A TRAJETÓRIA FORMATIVA DO PROFESSOR
Juliana da Silva Silveira
A constituição do professor no Ensino Superior perpassa o campo pessoal e profissional. A trajetória profissional ou carreira docente é marcada por três diferentes períodos denominados como: iniciação que é o da formação acadêmica até os primeiros anos de docência; predomínio que contempla o exercício continuado, o professor nessa fase sente-se responsável pelas novas gerações; e a fase da velhice que é o período correspondente a saída do exercício profissional e ao aconselhamento de novas gerações.
Já na trajetória pessoal Abraham (1986) coloca que o professor é uma pessoa. A trajetória do professor é marcada por tudo que acontece na vida dele a saída de casa, perdas, ganhos, aquisições, novas realizações, casamento, a vinda dos filhos, a perda dos pais. A personalidade do professor, suas características pessoais interferem no processo de ensino aprendizagem. O contexto onde ele vive. Ressalto aqui duas temáticas de relevância para meu estudo a questão da privacidade e da intimidade. Afinal o professor é uma pessoa comum como em todas as outras profissões devem ser respeitadas suas características pessoais.
De acordo com Pucci; Ramos-de-Oliveira e Zuin (1999, p. 171):
O magistério também é uma profissão burguesa; isto só poderia ser negado pelo idealismo hipócrita. O professor não é o homem perfeito que as crianças, mesmo que de maneira confusa, esperam, mas alguém que, dentre todas as possibilidades e tipos profissionais, escolheu uma profissão e nela inevitavelmente se concentrou como especialista. Na verdade, já o contrário do que o inconsciente esperaria dele: exatamente que não seja um especialista, embora necessariamente deva especializar-se.
De acordo com Imbernón (2000), a formação inicial tem o papel de fornecer as bases para construir um conhecimento pedagógico especializado, pois se constitui no início da socialização profissional e da assunção de princípios e regras práticas.
Para Nascimento (1998 apud SHIGUNÕV, 2001) a formação inicial “é a denominação, frequentemente, atribuída aquela etapa de preparação voltada ao exercício ou qualificação inicial da profissão”. Conforme Garcia (1999, p. 25), esta é a fase de “preparação formal numa instituição específica, na qual o futuro professor adquire conhecimentos pedagógicos e de disciplinas acadêmicas, assim como realiza as práticas de ensino”.
Já a formação continuada, tratada também como formação permanente, tem como finalidade dar continuidade aos estudos, aperfeiçoá-los bem como proporcionar a aquisição de novos conhecimentos. Para Garcia (1999, p. 25) a formação continuada é entendida como todas as atividades que permitem o aperfeiçoamento do ensino e o desenvolvimento profissional.
Compreendo que a formação continuada é o processo de aprendizagem que se dá ao longo da vida do professor. Essa busca incessante que faz o professor buscar novos conhecimentos, novas metodologias, dinâmicas de grupo que propicie ao aluno um conhecimento para além da sala de aula. Assim, colabora para o a autoignição dos futuros professores que mais tarde estarão nas escolas. Mas, não ministrando aulas como robôs, mas construindo as aulas com seus alunos, aulas com sentido/significados para esses sujeitos.
A docência é uma atividade específica envolvendo um repertório de conhecimentos, saberes e fazeres sob a influência da trajetória profissional e pessoal. Esta pode ocorrer no contexto sociocultural ou no contexto institucional concreto.
As atividades educativas partem de quatro questões básicas: O que ensinar? O porquê de ensinar? Como ensinar? E, para que ensinar? Os saberes relativos à docência são ideias, juízos, razões, discursos ou argumentos que o professor utiliza para explicar, tornar os conhecimentos mais acessíveis aos alunos. A docência é uma ação complexa porque os saberes relacionados à docência são heterogêneos. Essa é também uma atividade político-pedagógica, tem uma dimensão relacional, coletiva e socioeducativa. Outro fator importante é a questão da ambiência da aprendizagem como possibilidade levando em consideração o contexto histórico por meio de valores de cidadania. A docência envolve ainda uma gama de atividades como planejamento das atividades de ensino aprendizagem estabelecendo metas junto aos educando e comunidade escolar, além de acompanhar o desenvolvimento através da avaliação.
A docência é uma tarefa complexa. Vários fatores contribuem para essa complexidade como a desmotivação dos alunos, condições precárias de trabalho, excessiva burocracia nas instituições. Contudo, os professores ao fazerem o curso de formação inicial se comprometeram em conhecer o conteúdo, estruturar e explicar da melhor maneira para os alunos, mesmo sabendo dos desafios dessa profissão. Um desafio importante é dar um sentido aos conhecimentos para os alunos, o que eu tenho que fazer para aquele conhecimento se tornar interessante e sedutor. Nesse âmbito a questão da empatia, ter uma relação positiva com os alunos contribui muito para que os conteúdos tenham sentido/significado e colabore efetivamente para a melhoria na qualidade do ensino.
A melhoria na qualidade do Ensino Superior está muitas vezes agregada a titulação como cursos de mestrado e doutorado. Contudo, para se progredir em qualidade deveria estar vinculada ao desenvolvimento de uma pedagogia específica para o ensino superior e ao estimulo para a busca de inovações.
