ao teste da realidade.

Preconceito social
Uma das formas mais comuns de preconceito no Brasil e em países onde a desigualdade se torna bem visível, num nível acentuado é o preconceito social. O que chamaríamos de preconceito social?
Muito se enganam as pessoas quando acham que o preconceito social acentua-se na classe mais rica, pois esquecemos que o pobre também relata atos de indiferença ao observar o tipo de roupa, carro, casa e fazer o seu pré-julgamento.
Chegamos a uma guerra, e qual país poderia refletir isso melhor do que o Brasil, onde dados comprovam e nos envergonham perante um mundo. Um dos vinte mais ricos países do mundo com uma das dez piores distribuições de renda. Creio que dos preconceitos é o mais fácil para se acabar, porque vemos que o preconceito social é gerado pela falta de investimentos numa área do nosso país e não tem se quer atenuantes hereditários como o que acontece no racismo.
Se nos aprofundarmos na questão social; veremos que dependerá, no caso do Brasil, de não somente uma mudança de governo e uma média de cinqüenta anos de investimento na educação, e sim também de mudar a mentalidade das classes dominantes desse país que é inaceitável apenas uns 10% obter a renda final de mais de 55% dos brasileiros.
Vemos também o preconceito social acentuado pela classe média, que grande parte é pior do que a classe dominante, pelo falto de se acharem mais afetada pela miséria no país.
A classe média (uma grande parte) poderia ser chamada de estúpida por tentar acreditar que é mais importante do que os oriundos da pobreza. Se sentem superiores e são profundos egoístas ao pensarem que tendo casa, carro, uma condição boa e um papel decisivo na sociedade. Se sentem no direito de julgar por meio de sua condição na sociedade, achando que o dinheiro é tudo, é único, mesmo nunca chegando a obter o que as classes dominantes têm. Os ricos têm seu constante grau de facilidade em qualquer área social, a classe média, consome e domina a opinião publica no nosso país desde que seja interesse do rico, e o pobre?
Será que as classes pobres estarão sempre presas ao egoísmo dos ricos, e ao medo da classe média, será que o pobre sempre será excluído dos privilégios da evolução e continuará não tendo acesso a educação, ao lazer, sempre com o futuro já escrito por aqueles que precisam de mão de obra barata e frágil.
        Assim chegamos a expressão desigualdade social que refere-se à distribuição diferenciada, numa escala de mais a menos, das riquezas produzidas ou apropriadas por uma determinada sociedade, entre os seus participantes.
O principal vício de constituição da sociedade brasileira, desde o seu nascimento, é a desigualdade, é algo que se incorporou aos nossos costumes, que está de certa forma incrustado na nossa alma.
As diferenças que tem origem natural ou cultural não induzem a um tratamento de superioridade ou inferioridade, mais – ao contrário – elas exigem até mesmo um tratamento diferenciado. As desigualdades são sempre a manifestação de um corte horizontal na sociedade, estabelecendo-se camadas superiores, camadas inferiores e, entre elas perpassa sempre uma manifestação de desprezo, de hostilidade ou de exploração.
A desigualdade é perversamente construída. A diferença é construtiva e enriquecedora, garante a autenticidade, o direito à identidade, à diferença cultural, à diferença de nossas raízes. A desigualdade traz a semente da hierarquia , do superior e do inferior. Ela traz a semente da discriminação, que muitas vezes gera o ódio. A tolerância, portanto, representa igualmente o reconhecimento da diferença, nunca da desigualdade. É o reconhecimento de que – apesar das diferenças – todos têm direitos iguais e individuais.
Tudo isso nos leva a falar de exclusão social que é um processo de estigmatização crescente e perigoso, de um contingente social que perde, gradativamente, qualquer importância econômica (...) dentro de um determinado paradigma de desenvolvimento que parece presidir as transformações tecnológicas (...) um processo que está ocorrendo nas representações que o imaginário brasileiro tem do pobre (anos 30 - coitado, anos 60/70 - malandro e anos 90 - perigoso) (...) o processo de não reconhecimento do outro como sujeito de direito.
Assim nos reportamos aos estereótipos que acontecem quando as pessoas deixam de avaliar os membros de um grupo pelas suas reais qualidades e passam a julgá-las por um atributo um carimbo.
Já discriminação social é quando uma conduta ou omissão que viola direitos, das pessoas com base em critérios injustificados e injustos tais com a raça, o sexo, a idade, a opção religiosa etc.

