quinta-feira, 3 de novembro de 2011

II CICLO DE ESTUDOS – Temática: Identidade Profissional – Mediador: Leonardo Germano Krüger

DE QUE MANEIRA SE DÁ A PASSAGEM DO “ESTADO DE ALUNO” PARA O “ESTADO DE PROFISSIONAL”?

Leonardo Germano Krüger

O título escolhido para esse texto tem o propósito de ser o objetivo do terceiro tema de discussão, identidade profissional docente. Para tanto, reportei-me para duas pesquisas que desenvolvi com o professor Hugo (especialização e mestrado, respectivamente): 1) Desvelando a atuação profissional em Educação Física através da percepção da trajetória acadêmica; 2) As concepções da formação profissional da licenciatura em Educação Física: trajetórias docentes e suas perspectivas contributivas.

Da mesma forma, para refletir sobre a identidade profissional docente não posso excluir as minhas vivências com pais e alunos dos anos finais do ensino fundamental que me marcam como professor do Sistema de Ensino Municipal de Santa Maria porque há uma inquietação que me deixa “fora de esquadro”. Quase que diariamente recebo a seguinte intimação: - Professor! Vai ter física hoje?

A partir dessa questão, pontuo três aspectos para a discussão da temática: 1) a representação dos pais e alunos sobre Educação Física; 2) a identidade da Educação Física Escolar; 3) a identidade profissional do professor de Educação Física. Começaremos pelo terceiro aspecto, pois acredito que os dois primeiros, entre outros, poderão ser consequência de nossa discussão.

PRIMEIRO MOMENTO: reforço o que já foi comentado nas duas primeiras temáticas, espaços formativos e formação continuada: ser professor não se restringe somente ao ensinar porque a sua atuação vai além do espaço de sala de aula. A capacitação do professor precisa permitir uma atuação consciente em todos os espaços educacionais, além de abranger toda a carreira docente. Nesta linha de raciocínio, Marcelo García (1999) diz que é importante conceber a formação como um processo contínuo, sistemático e organizado que interrelaciona as etapas do ciclo de vida, portanto, há a necessidade desenvolver atividades formativas por todos os níveis da trajetória profissional para ressignificar a aprendizagem docente como um habitus[1].

Acredito que esse habitus perpassa os espaços, lugares e territórios do desenvolvimento profissional docente (DPD), o que para Goodson (1992) envolve um conjunto de valores, sentimentos, teorias e saberes, por exemplo, para compreender o DPD como a interrelação do professor-como-profissional com o professor-como-pessoa. Assim, a compreensão da constituição pessoal-profissional é “o local onde exercemos a profissão e a direção que damos a nossa carreira profissional só podem ser entendidos através de uma compreensão detalhada da vida das pessoas” (GOODSON, 1992, p.74). Todas as vivências repercutem em ações profissionais docentes, por isso o professor é um ser unitário que se constitui não apenas pelo seu percurso na trajetória profissional, mas também pessoal. Assim, a trajetória formativa é construída na interrelação da dimensão pessoal e profissional (ISAÍA, 2003).

Ao considerar o entrelaçamento das fases da vida e da profissão, Ortega y Gasset (1970) referem-se ao transcorrer da trajetória como um tempo histórico e geracional, em que pessoas compartilham durante um conjunto de anos vivenciados, convicções, crenças, valores e maneiras de perceber o que acontece no âmbito da vida pessoal, profissional e institucional.

SEGUNDO MOMENTO: faz-se a seguinte pergunta: para que serve a Educação Física Escolar? Para o futuro professor de Educação Física, ainda em período de Graduação, também se pergunta: qual o sentido de buscar a qualificação da sua formação profissional quer na universidade, quer em outros lugares? Que tipo de formação é esta? (KRÜGER, 2005).

