Hugo Norberto Krug
Considerações iniciais a respeito da importância da criatividade nas aulas de Educação Física Escolar
É preocupante o quadro atual da Educação Física Escolar, onde se encontra uma exagerada sensação de desprazer, tanto por parte dos alunos como dos professores, ambos incomodados em suas relações. Alunos insatisfeitos com as aulas e professores com as condições de trabalho envolvendo salário, material pedagógico, estrutura física e outros. É lógico que não se tira a razão do professor, mas devemos dar o melhor de nós. Quando se faz o que se gosta, procuramos fazer o melhor. Se escolhemos uma profissão, devemos trabalhar para alcançarmos o seu devido valor e conseqüentemente nossa valorização.
Também é preocupante a questão da evasão na disciplina de Educação Física. Não seria a permanente monotonia das aulas um dos fatores que provocam a evasão dos alunos? Mas, como poderíamos acabar com as aulas monótonas? Para responder a esta indagação devemos repensar as nossas aulas.
Segundo Moraes (1998) a falta de estimulação adequada e ainda censuras descabidas prejudicam o interesse e aprendizagem do aluno. O professor deve interar-se do mundo do aluno e junto com ele descobrir maneiras de aumentar o nível de aprendizagem, o rendimento na aula, e através de métodos e atividades alternativas e motivadoras alcançar os objetivos pretendidos.
Também somos sabedores de que vivemos um momento, em que mais do que nunca, necessitamos fazer uso de nosso potencial criador, por que as soluções que antes tínhamos para os inúmeros problemas do dia-a-dia, hoje, já não mais satisfazem. É quando chega a hora de criarmos algo novo, inovarmos diante de uma situação emergente.
Considerando a realidade das escolas públicas com seus problemas de diversas ordens, torna-se necessário renovar e adaptar a metodologia de ensino com que são apresentadas as aulas de Educação Física. Essas condições exigem que através da metodologia de ensino, possamos promover o desenvolvimento da criatividade e através desta, alcançar os objetivos propostos.
Conforme Moraes (1998) a criatividade nas aulas de Educação Física visa desenvolver atitudes criativas com liberdade, independência e responsabilidade. É importante que saibamos identificar quais são as conseqüências de uma Educação opressora oriunda de um professor autoritário na vida de nossos alunos, para não cometermos "crimes" contra estes, pois as diferenças são visíveis entre os alunos de professores autoritários e de professores criativos.
É de extrema importância que a criatividade desenvolvida não se restrinja apenas as aulas de Educação Física, mas que esse processo possa ser transferido para as diversas situações da vida, visto que as dificuldades do cotidiano obrigam o homem a ser criativo para superá-las.
Baseando-nos nestas premissas acima este ensaio teve como objetivo expor a importância da criatividade nas aulas de Educação Física e na vida de todos nós.
O que é criatividade?
Segundo Moraes (1998) o termo criatividade apresenta diversas definições, mas a maioria delas enfatiza a vinculação entre criatividade e novidade.
Para Alencar (1995) as mais diversas definições de criatividade propostas dizem respeito ao fato de que criatividade implica na emergência de um produto, seja uma idéia ou invenção original, seja a elaboração e aperfeiçoamento de produtos ou idéias já existentes. Também presentes em muitas definições é o fato de que não basta que a resposta seja nova, é também necessário que ela seja apropriada a uma dada situação.
Dieckert (apud Moraes, 1998) definiu criatividade como a habilidade que todo ser humano tem para produzir qualquer tipo de resultado mental ou corporal, novo e desconhecido para quem o produziu, desenvolvida de forma intencional e objetiva, podendo formar novos sistemas e combinações de informações conhecidas.
Diante da situação que se encontra a Educação Física Escolar, surgiu a necessidade de se repensar a importância da Educação Física na escola, a sua missão educativa e a influência que essa pode vir a ter na vida do cidadão, daí a retomada do conceito de criatividade nas aulas de Educação Física como elemento fundamental na busca de um novo sentido para a mesma (Moraes, 1998).
Para Berman (apud Taffarel, 1985) a criatividade envolve a pessoa em sua totalidade. No ato de criar se entrelaçam as emoções, as capacidades cognitivas e os processos corporais, que são inseparáveis e se manifestam durante a realização de algo significativo.