Preconceito religioso
Como o preconceito racial o preconceito religioso é algo de hereditário passado e transportado pelo ódio de uma região que tem um certo segmento, uma certa tradição. Essas tradições que são passadas muitas vezes são colocadas pela religião.
O preconceito religioso é forte em várias partes do mundo, mais antigo do que o racismo, detalhado bem na era de cristo, a dois mil anos atrás.
Mas se quisermos poderíamos ir mais longe nessa especificação, onde lapidações comprovam que já existia o preconceito religioso bem antes do que imaginávamos, no começo da história da civilização humana, nas primeiras tribos, um ódio que foi se passando de pai para filho e permanece até hoje em pleno século XXI D.C.
No Brasil ser evangélico tem várias definições, como crente, fanático e outros nomes que servem popularmente para identificar aquele que segue a religião protestante. Infelizmente isso é mais do que comum, tanto no evangélico quanto no católico, mas por serem e crerem no mesmo criador, por estarem definidos como pessoas que crêem no Cristianismo não há nenhuma violência, mesmo ainda não havendo respeito.
Como no caso dos alunos que, nas aulas de Educação Física seguem os costumes de sua religião, o que acaba sendo um motivo de discriminação e deboche por parte dos próprios colegas. Para exemplificar podemos citar a maneira das meninas de determinadas religiões participarem das aulas usando vestimentas de costume característica de sua religião.

