terça-feira, 22 de novembro de 2011

II CICLO DE ESTUDOS - Temática: Educação Física Escolar - Marta

EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR: CAMINHOS E DESCAMINHOS QUE FAZEM PARTE DO CONTEXTO
Marta Nascimento Marques
Refletir sobre os professores, em especial o professor de Educação Física, suas práticas pedagógicas e a realidade vivida por este no cotidiano escolar é nos depararmos com um grande leque de desafios, pois não é de hoje que o sistema educacional brasileiro vem desabando, acompanhado de uma crise de referências que estamos vivendo em termos de civilização e a Educação Física está fortemente envolvida por esta crise ou mesmo desvalorizada.
É notável no cotidiano escolar a grande carga de queixas por parte dos professores, pois segundo Vasconcellos (2007, p. 15), “no tempo atual, um professor que não tenha um nível razoável de angústia em relação à sua atividade, que não se sinta desacomodado, com certeza, não é um professor do tempo atual!”
Também segundo Libâneo (2006) cada vez se torna mais difícil para o professorado assumirem os requisitos profissionais e éticos da sua profissão, diante dos baixos salários que recebem e da precária preparação profissional, os mesmos são tomados por uma baixa auto-estima que interfere na sua personalidade, dificultando assim qualquer atitude motivadora de mudança. Além disso, os programas de formação continuada que poderiam auxiliar e motivar os professores, quando existem, na maioria das vezes são inadequados, não atendem aos anseios dos quais os mesmos necessitam, então acabam se frustrando e perdendo o interesse pela busca da autoformação e o nível de expectativa de desenvolvimento pessoal e profissional cada vez diminui mais.
Ainda nesse embate, um dos sentimentos mais constantes que encontramos nos professores é certa sensação de sufocação, eles se sentem saturados diante de tantas tarefas e responsabilidades que precisam desempenhar, frente a novas exigências curriculares e sociais que fazem parte do cotidiano escolar (PÉREZ GÓMEZ, 2001).
Frente às possibilidades e limitações que os docentes se confrontam no cotidiano das escolas, necessitam criar diariamente uma série de estratégias e também saberes para lidarem não só com as demandas e necessidades que estas condições lhes colocam, como também, com as incertezas e desafios que os pressupostos da escola pública lhes exigem, principalmente no que se refere à Educação Física Escolar.
Neste viés Ghedin; Almeida e Leite (2008) deixam claro que “compreender os caminhos e descaminhos da prática” é uma tentativa de interpretar o modo de ser de cada professor no dia-a-dia do contexto escolar. Também colocam que é através das ações, tanto pessoal como institucional, que o professor irá projetar o seu modo de ser, na tentativa de cada vez ser mais e melhor.
Assim, podemos ressaltar que os caminhos e descaminhos da Educação Física Escolar são os mais diversos e desafiadores possíveis.
Vale destacar que em estudos feitos por Marques e Krug (2009) os principais problemas sentidos pelos professores de Educação Física no decurso de suas carreiras estão relacionados à falta de condições em termos físicos e materiais para o desenvolvimento das aulas de Educação Física, dificuldades em organizar o processo de ensino-aprendizagem, número excessivo de alunos em aula, desajustamento dos programas, atitude de passividade e/ou de não colaboração dos colegas, inexistência de medidas adequadas ao controle do insucesso escolar, alunos indisciplinados com falta de interesse e/ou concentração nas aulas e ainda a falta de acompanhamento da família, caracterizando uma desvalorização do trabalho do professor.
Conforme Darido e Neto (2005) outro fator bastante comum de se observar é a falta de privacidade existente nas aulas de Educação Física, pois o professor e os alunos quase sempre contam com expectadores em suas aulas, como pessoas da direção, funcionários da escola, alunos de outras turmas, pais etc. Todos esses elementos de alguma forma interferem no desenvolvimento das aulas, muitas vezes atrapalhando a concentração dos próprios alunos e isso acaba dificultando a prática pedagógica do professor. Já nas outras disciplinas isso não acontece, pois se pode manter a porta da sala fechada e ter mais privacidade para desenvolver o trabalho.