Moraes (1998) diz que criatividade é o processo que resulta em um processo novo, aceito como útil e ou satisfatório por um número significativo de pessoas em algum ponto do tempo. É importante que o produto da criatividade seja novidade para quem o criou, independentemente de ser ou não do conhecimento de outras pessoas. Destaca ainda que observa-se também que nem sempre a sociedade está preparada para captar o valor do produto e aceitá-lo como apropriado e satisfatório, seja ele uma nova descoberta ou uma obra de arte.
Conforme Kneller (apud Alencar, 1995) o preço da novidade é, muitas vezes, o ceticismo ou a hostilidade dos contemporâneos.
Por outro lado, inovar significa introduzir novidades, e a inovação envolve geração, aceitação e implementação de novas idéias, processos, produtos ou serviços (Xavier, 1996).
West e Fan (apud Alencar, 1995) definem inovação como a introdução intencional, dentro de um grupo ou organização, de idéias, processos, produtos ou procedimentos novos para a unidade, relevante de adoção e que visa gerar benefícios para o indivíduo, grupo, organização ou sociedade.
Vários autores (KOESTER; MASLOW apud Alencar, 1995) colocam que as grandes idéias ou produtos originais ocorrem especialmente em pessoas que estejam adequadamente preparadas com amplo domínio dos conhecimentos relativos a uma determinada área ou das técnicas já existentes. Salientam que a criatividade necessita não apenas de iluminação e de inspiração, mas também de muito trabalho e atividade criativa.
Mackinnon (apud Alencar, 1995) observou que as pessoas criativas apresentam os seguintes traços de personalidade: a) intuição; b) flexibilidade cognitiva; c) percepção de si mesmo como uma pessoa responsável; d) persistência e dedicação ao trabalho; e) pensamento independente; f) menor interesse em pequenos detalhes e maior nos significados e implicações dos fatos; g) maior tolerância à ambigüidade; h) espontaneidade; i) maior abertura às experiências; e, j) interesses não-convencionais.
Taylor (1971) ao descrever a personalidade criativa, nota a importância da fantasia, da capacidade de jogar com as idéias e do humor. Outros traços também enfatizados tem sido a curiosidade, a habilidade de questionar e reestruturar idéias, aliados à autonomia, independência, autoconfiança, sensibilidade e intuição.
Guilford (apud Moraes, 1998) acredita que apesar das habilidades de pensamento divergente serem aquelas que mais diretamente estão envolvidas no pensamento criativo, todos os tipos de habilidades intelectuais podem contribuir para a produção criativa em algum ponto do processo. Assim, para ser um bom escritor, além da imaginação, deve-se ter um vocabulário de um tamanho substancial. Já para ser bem crítico, é necessário ter boas habilidades avaliativas.
O autor acima ainda faz referência a alguns traços nas áreas de temperamento, interesses e atitudes que se relacionam com a criatividade. Por exemplo, a pessoa criativa é autoconfiante, tem tolerância pela ambigüidade, tem preferência pelo pensamento reflexivo e divergente e tem interesses estéticos. Não é uma pessoa meticulosa, demonstrando ainda grande necessidade de autodisciplina.
Alencar (1995) acredita que é difícil provocar mudanças nestes traços com vistas a aumentar a criatividade do indivíduo, considerando que o caminho mais promissor para estimular o desempenho criativo estaria especialmente na área de habilidades cognitivas e menos na área de traços de personalidade.
Com respeito à Educação, Guilford (apud Moraes, 1998) observa que, na escola, uma ênfase maior tem sido dada às áreas de cognição e memória, constatando-se pouco uso das habilidades de pensamento divergente neste contexto. Ele salienta porém, que não basta encher a cabeça de alunos com conhecimento, embora este seja um passo necessário, é necessário também instruir os alunos e exercitá-los no uso deste conhecimento.
A criatividade do professor
Ao tratar da criatividade Demo (1986) diz que só tem algo a ensinar aquele que por meio da pesquisa, construiu uma personalidade científica própria, aquele que tem uma contribuição original, caso contrário, não vai além de narrar aos estudantes o que leu por aí. E se atribuirmos à universidade um compromisso com a comunidade em que está inserida, para que não fique apenas na teoria, mas consiga descer à prática, isto se consegue da melhor maneira possível, se a intervenção na realidade estiver baseada em pesquisa prévia, porque não se pode influenciar o que não se conhece.