Preconceito racial
Racismo é um processo pelo qual grupos específicos, com base em características biológicas e culturais verdadeiras ou atribuídas, são percebidas com uma raça ou grupo étnico inerentemente diferente e inferior. Essas diferenças são utilizadas como fundamento lógico para se excluírem os membros desse grupo.
Por ser um lugar de extrema importância na sociedade, e que influencia e que é influenciada pelo contexto social a escola precisa incluir na prática pedagógica a história, e o conjunto de tradições das diferentes raças e povos que compõem a sociedade brasileira. Isto porque a escola tem função determinante na formação da personalidade do indivíduo, necessitando assim abordar assuntos que permeiam os valores dos diferentes grupos e raças da sociedade, como o negro por exemplo, que, na maioria das vezes, é alvo de preconceito em vários lugares e também nas mais variadas situações.
Porém, o racismo em relação ao negro ainda é pouco abordado nas escolas, e, muitas vezes, é dentro dela que o negro é discriminado e humilhado. São inúmeras as situações em que isso acontece: pode ser através de um colega, funcionário, grupo de aluno e, até mesmo através do próprio educador, o próprio professor mostra essa preferência e o seu afeto em maior quantidade ao aluno branco, dando-lhe mais atenção, elogios, enfim, deixando notório à toda classe seu comportamento desumano. Isso faz com que o aluno negro se sinta cada vez mais inferior, mais incapaz, mais excluído, resultando em um baixo rendimento na escola e conseqüentemente nas avaliações. Os alunos de todas as raças precisam receber mesmo afeto, a mesma atenção por parte do professor, principalmente aqueles que tendem a sofrem preconceito em relação à sociedade, como os negros. É preciso melhorar a auto-estima dessas crianças, para que melhorem seu rendimento escolar e principalmente que eles tenham orgulho de suas raízes e de sua cultura negra e que se democratize as oportunidades com fins da construção de uma sociedade mais justa.
As vivências que o aluno tem nas aulas de Educação Física a modificam não somente como ser corpóreo e motriz, mas abrange todas as suas dimensões, atuando em sua formação como ser estético, social, ético, e político, por isso, a Educação Física como um fenômeno educativo, que não pode ignorar a discriminação e suas raízes históricas, compreendendo as suas contradições e buscando superá-las em sua prática.
Portanto, o professor de Educação Física deve estar ciente de sua responsabilidade ética de contribuir para a luta contra o racismo. Embora saibamos que a ação de um professor não será suficiente para mudar essa realidade social, devemos acreditar na possibilidade de oferecer boas contribuições neste sentido. Mas é fundamental que não se mantenha neutro no que refere-se a esta questão, pois a neutralidade significa cooperar com a ideologia dominante.
É necessário historicizar as categorias raciais, para que possamos construir a possibilidade de criar um entendimento e diálogo entre as diferentes culturas. E, é a escola que tem que conviver com a diversidade, o desafio, o conflito, para negociar com as diferentes culturas que a compõem, tornando-se, assim, um lugar no qual será possível alargar o discurso cultural em que todos possam expressar suas diferenças culturais.
Alguns exemplos de associações de coisas ruins, feita por uma classe dita superior, em relação ao povo negro: orgulho negro, setembro negro, luto, luta negra, livro negro, negro destino, nuvem negra, etc.
O preconceito como o racial, começou como desculpa de que um ser era superior a outro, e isso os dava direito a usar o mais fraco para trabalhos como servos e escravos. Assim nos indagamos, somente aconteceu com os romanos? Não, a civilização Egípcia usou também esse preconceito para ter mão de obra escrava, hoje admiramos a beleza dos monumentos sem imaginar o quanto sofreram aqueles servos.
O preconceito racial nem sempre se dá a negros e brancos como vemos, mas sim a diferença de cultura, etnia, coisas que diferenciem raças dentro de uma mesma composição global. Infelizmente esse preconceito sempre originou pela ganância, porque jamais poderíamos dizer que pela cor da pele ou pelo dialeto falado um é mais forte ou mais fraco, mais inteligente ou com menos capacidade de absorver conhecimento do que outro povo. Somos todos do mesmo fruto, diferenciados somente pelo meio, pelas tradições, mas a ganância, aí sim do homem branco por volta do século XV e suas ações expansionistas precisavam de alguém que fosse funcionário gratuito dos feudos, originando assim um maior lucro.
O preconceito racial é o mais vergonhoso de todos os preconceitos da humanidade porque ela própria usou seu ser para uso de venda, como se o ser humano por ter uma cor diferente fosse inferior, dado como mercadoria. Tristemente temos que reconhecer que essa história veio se repetindo do mercantilismo até nossos dias.
Saber que seu próximo tinha tratamento que nem mesmo os animais mereciam para que trabalhassem mais, sendo tirados de suas terras e tratados como objetos nas mãos das oligarquias e originando assim quase que um caos no nosso sistema humano. É sem duvida o maior erro da história do homem. Mas com o tempo se passando, alguns países como o Brasil puderam originar raças mestiças que deixaram um pouco de acentuar a discriminação tão presente na escravidão.
Vemos infelizmente até os dias de hoje, tanto numa piada como sobre negros quanto numa conversa informal que dentre uma discussão sai à palavra preto, ou então crioulo, como se negro ou qual raça que seja fosse inferiorizada pela cor de sua pele ou pelo modo de sua cultura.
Kun Kluss Clan para quem não sabe a palavra, mas com certeza em filmes ou em documentários já viram dos americanos brancos encapuzados pregando o fim dos negros, e os tratando como raça supérflua ao seu país. Saber que o sul dos EUA, principalmente no Tenesse, local onde nasceu essa organização o preconceito resiste ao longo do tempo, é um atraso na nossa sociedade.
Mas o fato mais marcante do preconceito foi na Segunda Guerra Mundial, onde a conseqüência desta mesma foi o extermínio de aproximadamente seis milhões de judeus. Todos estes exterminados por uma desculpa de ser uma raça inferior, mas os atenuantes eram que na Alemanha estava assentada em uma crise econômica e colocada na mão de seus credores, os judeus, povo sem pátria que corriam atrás de comércio lucrativo, donos de bancos. Assim um grito de independência era esse de superação da raça ariana, onde um padrão de pessoas (Adolf Hitler não tinha nenhuma média e nenhuma característica desse padrão ariano e era austríaco) poderia assumir o comando do mundo, usando o imperialismo sobre aqueles que eram considerados inferiores. Talvez o maior massacre da história da humanidade, a maior vergonha, que demonstra a vontade do ser humano superar o outro por motivos nada plausíveis. O preconceito racial é e sempre foi alimentando por razões discutíveis e pelo ódio e ganância do próprio ser humano.

