A Educação Física e a Educação Física Adaptada e a formação docente
Verônica Jocasta Casarotto
A Educação Física procura auxiliar as pessoas a se desenvolverem em dimensões corporais, culturais, sociais, políticas e afetivas. Segundo os PCN’s (1998) os processos de ensino e aprendizagem devem considerar as características dos alunos em todas as suas dimensões, cognitiva, corporal, afetiva, ética, estética, de relação interpessoal e inserção social.
A Educação Física Adaptada é uma subárea da Educação Física, cujos objetivos são o estudo e a intervenção profissional no universo das pessoas que apresentam diferentes e peculiares condições para a prática das atividades físicas. Seu foco é o desenvolvimento da cultura corporal de movimento. Atividades como ginástica, dança, jogos e esportes, conteúdos da Educação Física, devem ser considerados tendo em vista o potencial de desenvolvimento pessoal (e não a deficiência em si) (GORGATTI; COSTA, 2005).
Segundo Bueno e Resa (1995 apud GORGATTI; COSTA, 2005), a Educação Física Adaptada para pessoas com deficiência não se diferencia da Educação Física em seus conteúdos, mas compreende técnicas, métodos e formas de organização que podem ser aplicados ao indivíduo deficiente.
Para os alunos com deficiência a Educação Física Adaptada propicia diferentes benefícios, segundo os PCN’s (1998) a participação nessa aula pode trazer diferentes vivências aos alunos, particularmente no que diz respeito ao desenvolvimento das capacidades perceptivas, afetivas, de integração e inserção social, que levam este aluno a uma maior condição de consciência, em busca da sua futura independência.
O professor de Educação Física juntamente com o professor de Educação Especial pode contribuir para o desenvolvimento do aluno. Segundo Zanette (2007), para formar uma criança saudável e desenvolver sua capacidade de aprender, de pensar e estabelecer as bases para a formação de uma pessoa ética, capaz de conviver num ambiente democrático, deve-se propor atividades que desenvolvem um conjunto de conhecimentos, habilidades, atitudes e valores adequados, proporcionar à criança condições para que ela possa se desenvolver de maneira a se integrar no contexto histórico social, considerando suas especificidades afetivas, sociais e cognitivas, embasando-se nos seguintes princípios: desenvolver uma imagem positiva de si mesmo, tornando-se independente e confiante em suas capacidades; descobrir e conhecer o corpo, seus limites e potencialidades, desenvolvendo hábitos de cuidado com a saúde e bem-estar; estabelecer vínculos afetivos ampliando gradativamente as possibilidades de comunicação e interação, respeitando a diversidade e desenvolvendo atitudes de colaboração; brincar, expressando emoções, sentimentos, pensamentos, desejos e necessidades; utilizar as diferentes linguagens (corporal, musical, plástica, oral e escrita), enriquecendo a capacidade expressiva.
A psicomotricidade através de suas capacidades básicas: sensoriais, perceptivas e motoras favorecem uma organização mais adequada ao desenvolvimento da aprendizagem. Sendo assim, estas capacidades desenvolvidas nas aulas de Educação Física poderão auxiliar o professor de Educação Especial em suas aulas com alunos com deficiência.
A formação docente, de um modo geral, no Brasil, tem passado por mudanças influenciadas por novos paradigmas construídos a partir das transformações ocorridas nos diversos setores da sociedade, o econômico, o tecnológico, o social e o político, e, também pela desvalorização da profissão e da autoridade intelectual, pedagógica e moral do professor evidenciadas no âmbito escolar ou fora dele.
Nesse sentido, cabe à escola, instituições de Educação Especial, aos gestores, à formação inicial e continuada, portanto, a responsabilidade de propiciar um ambiente adequado e prazeroso para o surgimento de um professor que pense e elabore novos métodos baseados nessa prática.
Portanto, para que ocorra uma educação democrática é importante que na formação inicial dos professores de Educação Física e dos professores de Educação Especial, termine com a visão de um ensino técnico, com a transmissão de um conhecimento acabado e formal, pois, com estas mudanças, a formação transforma-se em possibilidade de criar espaços de participação, reflexão e formação pra que os professores, aprendam a se adaptarem para poder conviver com a mudança e com a incerteza.
Assim, conforme o exposto anteriormente acredita-se que desde a organização dos conteúdos dos cursos de formação inicial de professores de Educação Física e professores de Educação Especial, deveria ser evidenciado momentos de trocas entre os pares, para criar novas possibilidades de entender as diversas situações que ocorrem na práxis diária.
Se na formação continuada destes professores ocorresse encontros de estudo, por exemplo, acabaria fortalecendo e motivando os demais, afim de que fossem debatidos questões pertinentes a esses assuntos, não se sentindo isolados na sua formação, encontrando seres iguais com os mesmos problemas que os seus, podendo aprender a superá-los juntos. É nesse sentido, que se tem em Imbernón (2006) que,
Quando os professores trabalham juntos, cada um pode aprender com o outro. Isso os leva a compartilhar evidências e informação e a buscar soluções. A partir daqui os problemas importantes das escolas começam a ser enfrentados com a colaboração entre todos, aumentando as expectativas que favorecem os estudantes e permitindo que os colegas reflitam sozinhos ou com os colegas sobre os problemas que os afetam (p.78).
Assim, as diferentes relações estabelecidas entre os professores de várias áreas, constituem portas de entrada para a construção do conhecimento que se processa quando se leva em consideração a diversidade social e cultural dos docentes e as várias situações, pelas quais já tenham passado.
O professor não pode agir isoladamente em sua escola. É neste local, o seu local de trabalho, que ele, com os outros, com os colegas, constrói a profissionalidade docente. Mas se a vida dos (as) professores (as) tem o seu contexto próprio, a escola, esta tem que ser organizada de modo a criar condições de reflexividade individuais e coletivas. Vou ainda mais longe. A escola tem de se pensar a si própria, na sua missão e no modo como se organiza para a cumprir. Tem também ela, de ser reflexiva (ALARCÃO, 2003, p.44).
É por isso que se torna de suma importância, para nós, professores, as constantes trocas de experiências e vivências, pois, conforme Imbérnon (2006), estas socializações permitem uma maior possibilidade de diálogo, de construção e reconstrução constantes, a partir das diversas concepções que cada um traz, e expressa sobre o seu trabalho perante aos alunos.
REFERÊNCIAS
ALARCÃO, I. Professores reflexivos em uma escola reflexiva. São Paulo: Cortez, 2003.
BARDIN, L. Tradução de Luis Antero Neto e Augusto Pinheiro. Análise de conteúdo. Lisboa: Edição 70, 1977.
BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais: Educação Física. Brasília: MEC/SEF, 1998.
BRASIL. Política Nacional de Educação Especial. Brasília: MEC/SEEP, 2008.
BRASIL. Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva. Brasília: MEC/SEESP, 2007.
BETTI, M.; ZULIANI, L.R. Educação física escolar: uma proposta de diretrizes pedagógicas. Revista Mackenzie de Educação Física e Esporte, São Paulo, a.1, n.1, p73-81, 2002.
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