Considerando-se a criatividade como a motivação para à prática regular permanente e a utilização das horas de lazer em atividades físicas como objetivos educacionais, são necessárias oportunidades em que os alunos assumam um papel ativo no processo ensino-aprendizagem, criando, imaginando, criticando e decidindo. É, portanto, necessário que o professor organize atividades produtivas de aprendizagem, enfatizando o pensamento que conduza à solução criativa de problemas e à autonomia (Moraes, 1998).
Taffarel (1985) em sua obra "Criatividade nas aulas de Educação Física" identificou três tipos de influências geradas pela utilização de métodos criativos:
1) Emergência de comportamentos criativos, demonstrados através da utilização diversificada de materiais e locais para a realização de jogos e movimentos, bem como alterações de regras segundo as condições situacionais;
2) Integração psico-fisico-social, demonstrada através de comportamentos de espontaneidade, iniciativa, satisfação, cooperação e liderança; e,
3) Manifestação de opiniões positivas quanto ao desenvolvimento das aulas com métodos criativos e novas perspectivas de utilização de tempo livre.
Segundo Moraes (1998) o professor tem muita influência sobre o aluno e por isso deve ter muito cuidado. Dependendo de suas atitudes, de seu comportamento durante as aulas, de suas expectativas com relação aos alunos, o professor poderá favorecer a aprendizagem, o entusiasmo pela busca de novos conhecimentos e aspectos diversos do desenvolvimento social, cognitivo e afetivo do aluno, como também criar barreiras para este desenvolvimento contribuindo ainda para tornar a aprendizagem um processo aversivo.
De acordo com Alencar (1995) os professores encontram dificuldades no sentido de preservar a criatividade do aluno e encorajá-lo a fazer uso de suas habilidades criativas. Tem também baixa expectativa e pouca confiança na capacidade do aluno de ser responsável, independente e criativo. Essas baixas expectativas tendem a se auto-realizar, pois os alunos comportam-se conforme elas.
Conforme os PCNs (Brasil, 1997) um dos objetivos do ensino fundamental é que os alunos sejam capazes de questionar a realidade formulando e resolvendo problema. Para isso deve ser utilizado o pensamento lógico, a criatividade, a intuição, a capacidade de análise crítica, selecionando procedimentos e verificando a sua adequação.
Torance (apud Moraes, 1998) destaca que à medida que os alunos prosseguem na escola, diminuem sua curiosidade e seu entusiasmo em aprender e que a mentalidade do professor é um fator determinante. Alunos que, por longos anos, se submeteram a realizar única e exclusivamente as tarefas determinadas pelos professores encontram dificuldades em agir com confiança.
Portanto, faz-se necessário, segundo Taffarel (1985), que os professores adotem atitudes facilitadoras da emergência da criatividade nos alunos, como fator determinante para a autonomia e a participação consciente destes no processo decisório da aula.
Mesmo sendo o professor quem faz as propostas e que conduz o processo de ensino-aprendizagem, ele deve elaborar sua intervenção de modo que os alunos tenham escolhas a fazer, decisões a tomar, problemas a resolver. Assim, os alunos podem tornar-se cada vez mais independentes e responsáveis. Para isso o professor deve acreditar nas potencialidades dos alunos e ter consciência e segurança no que faz (Moraes, 1998).
Se um dos objetivos da Educação é ajudar os alunos a conviverem em grupo de maneira produtiva, de modo cooperativo, conforme propõe o PCN (Brasil, 1997), é preciso proporcionar situações em que aprender a dialogar, a ouvir o outro, ajudá-lo, pedir ajuda, trocar idéias e experiências, aproveitar críticas e sugestões sejam atitudes possíveis de serem exercidas.
Levando em conta o fato de que as experiências e competências corporais são muito diversificadas, não se pode querer que todo o grupo realize a mesma tarefa, ou que uma atividade resulte numa aprendizagem para todos. A diversidade de competências corporais a serem consideradas inclui a facilidade e a dificuldade para lidar com situações estratégicas, de simulação, de cooperação, de competição entre outras (Moraes, 1998).
Segundo Freire (1994) o material que mais falta nas escolas, na maioria das vezes, não é material, é criatividade. Diz ainda que essa tal de criatividade nunca é ensinada nas escolas de formação profissional.