Para Maciel (2009) "O professor gerativo ou grupo gerativo é uma imagem que desponta, identificando a tomada de decisões individual e coletiva, frente ao conflito geratividade versus estagnação, identificando um engajamento que configura uma prática pedagógica diferenciada, como práxis significativa para o tempo em que vivemos”. Nessa oposição entre geratividade e estagnação, fatores como procriatividade, produtividade e criatividade são fundamentais para o desenvolvimento profissional. O professor precisa de um impulso para sair do labirinto proposto por Abraham. As ações transformativas e a construção do conhecimento emancipatório no trabalho do professor contribuem para a autonomia do educando e construção de uma educação democrática.
As principais motivações para o professor são oportunidades de realização profissional, reciprocidade dos colegas e condições de trabalho favoráveis (materiais e humanas). Interessantemente as condições salariais não foram citadas como um fator motivacional.
A aprendizagem docente compreende os conhecimentos específicos e experienciais. Depende muito da aprendizagem colaborativa para a reestruturação individual, trocas, autonomia do sujeito e solução de diferentes situações. O desenvolvimento profissional é um processo individual e coletivo concomitantemente mediado pela escola.
A construção da identidade profissional se dá por uma soma de fatores como a trajetória pessoal entendida no contexto em que o professor desenvolve seu trabalho. As características cognitivas também são respeitáveis nesse contexto por que ajudam na construção da identidade do professor. Cabe o seguinte questionamento: Na verdade quem eu sou? E, quem eu quero ser?
A construção da profissão docente é tecida por uma rede de relações com a observação, saber-fazer, saber-saber, geratividade, as histórias de vida como características pessoais de cada professor. E o tripé ação-reflexão-ação como eixo fundamental da professoralidade.
Para que o ocorra o desenvolvimento profissional é necessário que haja autoignição, ou seja, vontade do professor. Através do compartilhamento do conhecimento também se contribui para a construção da professoralidade, tendo em vista que se coloca em contrastes diferentes ponto de vista, se busca a opção de espaços interativos e, sobretudo o respeito à multiplicidade. Essa rede de compartilhamento envolve a o conhecimento teórico e conceitual, as bases epistemológicas do professor atrelado à experiência prática através da intervenção em sala de aula. Logo após se da o processo de reflexão, ou seja através de algum mecanismo o docente pensa sobre a prática. professor sobre a sua pratica e com isso o processo de apropriação, a transformação da futuras práticas colaborando para o desenvolvimento profissional.
O diário de aula é um mecanismo de reflexão. Zabalza (2009) cita que:
Escrever sobre o que fazemos e ler sobre o que fizemos permite que nos coloquemos a uma certa distância da ação e vejamos as coisas e a nós mesmos em perspectiva. Imersos como estamos no dia-a-dia, nessa atividade frenética que nos impede de parar para pensar, planejar, rever nossas ações e nossos sentimentos, o diário é uma espécie de oásis reflexivo. É como retroceder nosso vídeo para pausar a imagem e assim poder rever um pouco mais lentamente essas cenas de nossa jornada que, na azáfama constante da ação na classe, passaram um pouco despercebidas ou simplesmente as vivemos de passagem.
Acredito que escrever os diários é também uma maneira de inovar. De antemão quero deixar claro que meu ponto de vista é subjetivo por que se formos pensar em escrever diários vamos verificar que é uma tarefa bem antiga. Então que fique claro que qualquer atividade pode ser inovadora se o foco for mudado, não necessariamente mude a atividade. Não precisa estar atrelada a “altas” tecnologias para se inovar. Creio que o foco deve estar no ensino engajado na prática social para se desenvolver um docente crítico, pesquisador articulado e reflexivo.
Afinal, cabe a inovação melhorias justificadas através da abertura para novas práticas e atualização constante do professor. A documentação é de suma importância para fazer um acompanhamento dos projetos e a avaliação. Contudo, cabe ressaltar que o principal fator é a reflexão sobre a prática respeitando o tripé formação-investigação-inovação para efetivação das mudanças e reais melhorias na qualidade do ensino superior.
Referências
ABRAHAM, A. (Org.). El enseñante es también una persona. Barcelona: Gedisa, 2000.
NASCIMENTO, J.V. do; GRAÇA, A. A evolução da percepção de competência profissional de professores de Educação Física ao longo de sua carreira. In: Congresso de Educación Física e Ciencias do Deporte dos Países de Língua Portuguesa,VI e VII Congresso Galego de Educación Física, VII, 1998. Actas, 1998.
PUCCI, B.; RAMOS-DE-OLIVEIRA, N.; ZUIN, A.A.S. Adorno: o poder educativo do pensamento crítico. 3 ed. Petrópolis: Vozes, 1999.
IMBERNÓN, F. Formação docente e profissional: formar-se para a mudança e a incerteza. São Paulo: Cortez, 2000.
Olá Juliana! O teu texto abordou uma temática muito pertinente ao nosso grupo. Parabéns pela escrita. Prof. Hugo
ResponderExcluir