Preconceito intelectual
Alguns devem se indagar, porque do nome preconceito intelectual? Preconceito intelectual ou descriminação de pensamento e escolhas vem do mesmo sentido, de você não poder imaginar ou supor, querer ou desejar abertamente algo ou alguém.
Vemos o preconceito intelectual, presente na opção sexual de alguém, o homossexualismo, seja ele aberto ou não é uma escolha de cidadão para cidadão, como a cor do carro ou a roupa a vestir.
Obviamente o preconceito tem que ser reprimido quando passasse ao constrangimento de terceiros, porque como se trata de um pensamento não se pode obrigar a estes mesmos a aceitação dessa mentalidade.
O mínimo e justo do preconceito intelectual que pode ser aplicado é o respeito pela opinião.
O preconceito intelectual não se trata somente do homossexualismo, logicamente se diversifica pelo motivo de que os pensamentos em um ser é infinito. Escolher um time ou algo derivado do esporte é sofrer de uma ofensa até mesmo uma agressão, ou até mesmo a morte, muito visto na Europa, onde ingleses e holandeses não se aceitam dentro do mesmo estádio. É também um modo de preconceito que se agrava com a violência por um motivo tão banal.
O maior caso de preconceitos intelectuais se vê nos países que sofrem ditadura, onde aqueles que se colocam contra um regime por questões éticas ou ideológicas são espancados, retirados de seu país, mortos por quererem acreditar que uma forma de governo é errada. Na América Latina foi visto isso muito no século XX, tanto no Brasil com a ditadura da década de 30 até a ditadura da década de 60 que acabou em 1986, até a morte de Salvador Aliende no Chile que tentou mudar o social de seu país e foi morto pela ditadura patrocinada pelos estadunidenses, como em toda América Latina e algumas outras partes do mundo.
O preconceito intelectual ou de pensamento no mundo, na parte política foi somente uma desculpa para acabar com aqueles que ameaçavam um sistema dominante.

Considerações finais a respeito do preconceito na escola... e na Educação Física Escolar

Para finalizar, destacamos que para acabar com o preconceito devemos compreender e aceitar as diferenças dos seres vivos dentro de um ecossistema, acreditando que a diversificação de pensamentos e a multiplicidade de culturas trarão maior conhecimento e deixaram o mundo mais vivo e mais fácil de ser administrado.
O novo, às vezes, surpreende e desperta o comportamento instintivo de afastamento para ir aproximando-se, aos poucos. Isto ocorre com quase todos os animais, nos primeiros anos de vida. Durante o desenvolvimento, ajudada pela companhia e proteção dos pais e mestres, a criança vai ampliando a visão do mundo que a cerca e cada vez mais, encontrando possibilidades e alternativas de ação. Ou seja, em companhia afetuosa, cooperativa e, sobretudo, criativa, vai acostumando-se às diferenças e deslumbra-se com elas. Curiosidade e flexibilidade vão substituindo o medo e a agressão ao diferente de si mesma. São sinais de amadurecimento.
Devemos assim ter a capacidade de indignar-se. Indignação, para erradicar um mal que assola exclusivamente a espécie humana, o PRECONCEITO, ideia prévia e rígida sobre algo ou alguém, que se procurará manter as custas até mesmo da morte do outro (guerras religiosas, raciais, ideológicas, etc.).
Justamente, por esta razão existe o educador - para FACILITAR meios de expressão da generosidade, solidariedade e criatividade, dentre outras formas de inteligência. Rejeitar tão altos potenciais humanos durante o processo de educação, é desserviço não apenas educacional, mas à própria espécie.
Estupefação e a indignação perante ao preconceito e à exclusão, os conteriam. O preconceituoso teria chances de perceber algo estranho, em seu próprio comportamento. Sem receber dicas do mestre, nem sempre é capaz de resolver sozinho a questão – afinal, não foi ele quem a iniciou.
Os meios de exclusão são muito antigos e adotados nas famílias, escolas, quadras, normas e nas leis.
O educador não conteria o preconceito em todo o país, mas com ações cooperativas e afetuosas dentro do seu pequeno grupo, seria forte combatente contra a humilhação e a imaturidade social. Cresceria em dignidade, freqüentemente aviltada pelo consenso que brutaliza a todos.

Bibliografia

PINTO, T.R.; MOURÃO, L. Racismo: os negros vão quebrar o silêncio. Revista Nova Escola, São Paulo, março, 1999.

SILVA, R.S. Estudo da discriminação racial nas aulas de Educação Física nas turmas de 4º série do 1º grau da Escola Estadual Effie Holfs, Vicora-MG, 1994. Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria, 1994.

VACCARI, V.L. Educação sexual: respeitando as diferenças. Revista Nova Escola, São Paulo, agosto, 1999.

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  1. Os meios de exclusão são muito antigos e adotados nas famílias, esco

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