O que fazer, então, se os professores não são preparados para orientar os alunos em Educação Física, na perspectiva de um ambiente de autonomia e liberdade?
Moraes (1998) diz que é preciso vivenciar corporalmente esta autonomia e liberdade.
Conforme Freire (1994) o papel do professor é criar no aluno, condições de desequilíbrio, apresentando, para ele, o novo, o inusitado, o desconhecido. Diz ainda que:
"Provocar o desequilíbrio não é deixar o aluno perdido num oceano de mistérios, mas apresentar o problema de tal forma que possa ser solucionado com o instrumental existente, ou seja, o conhecimento atual (mental ou motor). As contradições para o aluno que seguem ao desequilíbrio só serão superadas se ele puder estabelecer uma ligação entre o conhecido e o desconhecido, o velho e o novo, a situação atual e a anterior " (p.191-192).
Uma Educação voltada para a autonomia do aluno não reserva um papel menor para o professor, ao contrário, sua atuação no processo educacional será mais intensa e importante, exigindo atenção e principalmente uma melhor formação teórica. Por outro lado, sua prática diária será mais agradável e distante das rotinas cansativas (Moraes, 1998).
Alencar (1995) defende que os professores autoritários, insensíveis às necessidades intelectuais e emocionais de seus alunos, com uma preocupação maior em suas funções de transmitir informações e manter a disciplina e desinteressados em promover a criatividade e a autoconfiança, são aqueles que experimentam maior dificuldade na aplicação de princípios que favorecem o pensamento criativo de seus alunos.
De acordo com Moraes (1998), quanto ao material pedagógico, é comum afirmar que qualquer material pedagógico será mais rico se for variado. Não importa se antes são encontrados prontos ou são criados por professor e alunos, o importante é que ele seja explorado de forma a alcançar os nossos objetivos, sejam eles específicos da disciplina ou implícitos tais como: social; afetivo; cultural; e psicológico. Dentre os objetivos implícitos podemos citar: o respeito; a socialização; a afetividade; a solidariedade; a agressividade; a auto-estima; o senso-crítico; entre outros.
Destaca que é evidente que a falta de material pedagógico é um problema, mas não deve ser visto como um obstáculo para a ação pedagógica do professor, na medida em que o material pode ser uma ação conjunta entre professor e alunos.
Salienta ainda que o bom uso do material pedagógico é fundamental para que o professor atinja seu objetivo de estimular a capacidade de raciocínio do aluno.
Como o objetivo da escola não é somente o desenvolvimento do pensamento lógico-matemático, é bom lembrar que o uso de materiais, tem diretamente a ver com o desenvolvimento de outros conteúdos tais como a afetividade e a motricidade. O professor deve saber observar o modo de brincar dos alunos, a organização, a forma de exploração e o interesse gerado pelo material, para poder extrair informações das atividades que realizam, além de ter uma preocupação maior com o material oferecido.
Moraes (1998) ressalta que na utilização do espaço físico, mesmo que não se tenha uma quadra convencional, é possível adaptar espaços para as aulas de Educação Física. Se observarmos os alunos verificaremos que elas fazem isso cotidianamente. O professor pode utilizar um pátio, um jardim, um campinho, dentro ou próximo à escola, para realizar as atividades de Educação Física. Mesmo em se tratando de quadras convencionais, o professor pode e deve, conforme a exigência da situação, dividi-las em diferentes formas, possibilitando a execução de atividades de natureza diferenciada. Estender cordas entre árvores, para que as crianças se pendurem e se equilibrem, ou organizem voleibol em pequenos grupos; pendurar pneus e aros nas árvores para funcionarem como alvos em jogos de arremesso e basquete em pequenos grupos; utilizar desníveis de terreno como parte de circuitos com materiais diversos e obstáculos são sugestões de como utilizar o espaço físico.
De acordo com Freire (1994) o jogo, ao longo do desenvolvimento infantil, evolui de um simples jogo de exercício, passando pelo jogo simbólico e o de construção, até chegar ao jogo social. No primeiro deles, a atividade lúdica refere-se ao movimento corporal sem verbalização; o segundo é o faz-de-conta, a fantasia; o jogo de construção é uma espécie de transição para o jogo social. Por fim, o jogo social é aquele marcado pela atividade coletiva de intensificar trocas e a consideração de regras.