Com relação para que serve a Educação Física Escolar, no estudo de Resende (1995) disseram que serve para muita coisa, mas em geral tem servido para a meninada e a rapaziada se descontrair, jogar, sair daquele marasmo que são as outras aulas. O autor também afirma que se não for obrigatória os alunos não fazem.

Neste sentido, pergunta-se qual é a identidade profissional e onde estão os valores do professor de Educação Física durante a sua prática pedagógica? (KRÜGER, 2005).

De acordo com Nóvoa (2002) a identidade não é um dado adquirido, não é uma propriedade, não é um produto. Segundo Pimenta (2005), a identidade profissional não é um dado imutável, nem externo ao professor, que possa ser adquirida. É um processo de construção do sujeito historicamente situado. A profissão de professor, como as demais, emerge em dado contexto e momento histórico, como resposta as necessidades que estão postas pela sociedade, adquirindo estatuto de legalidade. Essas considerações apontam para o caráter dinâmico da profissão docente como prática social.

ABRE ASPAS: “- Professor! Vai ter ‘física’ hoje?” Acredito que Física e Educação Física são duas áreas de conhecimento distintas, embora a Educação Física faça uso de alguns conceitos da Física, como por exemplo, para estudar conteúdos da biomecânica. Será que ‘física’, na opinião de pais e alunos está relacionado ao ato de fazer ginástica, jogar, repetir exercícios, fazer o que quiser? Se isso se confirmar, posso deduzir que essa é a identidade da Educação Física Escolar, logo, essa é a identidade do professor. De outra forma, Educação Física Escolar sem identidade representa professor sem identidade, e vice-versa?

TERCEIRO MOMENTO: para a continuidade dessa temática é preciso que cada participante apresente o seu entendimento sobre o que é identidade profissional docente. Além disso, é preciso voltar ao título inicial: como se dá a construção da identidade profissional docente? De que maneira ou em que momento se dá a passagem do “estado de aluno” para o “estado de profissional”? Como as pessoas constituem-se em sua profissão, considerando o entrelaçamento entre si mesmo e a sua profissão?

Referências

GOODSON, I.F. Dar voz ao professor: as histórias de vida dos professores e o seu desenvolvimento profissional. In: NÓVOA, A. (Org.). Vidas de professores. 2. ed. Porto: Porto Ed., 1992, p.63-75.

ISAÍA, S.M. de A. Professores de licenciatura: concepções de docência. In: MOROSINI, M.C. (Org.). Enciclopédia de pedagogia universitária. Porto Alegre: FAPERGS/RIES, 2003, p.263-277.

KRÜGER, L.G. Desvelando a atuação profissional em Educação Física através da percepção da trajetória acadêmica. 2005. 55 f. Monografia (Especialização em Pesquisa e Ciência do Movimento Humano) – Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria, 2005.

MARCELO GARCÍA, C. Formação de professores: para uma mudança educativa. Porto: Porto Ed., 1999.

NÓVOA, A. Diz-me como ensina, dir-te-ei que és e vice-versa. In: FAZENDA, I. (Org.). A pesquisa em educação e as transformações do conhecimento. 4.ed. Campinas: Papirus, 2002, p.29-41.

ORTEGA Y GASSET, J. Obras completas. 7. ed. Madrid: Ediciones de la Revista del Occidente, 1970, v.5.

PIMENTA, S.G. Formação de professores: identidade e saberes da docência. In: PIMENTA, S.G. (Org.). Saberes pedagógicos e atividade docente. 4.ed. São Paulo: Cortez, 2005, p.15-34.

RESENDE, H.G. Necessidades da educação motora na escola: pensando a educação motora. Campinas: Papirus, 1995.

TARDIF, M. Saberes docentes e formação profissional. 3. ed. Petrópolis: Vozes, 2003.



[1] Desenvolver o habitus, na opinião de Tardif (2003), permite enfrentar os condicionantes e situações improváveis da profissão. É de caráter formador manifestado através de um “saber-ser” e de um “saber-fazer” pessoais e profissionais no quotidiano da atuação docente.

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