PEDAGOGIA DA AUTONOMIA (Paulo Freire) – Algumas considerações sobre a prática educativa
Aline de Souza Caramês
Esse texto tem como objetivo abordar as principais questões e concepções destacadas por Paulo Freire no livro: Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa, que trazem questões do dia a dia do professor que instigam pontos que buscam refletir sobre a prática pedagógica.
Paulo Freire, nesse livro trata de saberes necessários para a prática educativa, com razões de suma importância para trazer contribuições que envolvem o processo de ensino-aprendizagem. Como nos mostra o próprio autor: “No mundo da História, da cultura, da política, constato não para me adaptar, mas para mudar” (p.86)
O autor busca uma linguagem acessível e didática sobre os saberes necessários à prática educativa crítica que são fundamentados numa ética pedagógica e numa visão de mundo alicerçadas em rigorosidade, pesquisa, criticidade, curiosidade, risco, alegria movidos pela esperança.
Em sua análise, um dos saberes fundamentais da prática educativo-crítica é o que adverte da necessária a promoção da curiosidade espontânea, ingênua (podendo ser considerada como senso comum) para a curiosidade epistemológica. Isso se dá quando a curiosidade é “criticizada” onde se muda a qualidade, mas não a essência. Para isso, trata a prática educativo-crítica com uma experiência especificamente humana, e a relação que tem com a educação é uma forma de intervenção no mundo.
É colocado pelo autor que ensinar não é a transferência de conhecimento, mas a criação das possibilidades para a sua produção de construção. Com isso, é possível perceber adquirindo conhecimento ao ser produzido, que um conhecimento novo supera outro que antes era novo e já é velho. Essa superação é realizada através de processos de intervenção no mundo, na possibilidade de produção ou construção de novos conhecimentos.
A pesquisa tem o princípio de constatar, intervir, onde o professor educa e se educa. Outro ponto é pesquisar para conhecer o que não se conhece, comunicar e anunciar a novidade. Essa pesquisa pode ser o simples reconhecimento da realidade e muda-la enquanto ação pedagógica. Nesse sentido também se destaca o saberes dos educandos, respeitar a realidade do aluno, fazendo com que eles mesmo compreendam sobre. O entendimento sobre a realidade passa por conhecer as diferentes dimensões da essência da prática que tornam seguro o próprio desempenho. Assim, a pesquisa só é realizada se o educador souber pensar e questionar de forma que envolva com articulação dos conhecimentos adquiridos com a realidade do seu meio social.
O professor tendo papel fundamental no processo de ensino aprendizagem, considerando uma troca de experiência e conhecimentos dando suporte para o aluno aprender, onde se leva em consideração a realidade do aluno como ponto inicial, rejeitando qualquer tipo de discriminação. Sem essa conscientização, estará negando radicalmente a democracia. Assumir a sua identidade cultural, quanto ser histórico e social, pensante, transformador e realizador de sonhos permite ao aluno motivar-se em relação ao exemplo que ele vê, já que o professor influencia muito na vida do aluno.
A consciência do inacabado é primordial para que tudo isso ocorra, refletir criticamente sobre a prática, ou seja, o fazer e pensar sobre o fazer, também é uma ação que torna o educador mais consciente e permite que tenha uma posição pedagógica em relação a sua transmissão de saberes, proporcionando um posicionamento melhor e mais abrangente sobre os diversos temas abordados no ambiente escolar.
Na formação docente, a repetição mecânica do gesto não é o mais importante, mas sim, a compreensão do valor dos sentimentos, emoções, desejos, segurança, coragem. Esse é o verdadeiro papel do professor, não apenas levar em consideração a transferência do conhecimento mas considerar também, todos os valores que sejam capazes e contribuir no crescimento intelectual do aluno para a formação do ser. Quanto mais cultural é o ser, maior a sua infância, sua dependência de cuidados especiais, corroborando com isso, Freire aborda que transformar a experiência educativa em treino técnico é tornar mesquinho o que há de fundamentalmente humano no exercício educativo que é o seu caráter formador.
O corpo humano vira corpo consciente, captador, apreendedor, transformador, criador de beleza e não “espaço” vazio a ser enchido por conteúdos. Nesse sentido, podemos pensar o corpo como a primeira ferramenta de trabalho do homem. Quando o homem sentiu a necessidade e desenvolveu o pensamento (por meio da razão) criou meios que facilitadores através de seu pensamento e consciência de seus atos, que possibilitou adquirir melhores e mais abrangentes conhecimentos.
Porém, para o autor, o aluno não deve dispor totalmente de sua liberdade, deve haver uma rigorosidade metódica para que o aluno comece a pensar certo. Deixa claro que o ensino não depende exclusivamente do professor, assim como a aprendizagem não é particularmente do aluno, há nesse processo uma reciprocidade em relação ao que é ensinado e aprendido.
De acordo com isso, percebe-se que o professor não é superior ou melhor que o aluno pelo simples fato de dominar conteúdos que o aluno não domina mas que tenha a participação ativa do aluno nesse processo. Ou seja, a autonomia referida, serve para ensinar e também aprender no contexto democrático.
A prática docente é basicamente formada pela ética. É sugerida uma priorização no empenho de formação permanente dos quadros do magistério, considerando isso como uma tarefa política. Desse modo, percebemos que o professor tem um papel ilustre na transformação da sociedade atual com igualdade e qualidade a todos os envolvidos, incluindo nesse processo, quesitos como estética e ética, com decência e pureza, onde seres históricos com valores, escolhas, decisões e intervenções, se tornam éticos.
Ensinar exige a autonomia do ser educando, respeito à autonomia e à dignidade é um imperativo ético. Nisso, se faz necessário a liberdade de saber falar, debater e estar aberto para compreender o querer dos seus alunos, levando em conta o ser humano em desenvolvimento que está a sua frente, gostando de aprender e de incentivar a aprendizagem, satisfação em ver o aluno adquirindo conhecimentos.
É evidente que as constatações de Freire surgiram de uma preocupação com a caracterização do meio escolar como um meio de convívio social onde existem exemplos humanos, como o professor que deve estar consciente de julgar suas próprias ações e buscar interferir na ação do aluno, contribuindo de maneira benéfica para a sua formação.
Constata-se ainda que grande parte do livro, o autor se dedica a discussões sobre o quanto as atitudes que o professor toma dentro da sala e fora influenciam o que ele passa para seus alunos, incluindo recomendações sobre a tomada de consciência que os alunos têm.
O tema está ligado a formação de professores, incluindo uma reflexão sobre a prática educativa que busca a autonomia dos alunos, considerando que formar é muito mais simples do que educar. Aponta que o bom professor deve ser curioso e deve provocar a curiosidade, e essa curiosidade deve ser democrática e participativa, unida com a educação e servindo de meio e forma para as transformações sociais.
Com tudo isso, o autor mostra que o ato de ensinar é um processo de troca entre aluno e professor , onde ambos aprendem, questionam, tiram dúvidas e consequentemente, crescem como seres humanos. Freire deixa transparecer, não a utopia, mas a confiança na vontade das pessoas de se tornarem melhores.
Referência:
FREIRE, P. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. 8. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1996.
Olá Aline! Legal o seu texto. Paulo Freire é sempre uma boa leitura. Parabéns! Prof. Hugo.
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