Os inibidores e estimuladores da criatividade
Segundo Alencar (1995) os elementos inibidores do desenvolvimento da criatividade são: a) pressões sociais com relação ao indivíduo que diverge da norma; b) atitude negativa com relação ao arriscar-se; c) as expectativas com relação ao papel sexual; d) o negativismo; e) o desconhecimento por parte do indivíduo de seus próprios recursos internos, potenciais e capacidades; f) o medo do ridículo e da crítica; g) preferência por julgar idéias, ao invés de gerar idéias; i) sentimento de inferioridade; e, j) ansiedade.
O autor acima ao pensar a criatividade dentro da escola acrescenta outras barreiras: a) atitudes autoritárias por parte do professor; b) pressão ao conformismo; c) ênfase exagerada na reprodução do conhecimento em detrimento da produção do conhecimento; d) ausência de uma preocupação em favorecer o desenvolvimento de um auto-conceito positivo e sentimentos de competência escolar; e, e) baixa expectativa quanto ao potencial criador do aluno.
Em relação as aulas de Educação Física, Taffarel (1985), apresenta sete critérios facilitadores do desenvolvimento da criatividade. São eles: a) clima de liberdade; b) decisões em aberto com possibilidades de divergência; c) respeito aos pontos-de-vista individuais; d) criar canais de comunicação e não obstáculos; e) métodos de trabalho flexíveis; f) trabalho em pequenos grupos, para facilitar a comunicação entre os alunos; e, g) trabalhos com objetividade.
Ainda segundo Taffarel (1985) o professor pode favorecer a criatividade em suas aulas incentivando, dinamizando, facilitando e orientando as atividades, esclarecendo e auxiliando os alunos quando solicitado. Durante as aulas, o conteúdo pode ser modificado, adaptando-se as necessidades e situações surgidas. São elas: a) modificação de regras de um jogo popular, selecionado pelos alunos; b) modificação de local, material e número de participantes de um jogo sugerido pelos alunos; c) análise multifuncional dos materiais, como bola, corda, bastões, etc.; d) análise e síntese com jogos e movimentos utilizando-se materiais da vida diária; e, e) aumentar, diminuir e substituir a bola nos jogos.
As características de um contexto social propício à criatividade
Segundo Moraes (1998) o desenvolvimento e a expressão da criatividade não dependem somente dos esforços do indivíduo, mas também é importante o contexto social onde o indivíduo se acha inserido.
Alencar (1995) explica como ocorrem as influências da sociedade no desenvolvimento da criatividade. São elas: a) uma sociedade favorece a criatividade na medida em que dá chances ao indivíduo de ter experiências em inúmeras áreas; b) uma sociedade favorece a criatividade quando encoraja uma abertura a experiências internas e externas; c) uma sociedade encoraja a criatividade valorizando a mudança e a originalidade; d) a criatividade é encorajada em uma sociedade onde os indivíduos criativos têm status e são reconhecidos socialmente; e) uma sociedade encoraja a criatividade na medida em que as interações sociais, as oportunidades e os privilégios são determinados não pelo status social, família, raça, cor, credo ou partido político, mas antes pelas qualificações e atributos pessoais de cada um de seus membros; e, f) uma sociedade favorece a criatividade quando os seus cidadãos tem liberdade e oportunidade para estudar e preparar-se profissionalmente, explorar e questionar, expressar-se, ser eles mesmos.
Como desenvolver a criatividade nas aulas de Educação Física
Na Educação Física, em decorrência da tradição histórica e da influência dos tradicionais métodos de ensino das escolas européias e americanas, por muito tempo prevaleceram e ainda continuam em uso os tradicionais métodos diretivos que se caracterizam pelo autoritarismo por parte do professor, que toma todas as decisões em relação ao processo ensino-aprendizagem. Por outro lado, existe a possibilidade de buscarmos formas de ensino menos diretivas, que realmente contribuam para autonomia, autodeterminação e criatividade do aluno.
Taffarel (1985) ressalta que para desenvolver a criatividade devemos inteirar-nos de detalhes do nosso contexto de trabalho, tais como:
1) Condições antropológicas - dizem respeito a todas as características dos alunos, além de motivações, interesses, experiências anteriores, etc.;
2) Condições sócio-culturais - abrange informações sobre relações sociais dos alunos quanto a capacidade autônoma para trabalhos em pequenos grupos, caracterização sócio-econômica dos alunos, condições institucionais, locais e materiais, condições climáticas e outras; e,
3) Decisões didáticas - dizem respeito ao âmbito dos objetivos, conteúdos, métodos, meios e sistema de avaliação.