Apesar de a realidade ser de dificuldades formativas, de condições de trabalho inadequadas e desvalorização profissional, felizmente ainda existem professores preocupados em (re)significar esse contexto, buscando qualidade e novos caminhos para a área de Educação Física Escolar.
A luz de uma proposta pedagógica a disciplina de Educação Física é portadora de um vasto conhecimento capaz de levar os alunos de todas as faixas etárias a vivenciarem a sua cidadania de forma autônoma. É possível também que a Educação Física “articule criticamente uma concepção que possa ser explorada e transformada pelos alunos, pois irá permitir um ensino capaz de ampliar os argumentos sobre a importância da inserção e integração da Educação Física na cultura corporal” (DARIDO; NETO, 2005, p.61).
Também segundo os PCN’s (1997 b) a disciplina de Educação Física é bastante ampla, pois permite a vivência de diferentes tipos de práticas corporais que fazem parte de diferentes tipos de culturas presentes no cotidiano. Portanto a prática da mesma irá favorecer a autonomia e desenvolvimento dos alunos em sua vida e na sociedade como um todo. Por isso a importância da Educação Física se justifica pela capacidade de formação integral do educando.
No entanto, para que se desenvolva uma formação integral e de qualidade, o professor de Educação Física em suas práticas pedagógicas necessita levar em consideração uma ampla visão de mundo, de homem e de sociedade, para poder ter bem claro que tipo de aluno e sociedade ele quer formar? Também para que sociedade ele está formando o seu aluno (MARQUES et al., 2009)?
Além disso, outro ponto que podemos considerar positivo na Educação Física Escolar, diz respeito ao nível de satisfação que o profissional sente ao desenvolver em suas aulas conteúdo do qual ele gosta, também o bom relacionamento que tem com alunos, pais e colegas, o prazer em trabalhar em diferentes ambientes e não somente fechado em uma sala de aula, o reconhecimento e gosto que os alunos demonstram por suas aulas, bem como o desenvolvimento de diferentes tarefas no ambiente escolar ( ANDREWS apud BOTH; NASCIMENTO, 2009).
Tais aspectos contribuem num bom desenvolvimento da prática pedagógica dos professores, numa boa relação professor-aluno e em conseqüência disso, num bom aproveitamento e aprendizagem dos educandos.
Devido à amplitude desta área, ainda falta um maior consenso sobre o caminho a seguir. Então deixo o seguinte questionamento: quais seriam as alternativas eficazes para melhorar a prática pedagógica, superar os descaminhos e dar um novo sentido a disciplina de Educação Física Escolar?
Referências:
BOTH, J.; NASCIMENTO, J.V. Intervenção profissional na Educação Física Escolar: considerações sobre o trabalho docente. Revista Movimento, Porto Alegre, v.15, n.02, p.169-186, abr./jun, 2009.
BRASIL. PCN – Parâmetros Curriculares Nacionais: Educação Física. Secretaria de Educação Fundamental. Brasília: MEC/ SEF, 1997 b.
DARIDO, S.C.; NETO, L.S. O contexto da Educação Física na escola. In: DARIDO, S.C.; RANGEL, I.C.A. (Coords.). Educação Física na Escola: implicações para a prática pedagógica. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2005.
GHEDIN, E.; ALMEIDA, M.I.; LEITE, Y.U.F. Formação de professores: caminhos e descaminhos da prática. Brasília: Líber Livro Editora, 2008.
LIBÂNEO, J.C. Adeus professor, adeus professora? novas exigências educacionais e profissão docente. 9. ed. São Paulo, Cortez, 2006.
MARQUES M.N. et al. Os desafios da prática pedagógica na Educação Física Escolar para a construção da cidadania. In: CONGRESSO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO POPULAR, IX, 2009, Santa Maria. Anais... Santa Maria: Gráfica Universitária, 2009.
MARQUES, M.N.; KRUG, H.N. Os problemas sentidos no decurso da carreira de professores de Educação Física Escolar e a relação com os momentos de ruptura profissional. In: SIMPÓSIO NACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, XXIX,2009. Pelotas. Anais... Pelotas: ESEF-UFPEL, 2009. p.1-12.
PÉREZ GÓMEZ, A. I. A cultura escolar na sociedade neoliberal. Porto Alegre: ArtMed, 2001.
VASCONCELLOS, C.S. Para onde vai o professor? Resgate do professor como sujeito de transformação. 12. ed. São Paulo: Libertad, 2007.

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