Além do conhecimento do ambiente de trabalho é importante utilizar estratégias para encorajar a criatividade dos alunos (Moraes, 1998).
Alencar (1995) afirma que é importante um clima propício ao seu desenvolvimento caracterizado pela receptividade a novas idéias e a possibilidade destas serem implementadas.
Considerações finais a respeito da importância da criatividade nas aulas de Educação Física Escolar
Apesar de muito se falar em criatividade, pouco tem sido feito no sentido de favorecer o seu desenvolvimento. A escola tem oferecido aos alunos poucas oportunidades para propiciar o uso de habilidades criativas. Notamos que a escola continua refratária à mudanças e resiste à propostas que impliquem no desenvolvimento das habilidades criativas dos alunos. O ensino continua voltado predominantemente para o passado, para a reprodução do conhecimento, sem uma preocupação maior em projetá-lo para o futuro, com vistas a preparar o aluno para a resolução de problemas que hoje somos incapazes de antecipar.
O fato dos alunos terem dificuldade em definir problemas e argumentar objetivamente é possivelmente um reflexo dos valores dominantes na escola. É necessário que estudemos as possibilidades de organização de um contexto que permite e facilite a emergência de atitudes criativas, que satisfaçam os objetivos da disciplina, mas principalmente que possam ser transferidos para as diversas situações do cotidiano.
Devemos incentivar nossos alunos a pensar criticamente. Não devemos ter medo de sermos indagados quanto ao nosso trabalho. As indagações podem ser construtivas ao ponto de provocar uma auto-crítica referente a questão, será que realmente estamos desempenhando o papel de educador ou um mero repassador de conhecimentos?
Aulas criativas tendem a ser motivantes e prazerosas. O desprazer durante as aulas de Educação Física tanto por parte do professor, quanto do aluno, é o primeiro sinal da falência de nossas aulas. É hora de mudar a nossa prática pedagógica, de criar algo novo que traga alegria e a satisfação para ambos. A conduta autoritária ou descompromissada, para com os alunos, é sinônimo de insegurança e incompetência.
Segundo Moraes (1998) aulas que proporcionam prazer e satisfação, diminuem as barreiras, aumentam a aprendizagem, e as capacidades criativas se desenvolvem, preparando assim o homem para enfrentar as diversas dificuldades do cotidiano.
A falta de criatividade é um dos graves obstáculos para a Educação Física de melhor qualidade. Será que estamos tendo criatividade suficiente para essa aprendizagem significativa, que educa para a vida? Ou ao menos criatividade suficiente para evitarmos a evasão em nossa disciplina.
A Educação Física que tem sido ensinada nas escolas, precisa urgentemente ser repensada se quisermos alcançar a nossa valorização. Como podemos ensinar valores, se nós mesmos, através de uma prática pedagógica monótona, repetitiva e autoritária, não estamos nos valorizando?
Referências
Alencar, E.M.L.S. de . Criatividade. 2. ed. Brasília: Editora da Universidade de Brasília, 1995.
Brasil. Parâmetros curriculares nacionais: Educação Física - Volume 7. Brasília: Secretaria do Ensino Fundamental / Ministério da Educação e do Desporto, 1997.
Demo, P. Metodologia científica em ciências sociais. São Paulo: Atlas, 1986.
Freire, J.B. Educação de corpo inteiro. 4. ed. São Paulo: Editora Scipione, 1994.
Moraes, E.P. Importância da criatividade nas aulas de Educação Física, 1998. Monografia (Especialização em Educação Física ) - Brasília: Faculdade de Educação Física / Universidade de Brasília, Brasília, 1998.
Taffarel, C.N.Z. Criatividade nas aulas de Educação Física. Rio de Janeiro: Ao Livro Técnico, 1985.
Taylor, C.W. Criatividade: progresso e potencial. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 1971.
Xavier, B.M. O desenvolvimento profissional através das trocas de experiências. In: Canfield, M. de S. (Org.). Isto é Educação Física. Santa Maria: JtC Editor, 1996. p.95-102.
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